Esboços de uma biografia precoce não autorizada | Cassionei Niches Petry | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 2/8/1979
Esboços de uma biografia precoce não autorizada
Cassionei Niches Petry
+ de 3100 Acessos

Tentei escrever a biografia do escritor Cassionei Niches Petry, porém não obtive sua autorização. De qualquer forma, dada a sua irrelevância no contexto literário brasileiro, resolvi tocar o projeto e encarar um processo que, certamente, não será levado adiante. A decisão do STF sobre as biografias acabou me ajudando, no entanto. Sorte a minha (ou azar, diriam os detratores do autor de "Os óculos de Paula", romance tão desconhecido como o próprio escritor).

O que segue são esboços da biografia de Cassionei Niches Petry, que será publicada só depois de sua morte que, presumo, será daqui a uns 20 anos, pois, de acordo com a revelação de um numerólogo feita ao então inocente aluno de Ensino Médio, depois dos 50 haveria uma reviravolta muito grande na sua vida. O vidente o aconselhou a ler Og Mandino. Como sei que o Cassionei jamais lerá este autor, e a julgar pela sua dedicação ao estudo do suicídio, dos 55 anos ele não passará.

Cassionei Niches Petry não poderia ter nascido em outro mês: agosto. Nasceu para causar desgosto aos outros. Pelo menos depois de certa idade. Causou desgosto a sua família ao se declarar ateu. Causou desgosto a si mesmo por ter escolhido a profissão de professor. Causou desgosto aos leitores por não escrever coisas bonitinhas e edificantes. Causou desgosto a este biógrafo por não autorizar sua biografia. O ano era 1979 e seus pais moravam no porão de um CTG (sigla para Centro de Tradições Gaúchas), em Santa Cruz do Sul, RS. O chão de terra da moradia improvisada obrigava o bebê a ficar numa poltrona ou num balanço. Como era quieto, não incomodava sua mãe. Era um doce de criança, diziam os inocentes, desconhecendo ainda o monstro que estavam criando. Seu pai fora patrão no CTG e sua mãe primeira-prenda. Poucos anos depois deixaram o tradicionalismo e o futuro escritor escapou de se tornar um seguidor dessa ficção criada no Rio Grande do Sul.

Há poucas informações destes primeiros anos de vida. As pessoas que entrevistei diziam apenas que o Cássio, como o chamavam, era um guri como outro qualquer. Assistia a desenhos, jogava bola, "clica", brincava de carrinho, andava de bicicleta (que lhe provocou uma segunda cicatriz. A primeira fora resultado de uma tentativa de pegar algo numa churrasqueira de latão em plena atividade.), jogava pedra em casa de marimbondo (que lhe causou a terceira cicatriz), etc. A primeira cicatriz interna, que o transformou em leitor e escritor, aconteceu em 1986.

Não lembra como, mas aprendeu sozinho as letras do alfabeto. Assistindo à propaganda eleitoral na TV, juntava as letras dos nomes dos candidatos e os cargos a que almejavam e aprendeu a ler sozinho também. Como as legendas passavam muito rapidamente, não conseguia ler tudo, o que o irritava, mas o forçou a desenvolver a velocidade na leitura. Logo passou para a embalagem das balas que adoçava o chimarrão dos avós e depois devorou os gibis daquela que parecia ser uma enorme coleção do seus tios. Quando começou a frequentar a escola, surpreendeu sua professora ao ler um texto de um desenho que ela mostrou para os alunos. Depois disso, quando o futuro escritor terminava as lições antes dos colegas e os incomodava (a partir daí seu destino foi incomodar os outros), ela o mandava para a biblioteca, lugar mágico, mas poeirento e quase abandonado, onde conheceu Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Sérgio Caparelli e outros autores. Prazer! O prazer é todo meu!

As bibliotecas escolares o levaram a Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, da coleção "Para gostar de ler". Conheceu "O mistério do cinco estrelas", do Marcos Rey, e outras obras da coleção "Vaga-lume". Leu "As viagens de Gulliver" e "A ilha do tesouro". Leu Machado de Assis e José de Alencar. Uma leitura foi levando à outra, pois gostava de ler as entrevistas em que os escritores citavam outros escritores. A rede foi se estendendo e a vontade de escrever também.

Veio a adolescência e com ela os amigos, as gurias, as festas, as músicas, a bebida, o cigarro e outras coisas que não vem ao caso. Queria ser cantor, DJ, MC. Escreveu letras de Rap, formou bandas e gravou músicas. Participou de escolas de samba e rádio comunitária. Nunca deixou, porém, a literatura. Apenas diminuiu o ritmo. Quando conheceu a namorada que viria a ser sua esposa e mãe de sua filha, voltou a se dedicar à leitura e à escrita.

Passou a colaborar com jornais da sua cidade. Levava ao editor suas crônicas, inspiradas em Sabino e Drummond, escritas à mão em folhas de cadernos escolares. Trabalhava como auxiliar na marcenaria do seu pai e depois, por 7 anos, foi subgerente de um motel, o que lhe rendeu algumas histórias. Quando teve que decidir o que escolher no vestibular, ficou divido entre o Jornalismo e Letras. Como no primeiro curso as aulas eram apenas diurnas, optou pelo segundo, para poder viver das letras, para poder ler, para poder escrever.

A teoria e a carga de leitura da universidade foi outro divisor na sua vida de escritor. Conheceu profundamente a literatura de língua espanhola. Mergulhou na obra de Autran Dourado para o seu TCC. Viu um texto seu publicado pela primeira vez em livro, numa coletânea de crônicas sobre a universidade.

Apesar das dificuldades financeiras da família, já com filha, casa para pagar e contas para saldar, além da demissão do emprego do motel, conseguiu se formar. Ainda trabalhou como entregador de documentos numa firma de remessas expressas antes de ingressar no magistério, em que ainda penou indo trabalhar em uma cidade vizinha.

Já estabelecido na sua cidade, a vida melhorou. Com uma biblioteca própria e lugar para escrever, com computador e internet em casa, cresceu sua produção no jornal, tornando-se inclusive colunista. Criou um blog, inicialmente denominado "Porém, ah, porém" e que hoje se chama "Cassionei lê e escreve" (nome nada criativo na minha opinião), que já completou 10 anos. Resenhas, crônicas e aforismos se reproduziram aos montes, em proporção inversa ao número de visitas e comentários. Colaborou com outros sites. Participou de documentário sobre ateísmo e de coletâneas de contos. Tornou-se (pouco) conhecido no meio virtual.

Em 2011, ingressou no mestrado em Letras e começou a estudar o suicídio na literatura. Em 2012, em parceria com uma pequena editora sob demanda, publicou seu primeiro livro, "Arranhões e outras feridas". O lançamento mostrou pela primeira vez que seu nome não tinha relevância nenhuma na cidade, apesar de ser colunista de literatura do maior jornal da região. Nesse ano, também deu início ao romance "Os óculos de Paula", que se originou de um dos contos de "Arranhões". Seu processo de elaboração resultou em notas teóricas e conformou a dissertação do mestrado, concluído em 2013. O romance foi publicado um ano depois, em parceria com outra pequena editora e também foi recebido com indiferença pelos santa-cruzenses. Suas opiniões fortes o levaram a ser chamado de arrogante, adjetivo que resolveu assumir ao declarar: "arrogo a mim o direito de ser arrogante".

Fracassos editoriais, pouca repercussão de seus textos, indiferença de seus conterrâneos a seu trabalho e "otras cositas más" o levaram a se refugiar numa chácara e escrever textos através de um pseudônimo, que logo foi deixado de lado, como vários outros projetos anteriores. Causa surpresa que um site como o Digestivo Cultural o convide para ser colunista e mais surpresa ainda o fato de ele ter aceitado. Este biógrafo espera que agora sim seu nome passe a ser mais conhecido e que o editor do Digestivo não se arrependa do convite. O escritor ainda é uma aposta, por isso que ainda me dedico a escrever sobre ele. Sou um dos poucos, talvez o único, que ainda acredita no seu potencial. Veremos o que ainda vai sair de suas teclas.

A quem chegou até aqui, meus parabéns. A quem não chegou também parabenizo, por ter a sensatez de optar por coisa melhor para fazer.

Júlio Nogueira


Cassionei Niches Petry
Santa Cruz do Sul, 2/8/1979

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01. Glauber e o Golpe: da esperança ao desencanto de Lucas Rodrigues Pires


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