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Quarta-feira, 23/7/2014
André Bazin e a crítica como militância
Humberto Pereira da Silva
+ de 4100 Acessos

A cinefilia, o culto ao cinema como arte, deve muito ao crítico francês André Bazin (1918-1958). Em primeiro lugar, e talvez principalmente, em razão de ele ser o nome mais destacado na criação da revista Cahiers du Cinéma (1951), que se tornou uma espécie de bíblia daqueles que viam o cinema para além de espetáculo produzido pela indústria cultural. Com os Cahiers, entre outros, se impuseram no cenário cinéfilo francês François Truffaut e Jean-Luc Godard, que após a morte prematura de Bazin tomaram a frente e impulsionaram a nouvelle vague, movimento de cinema mais influente nos anos de 1960.

O êxito de Bazin se deve em grande parte ao contexto histórico em que viveu e à sua determinação pessoal de situar o cinema no plano de discussão mais amplo da cultura e da política. Com o fim da Segunda Guerra, uma enxurrada de filmes americanos proibidos nos anos de ocupação nazista foi finalmente vista pelos franceses. Assim é que se vê, por exemplo, cineastas como Orson Welles, Alfred Hitchcock e Howard Hawks.

Esse mesmo momento foi marcado por intensos debates a respeito da filmografia soviética, com seu "realismo socialista", que teve em Georges Sadoul o mais renomado defensor. Para completar, com a libertação, a Itália despontou como a filmografia mais inovadora, e ofereceu as balizas para os novos rumos da arte cinematográfica com o neorrealismo. Entre os cineastas italianos mais representativos da época figuram Roberto Rossellini, Vittorio de Sica, Alberto Lattuada e Giuseppe De Santis.

Sensível aos ventos do tempo, Bazin atrairá para si os temas candentes dos anos pós-guerra, assumirá então um papel de militância cultural no cinema que marcará sua trajetória e se constituirá num dos marcos do período. No bojo de sua iniciativa, a necessidade de se pensar o cinema no âmbito da criação artística, assim como a de cimentar as condições para a realização de filmes franceses em sintonia com o que de mais renovador estava sendo feito naquele tempo.

Com esse horizonte em vista, ele escreve de modo compulsivo, em caráter de urgência, e assim traçará as diretrizes de certa maneira de exercitar a crítica, tanto quanto de abordar e lançar questões teóricas que desafiarão os pósteros e limitarão o alcance de seus antecessores, na mesma medida que porão em xeque seus contemporâneos. Seus escritos mais combativos e elucidativos de seu modo de pensar, contudo - esparsos, publicados em diferentes revistas -, foram coligidos em livro depois que ele morreu.

Assim, foram publicados os volumes I a IV entre 1959 e 1961 sob o título O que é o cinema?, pela Éditions du Cerf. Ao lado de livros que escreveu sobre Orson Welles e Jean Renoir, forma o corpus de sua obra. O que é o cinema?, em reedições posteriores na França, teve artigos da edição original suprimidos, em razão de pendências relativas a direitos autorais. No Brasil foi publicada uma das versões fragmentadas desse livro em 1991, pela Editora Brasiliense. Agora a Cosac&Naify coloca à disposição do leitor pela primeira vez os textos da série original.

O que é o cinema? foi organizado de modo a se ter como ponto de partida as questões de fundo teórico que ocuparam a mente de Bazin, e se encerra com críticas pontuais de filmes no calor da hora. Assim, o artigo de abertura é Ontologia da imagem fotográfica, texto chave no qual, no confronto com a imagem fotográfica, Bazin define o cinema, tendo por base o pensamento do filósofo Henri Bergson, como a imagem das coisas em sua duração. Com essa definição, ele sustenta que o cinema vem a ser a consecução no tempo da objetividade fotográfica, ou seja, o filme não se limita em "conservar o objeto lacrado no instante".

Nos artigos a seguir, trata das relações entre cinema e teatro, cinema e pintura, cinema e literatura com o propósito de enfatizar o que consiste o especificamente fílmico. Assim, de modo sucinto, ele entende que uma adaptação literária bem realizada produz uma obra distinta da que lhe serve de base, em razão dos recursos próprios do cinema, que lhe dão autonomia como forma de expressão artística. Para Bazin, em termos comparativos, a adaptação, por exemplo, de Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, realizada conforme a narrativa clássica de Hollywood por Sam Wood, contém menos da técnica do escritor que Paisá, de Roberto Rossellini.

Igualmente importante no livro é a sequência de artigos em que ele expõe sua visão de cinema com a defesa do realismo da imagem, imune a artifícios de estúdios e aos efeitos da montagem. Por isso, para ele, a relevância do plano-sequência, do travelling, da profundidade de campo em Orson Welles: a montagem, em suas palavras, só pode ser utilizada segundo limites precisos, sob pena de atentar contra a ontologia da fábula cinematográfica.

Em sua defesa acerba do realismo da imagem reside a forte crítica que faz ao expressionismo alemão, notadamente O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, e Os Nibelungos, de Fritz Lang. Para ele, o relativo fracasso estético destes filmes resulta de se tentar substituir o mundo de nossa experiência, cuja identidade com uma realidade verossímil é admitida a priori pelo espectador, por uma natureza fabricada e num cenário artificial. Nesses termos, o expressionismo alemão peca ao subtrair-se ao realismo do cenário sob a influência do teatro e da pintura.

Os artigos finais do livro são dedicados ao cinema italiano. Destes o mais importante para se entender a linha de pensamento de Bazin é O realismo cinematográfico e a escola italiana da libertação. Com perspicácia notável ele expõe em que consiste fundamentalmente aquilo que há de novo no cinema italiano; e elege Paisá como o filme emblemático do que sustenta ser a transposição para a tela da técnica narrativa do que havia de mais inovador na literatura. Sua referência, então, são escritores como William Faulkner, Hemingway e André Malraux.

Passados mais de cinquenta anos, por que ler hoje O que é o cinema? Uma primeira resposta é que sua leitura permite confrontar os temas candentes com que o crítico se deparou com o cinema que se realiza hoje. O que as filmografias recentes trazem que concordam ou entram em choque com as teses principais defendidas por Bazin? Dada a sua influência e ressonância, entendo que quem quer que pense o cinema e exercite a crítica não pode subestimar o que ele escreveu.

Uma segunda resposta possível para a pergunta é que grande parte do trabalho de Bazin consistiu, concomitantemente, na militância cultural no cinema e na atenção ao que havia de mais inovador e revelador das potencialidades do cinema. Hoje pululam em diferentes cantos do mundo - Tailândia, Turquia, Argélia ou Chile - filmografias que trazem novas questões, exigem atenção e que merecem ser devidamente pensadas naquilo que potencialmente revelam.

O espírito dos textos de Bazin, então, deve ser tomado no que sua iniciativa serve de modelo para o que se escreve e pensa hoje. A crítica, em consequência a discussão de filmes, de diretores e de temas que despontam, tem muito a extrair das referências dadas por ele, da maneira pela qual ele situou o cinema no plano mais amplo da cultura e das questões políticas. Nesse sentido, O que é o cinema? é um guia imprescindível, pois estabelece uma tradição de leitura, um clássico, pois, numa arte tão recente como o cinema. Abrir mão de Bazin é assumir o preconceito de que a Bíblia, Homero ou Shakespeare é leitura de carolas.

Para ir além



Humberto Pereira da Silva
São Paulo, 23/7/2014

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