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COLUNAS
Quinta-feira,
15/1/2015
Rugas e rusgas
Elisa Andrade Buzzo
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O que acontece é que isto não se entende verdadeiramente até acontecer com a gente. Pimenta no olho do outro sempre é refresco. Ruga no rosto do outro também. A coisa pega assim que uma olhada mais profunda ao espelho revela os vincos que finalmente deram as caras. Começa assim: de repente, uma fenda temporal se abre, se acorda com um rasgo de vida rente à ela mesma.
Sim, a pele, coisa que nos é tão cara, vive de se dobrar toda em suas partes, disformando, formando sulcos, vincos finíssimos e outros nem tanto, de tanto que vivemos ao sol e nos expressamos frente aos arrebatamentos, eles vão se tecendo aos poucos, de início quase que imperceptíveis. As grandes dores podem causar rugas profundas, vales vivíssimos no centro da testa. As alegrias e os desânimos também vão trabalhando no surgimento do temível bigode chinês.
Com o aparecimento de dois sulcos na testa, achei que era hora de me mexer antes que algo pior acontecesse ou, melhor dizendo, surgisse. Pois a ingenuidade de brecar o envelhecimento também me acometeu. É quase como um impulso involuntário em favor da vida, de repulsa ao desconhecido, que com o tempo vai se amainando. Surgiram mais duas marcas e parece que forçadamente já aprendo a conviver com as linhas de expressão, sim, as linhas, cuja possibilidade de escrever algo nelas enfim me anima. De todo modo, resolvi investigar mais a fundo os cremes anti-idade, coisa que soava distante. Todo um mundo de possibilidades se abriu diante dessa fenda temporal.
A dermatologista, com a pele impecavelmente revestida de não sei qual tipo de porcelana, não mexeu um músculo sequer da face ante o comedimento de meu desespero. Prescreveu alguns cremes para rugas mais profundas. E mais nada sugeriu. Aí começou o martírio dos cremes caros e raros, pois ainda que não façam milagres, não devem se medir esforços nessa empresa dermatológica. Em termos de pele, órgão gigantesco que nos põe diretamente em contato com o mundo, tudo parece valer a pena.
Eles amenizam rugas e sulcos, melhoram o aspecto geral da pele, iluminam, preenchem... Ao menos é o que dizem rótulos de creme, estandarte da hidratação, esperançoso elixir das flores murchas. E, principalmente, deve ajudar a desfazermos as rusgas com as velhas ou recém companheiras. Ou melhor, a aceitar e amar a passagem do tempo sentida na flor da pele, pois não se reescreve esta história própria, incontrolável história.
Elisa Andrade Buzzo
Vinhedo,
15/1/2015
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