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COLUNAS
Quarta-feira,
20/5/2015
Abominável Mundo Novo
Marilia Mota Silva
+ de 3500 Acessos
O governo tem direito de monitorar seus telefonemas? Tem o direito de ler seus emails, olhar as fotos que você envia? Tem o direito de saber o que você lê ou pesquisa na internet? Sim ou não?
Hoje o governo americano sabe para quem você liga, quantas vezes, quanto tempo dura cada chamada. Ele pode ler seus emails e seguir sua trilha na internet. Ele pode tê-lo sob vigilância plena, mesmo que você não seja suspeito de coisa nenhuma.
O "Patriot Act", urdido em consequência do ataque às torres gêmeas, o autoriza a fazer isso. E por causa da falta de transparência, não é possível saber que informações eles estão coletando nem quantas pessoas são atingidas.
Assim, em forma de perguntas e respostas, o browser Mozilla propõe uma campanha (aqui) contra a vigilância massiva do governo sobre a população.
"O governo pode monitorar seus telefonemas mesmo você não estando sob investigação?" perguntam.
Muita gente diz que não se importa porque não faz nada de errado, e se isso contribui para que governo possa prevenir atividades criminosas, então é válido.
Outros se preocupam. Quando o governo se arroga o direito de violar a correspondência e invadir o pensamento - que o surfing na internet revela - de todos e qualquer um, dentro e fora de suas fronteiras, através de sistemas anônimos e secretos, algumas pessoas se perguntam aonde isso vai nos levar? E não se trata apenas dos Estados Unidos. Outros países tem serviços de inteligência tão ou mais bem equipados e abrangentes que os americanos. Afinal, quem detém a informação detém o poder.
Há algum tempo, nesse lado do mundo pelo menos, a liberdade era inegociável. Quanto se lutou por ela! Hoje não sabemos se, ou o quanto, ela está ameaçada. Se, por exemplo, meio mundo assinasse a petição do Mozilla, o processo de vigilância recuaria? Poderiam dizer que sim ou não, e nunca saberíamos. O sistema funciona em esferas inalcançáveis para o cidadão comum, e apenas por acaso atentamos para elas, graças a figuras como Assange e Snowden e episódios como os que envolveram Dilma e Angela Merkel.
Pertencemos a um sistema cada vez mais integrado. Um número nos identifica, CPF ou seu equivalente em outros países. Sem esse número, estamos fora dos sistema, somos marginais, impedidos de qualquer atividade. Com esse número ligado a outros de que dependemos (celular, cartão de crédito), cada passo que damos pode ser rastreado. Nunca foi tão fácil ter pleno controle sobre a população. Com exceção dos que estão no topo da pirâmide, que vivem sob ares diferentes, como tem sido sempre, desde a reverenciada democracia grega até hoje, não importa o lugar nem o regime político/econômico. Mas essa é outra história.
E afinal, temos liberdade! Carro e combustível pra ir onde quisermos, e ainda podemos protestar, dizer o que pensamos. Somos gratos por isso! Poderia ser muito pior, e é, em boa parte do mundo.
Mal percebemos nossa coleira, cada vez mais curta.
Marilia Mota Silva
Arlington, VA,
20/5/2015
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