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Terça-feira,
28/4/2015
Almoços com C.S. Lewis
Celso A. Uequed Pitol
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Quem abre "Conversando com C.S. Lewis" (editora Pórtico, tradução de Sandra Martha Dolinsky) pensando que irá encontrar, como o título sugere, uma longa entrevista com o autor de "Crônicas de Nárnia" sairá decepcionado: nas 223 páginas que compõem o volume, a voz de Lewis aparece poucas vezes e sempre entre aspas, em trechos cuidadosamente escolhidos pelo autor, Alistar McGrath, professor de teologia em Cambridge.
E digo decepcionado em mais de um sentido. Em geral, quem procura obras compostas por longas entrevistas com um autor, artista ou cineasta é o aficcionado ou admirador de longa data, em busca de novidades de sua vida pessoal ou da elaboração dos livros, obras de arte ou filmes que só podem sair de sua boca após serem devidamente provocadas por um repórter inteligente. Não são livros, portanto, de introdução. E, no entanto, "Conversando com C..S Lewis" é um livro para introduzir o leitor à obra de Lewis. Não seria, em tese, livro para iniciados.
Voltaremos a este ponto mais à frente. Antes disso, importa perguntar: porque, então, fala-se em "conversa" com C.S. Lewis? Na introdução, McGrath afirma que pretende organizar oito "almoços" imaginários, cada um com um tema específico, onde C.S. Lewis "aparece" através de trechos de suas obras. O objetivo é, segundo o autor, "oferecer resumos precisos das ideias de Lewis, temperados com algumas de suas melhores frases e citações , para esboçar aos leitores sua maneira de pensar. Vamos explorar suas ideias, ver como podem funcionar e descobrir como podemos usá-las". Ou seja, importa não apenas a obra ficcional e ensaística de Lewis, mas o uso prático de suas ideias na condução da vida das pessoas.
Assim, nos oito "almoços" organizados por McGrath sobressai-se um tom cristão - o que é de se esperar, tendo em vista que, além de professor, é sacerdote da Igreja Anglicana. Quanto C.S. Lewis, embora seja mais conhecido por ter escrito "Crônicas de Nárnia", foi um dos maiores apologistas cristãos do mundo de língua inglesa no século XX, comparável somente a G.K. Chesterton (de quem era, aliás, admirador) e autor de livros como "Cristianismo Puro e Simples" e "Reflexões sobre os Salmos", de vasta circulação entre cristãos de todas as denominações.
McGrath conduz os "almoços" com um tom de aula informal muito habilmente mantido em toda a obra, mesmo nos momentos em que aborda questões conceituais mais complexas. Esta aula, como vimos, é dirigida aos iniciantes, não aos iniciados. Quanto a estes, encontrarão interesse nos momentos em que o autor lança luz sobre pontos importantes da vida do Lewis, como a formação dos Inklings (grupo de intelectuais britânicos com particular afeição pelas tradições inglesas e nórdicas), as circunstâncias em que se deu a sua conversão ao cristianismo e a amizade com J.R.R Tolkien, a quem - descobrimos com a leitura - ele propôs para o Nobel de Literatura de 1961. No fim, o livro ainda traz um enriquecedor apêndice com uma biografia de Lewis e uma lista de indicações de leitura sobre cada um dos temas abordados nestes "almoços" muito bem servidos.
Celso A. Uequed Pitol
Canoas,
28/4/2015
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