COLUNAS
Terça-feira,
5/5/2015
O sublime Ballet de Londrina
Jardel Dias Cavalcanti
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Mais uma vez o Ballet de Londrina nos surpreende. Agora com a apresentação da coreografia "Sem Eira Nem Beira", criada por Leonardo Ramos e Marciano Bolleti. Não há como não louvar o resultado dessa parceria, como também a trajetória do Ballet de Londrina.
Pode-se dizer seguramente que estamos diante de um grupo de dança que deve ser admirado, cuidado e preservado como um dos mais importantes patrimônios da cultura de Londrina, do Paraná e, porque não, do Brasil. A seriedade e o envolvimento de cada bailarino da Companhia e o resultado sempre surpreendente de cada um dos seus projetos, sob a direção impecável de Leonardo Ramos, merece nossos aplausos, sempre de pé.
A atual coreografia se baseia na memória cultural de Leonardo Ramos, nascido em Olinda, Pernambuco, de onde resgata o espírito da cultura popular do Nordeste a partir de suas lembranças e vivências. Mas não espere encontrar em "Sem Eira Nem Beira" uma representação folclórica dessa cultura, estereotipada e pasteurizada para turista ver. O que acontece é o contrário, a força da cultura nordestina (e seus laços com a cultura erudita clássica e medieval) passa pelo crivo dos corpos dos bailarinos treinados na dança clássica e moderna, que aproveitam a força de uma cultura autêntica para injetar na coreografia um campo de experimentações novas.
A música do Quinteto Armorial, escolhida para a coreografia, não poderia ser melhor, pois eles realizaram a síntese entre a música de câmara erudita e as tradições populares do nordeste. Projeto semelhante ao que buscou a coreografia de Ramos e Boletti.
E é surpreendente como essa música alimentou os movimentos dos bailarinos, potencializando sua expressão e criando a alegria que vence as intempéries da existência. Mesmo os momentos melancólicos - que poderiam gerar a paralisia do pessimismo - são também momentos de grande ternura, quando abraços amáveis tomam conta de todos os dançarinos.
Há momentos na coreografia de uma plasticidade e força inacreditáveis. Um deles é quando o bailarino Marciano Boletti gira com sua saia azul no centro de todo o grupo do Ballet, como um Dervixe que controla toda a energia do cosmos, fazendo com que os bailarinos, como estrelas do universo, girem ao seu redor, guiados pela força gravitacional gerada por Marciano.
A emoção experimentada pelo público é gerada pelo casamento perfeito entre música e expressão corporal, ou mais que isso, pela delicada e, por vezes forte, coreografia desenhada por Ramos e Boletti para os corpos que alçam voo, como que desejando o sublime, ou se arrastam pelo chão, sulcando a força da terra mãe.
A qualidade dos bailarinos é notável. Abertos à experimentação, renovam a linguagem do Ballet de Londrina a cada nova coreografia. Seus corpos têm força, agilidade, delicadeza e alegria. Têm erotismo e uma plasticidade sublime, estão prontos, por isso, para incorporar as dores e êxtases da existência. Estão prontos para oferecer ao público o resultado sincero da sua experiência, do seu trabalho sério, que resulta naquilo que chamamos de grande Arte.
PARA IR ALÉM:
Visite o site: http://www.balletdelondrina.art.br/
Jardel Dias Cavalcanti
Londrina,
5/5/2015
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