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Segunda-feira, 23/2/2015
Saia curta, liberdade longa.
Adriane Pasa
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Duas moças vendo uma vitrine em Toronto, Canadá, 1937. (Alexandra Studios)

Em maio de 2014 eu estive em Vancouver, no Canadá, passando férias. Era começo da primavera e ainda estava um pouco frio, mas o que me chamou a atenção foi o comprimento das saias e shorts de algumas moças, que andavam tranquilamente pelas ruas com suas pernas brancas de fora (quem sou eu pra falar de pernas brancas...). Comecei a prestar atenção nisso e reparei que os homens não mexiam com nenhuma mulher, por mais curta que fosse a saia. E olha que algumas chegavam a mostrar um pedacinho da bunda. As adolescentes então andavam quase peladas, mesmo no frio. Fiquei imaginando como deveria ser no verão.

Depois de uns dias, com olhar mais apurado, reparei que os homens não só não mexiam como nem sequer olhavam. Os pescoços continuavam no lugar e cada um seguia seu rumo, tranquilamente. Na verdade, lá ninguém está nem aí com o outro, acho que podem andar com uma melancia na cabeça que ninguém liga. Meu marido estava estarrecido. Ele também nunca tinha visto coisa parecida. Fiquei "cuidando" dele porque virava o pescoço em vários momentos pois as saias eram realmente curtíssimas. Eu fiquei com medo de alguma mulher se sentir invadida e chamar a polícia. Eu também olhei, mas qualquer coisa eu podia alegar que estava admirando a roupa (eu adoro moda rsrs). A gente estava mesmo perplexo com a atitude dos homens, isso chamou a nossa atenção mais que qualquer perna de fora. Pelo menos a minha.

Lá as pessoas parecem até meio assexuadas se comparadas aos brasileiros. Mas não são, obviamente. São assim porque existem leis que protegem as mulheres desde sempre. E todo mundo sabe que leis mexem com culturas e hábitos das pessoas, influenciando suas atitudes. Eu já tinha ouvido falar sobre isso, tinha visto vídeos e lido coisas em vários blogs, tenho uma grande amiga que mora em Toronto e ela também havia comentado comigo a respeito, mas uma coisa é saber e outra é ver com os próprios olhos.

Eu não tinha levado nenhuma saia curta porque estava frio pra burro, equivalente ao começo do inverno em Curitiba, cidade onde moro. Mas devia ter levado e experimentado a sensação de liberdade que é andar por aí pelas ruas sem olhares engraçadinhos, assovios, carros que andam devagar ao teu lado parecendo ter um serial killer dentro, palavras chulas e por aí vai. Curitiba é muito ruim neste aspecto. Além de aturar os caras sem noção (não é à toa que chamam essa cidade de "Rússia Brasileira"), se a gente sai de saia curta ou qualquer roupa mais justa ou decotada, tem que aguentar também os olhares reprovadores das senhorinhas conservadoras de plantão ou das esposas ciumentas. Eu costumo dizer que sair de minissaia aqui em Curitiba é como cometer um crime. Quem mora aqui e é mulher sabe do que eu estou falando. Em lugares quentes a liberdade é maior. Mas aqui, onde a gente consegue usar minissaia umas três vezes por ano e é uma cidade ultraconservadora, é um ato de coragem.

Já ouvi todo tipo de besteiras em relação a este assunto. Como por exemplo, "ah, mas que graça tem morar num lugar como o Canadá, onde não mexem com você e nem te olham?", pois eu respondo: toda a graça do planeta. Não existe nada mais sensacional para uma mulher (e para qualquer pessoa) poder ir e vir sem ser invadida, sem ter que aturar desrespeito e sem ficar com medo. Por que dá medo. As pessoas precisam entender isso. Viver num lugar onde parte da população acha que os estupros acontecem porque as mulheres "provocam" usando roupas "ousadas" é muito perigoso. Outra bobagem é quando falam "ah, mas se for um homem bonito a mulher não acha ruim...". É claro que incomoda, porque o critério não é esse. A beleza não está acima do respeito. E tudo depende do contexto. Uma coisa é andar nas ruas e ser assediada, outra é estar na balada ou em algum lugar de paquera onde existe o desejo de ser notada. É claro que se uma mulher solteira vai a um lugar para paquerar e ninguém a nota, pode ser uma frustração. Mas ela quer isso, é diferente. E pra bom entendedor, um olhar de uma mulher basta pra saber o que ela quer ou não.

Mas voltando à Vancouver, com um olhar atento, observei a atitude das mulheres em relação a este assunto, no seu comportamento corporal. É totalmente diferente do nosso. Não existe gente puxando a saia pra baixo pra disfarçar, como quem quer "corrigir" um erro, não existe subir uma escada rolante e ficar cuidando de quem está atrás, não existe aquele olhar sempre em alerta que temos que ter por aqui, pensando que um dia ou outro teremos que usar nossos golpes de Muay Thai (aliás, é uma boa ideia fazer aulas de defesa pessoal).

Enfim, é uma liberdade absurdamente deliciosa. E se alguém olha, olha discretamente e segue seu rumo, sem extrapolar nenhum limite. Eu fiquei com inveja das mulheres de lá, nesse aspecto. Pensei como seria bom se pudéssemos sair na rua com qualquer roupa que fosse, sem sermos invadidas por olhares, palavras ou até fisicamente. Óbvio que em todo lugar do mundo mulher sempre tem que se cuidar, principalmente à noite. Lá também tem estupradores e psicopatas. A diferença é que os crimes são raros e quando existem, a polícia age na hora. E a população também. Todo mundo ajuda a "caçar" o bandido, informando e espalhando os retratos falados.

Tem uma "regra" social no Canadá que é sempre manter um braço de distância da outra pessoa estranha ou colegas de trabalho. A gente anda nos ônibus e metrôs e consegue ver isso claramente. Tudo bem que lá tem bem menos gente e se fizéssemos isso no transporte público aqui teríamos que ter o triplo da frota. Mas sem comparação direta, analisando esta atitude simples, é algo muito genial. Eu, como Curitibana que sou, adorei a ideia. Não há nada mais incômodo que gente te encostando ou querendo forçar uma intimidade que não existe. Ou aqueles colegas de trabalho que cumprimentam com ~beijinho~? Qual a necessidade disso, minha gente?? É chato qualquer tipo de invasão, qualquer tipo de coisa que não pedimos ou dissemos "ok, pode fazer". Isso é uma regra da vida.

Torço muito para que um dia a gente chegue nesse patamar de respeito às mulheres e a todos os cidadãos e que as leis aqui sejam mais severas. Sei que o ser humano tem seu lado primitivo e isso nunca vai mudar, mas cada lugar pode dar uma ajudinha pra cultura evoluir. Afinal, acho que a gente está aqui nesse mundo pra isso, pra deixar de ser ogro. Também sei que roupas como a minissaia mexem muito com o imaginário masculino, o que é normal. Mas imaginação nunca foi algo proibido, além de não prejudicar ninguém. Acho que os canadenses imaginam coisas como qualquer ser humano normal, mas ninguém precisa saber o que está na mente deles, certo? Sempre que toco nesses assuntos de comparação com países de primeiro mundo, eu penso em tudo o que a gente deixaria de se preocupar e o que mudaria na vida prática do nosso cotidiano. É muita coisa que muda. É muito espaço que sobra no nosso "HD" pra pensar em coisas boas. É muita toxina de estresse que a gente deixaria de ter. É muito tempo economizado fazendo coisas bacanas, é muito lugar bonito que a gente poderia conhecer na cidade sem precisar ter um segurança por perto. É muita minissaia que poderíamos usar, a hora em que quiséssemos, de todos os tecidos, tamanhos e cores, sendo o que nós deveríamos ser desde que nascemos: livres.

A minissaia chegou no começo dos anos 60, tendo sua invenção atribuída à britânica Mary Quant, embora alguns mencionam também o francês André Courrèges. Veio como uma forma de rebeldia, de reivindicar o direito à sensualidade e questionar o que a sociedade impunha às mulheres como "decência". Depois foi adotada pelo estilista Yves Saint-Laurent e também Pierre Cardin, que usaram modelos ainda mais curtos. Combinados com sapatos de salto alto ou botas, causaram frisson. Pernas de fora pelo jeito sempre vão "causar" por aqui. Tomara que um dia a gente possa sapatear de minissaia na cara dessa sociedade. Sem sofrer assédio, claro.

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Adriane Pasa
Curitiba, 23/2/2015

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