Fake-Fuck-Fotos do Face | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 18/8/2015
Fake-Fuck-Fotos do Face
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 7800 Acessos


Quem nunca postou uma foto ridícula no Face, que atire a primeira pedra. O problema é que o ridículo se generalizou. A grande maioria das fotos postadas no Face ou é de um extremo mal gosto ou é de um narcisismo canhestro. Exemplos não faltam e vamos citar alguns abaixo.

Para entender esse "espírito do tempo", que não passa de um mar doentio de imagens vazias, essa "névoa de nadas" onde "tudo é feito (fake) para acabar em Facebook", só mesmo sociólogos, psicanalistas e filósofos dispostos a colocar o pé na lama.

Que a vida se tornou uma mentirinha para ser postada no facebook todo mundo já sabe. Alguns parecem não saber e transformaram sua vida (?) em nada mais, nada menos, que um conjunto de imagens do próprio rosto, sempre com aquele risinho de plástico. O que importa é entender em que pé anda a comunidade humana a partir dessa perspectiva foto-fake-autofágica.

Pensadores sempre se preocuparam em entender o homem e sua relação com a sociedade e consigo mesmo. Vasculharam a intimidade registrada em cartas, diários, fotos, passando anos em arquivos em busca de algum documento que revelasse a "psicologia" de uma cultura. Agora, o esforço é menor, pois têm à disposição um oceano de imagens (e palavras) criadas e exibidas despudoradamente por usuários do Face, ansiosos por se mostrar em suas prosaicas atividades cotidianas. Esforço menor em parte, pois quando antes o que escondiam (os diários) revelavam o que era a "verdade" de uma pessoa, agora, o que é aparentemente transparente esconde sorrateiramente essa mesma "verdade".

Há vários tipos de fotos em que as pessoas geralmente aparecem no Face: autorretrato na intimidade, em viagens, em grupos diversos, em situações prosaicas diversas (acompanhadas ou sós). Essas fotos variam muito dentro de cada grupo. Vamos citando exemplos e essa "fauna" vai surgindo aos poucos.

Não podemos esquecer que essas fotos representam "modos de aparição", que pretende fazer a pessoa PARECER, de alguma forma, "especial" para os outros, ou, num exercício de autoengano, se iludir acerca de si mesma ao achar que a bobagem que postou é algo "especial" - típico comportamento da sociedade narcisista, vulgar e inútil, como diagnosticou Richard Sennet, em seu livro "Narcisismo e cultura moderna".

Antes, era em função de uma virtude que as pessoas se apresentavam publicamente, agora é na total falta de qualquer virtude que a pessoa quer se exibir como "especial". Ou seja, ela mente para si mesma e para os outros. Do "império das meias verdades" as fake-fotos das redes sociais passaram a se constituir como o império da mentira absoluta - sem pudor algum - graças à inutilidade de cada pessoa se representando para os outros que admiram essa mentira e são admirados por mentirem também.

Vamos aos exemplos. Citarei alguns, ao menos os que me chamam a atenção. Cada crítico deve ter sua coleção de "imagens vazias" que teve que ver no Face.

Uma das coleções de fotos que me surpreendeu por seu narcisismo foi de uma pessoa, uma jovem estudante de arquitetura, de aproximadamente 23 anos, que viajou por toda a Europa, como um presente da família. Por todos os países que passava, ela registrava seu rosto, que tomava todo o centro da foto (80 por cento, ao menos), e, discretamente/minusculamente, ao fundo, se via alguma identificação da cidade ou país em que ela estava, através da aparição de um monumento turístico (a Torre Eiffel, por exemplo).

Sendo uma aluna de arquitetura, querendo exibir para os amigos suas viagens, o mínimo que se esperava é que ela mostrasse a cultura que seus olhos privilegiados estavam vendo, os hábitos das pessoas de outro país, a diversidade da natureza, das ruas, a arquitetura, a cultura desse país. Não! O que suas fotos revelavam era apenas o seu enorme rosto quase escondendo belíssimas cidades, que se perdiam na neblina do nada daquelas fotos. O que se exibia não era "o que eu vi, experimentei, senti, o quanto me transformei diante de uma outra civilização", mas apenas o "como sou bonitinha", tendo atrás de mim, ainda, por micro-cenário desprezível, Paris, Berlim ou Veneza. Ou seja, seus amigos, espectadores invejosos de sua viagem ao redor do mundo, curiosos por ver como são as tão faladas cidades da arte, não puderam ver nada além daquele rostinho, que vêm todo dia, com uma espécie de riso de boneca inflável estampado na quase totalidade das fotos.

Há fotos de outra natureza. As mais irritantes, por sua falsidade gritante, e que chama a atenção, é a eterna felicidade de todos nas fotos. Todos sempre rindo, felizes 356 dias do ano. Meu deus! Ninguém sofre nesse planeta? Nem quando um carro bomba explode com crianças do outro lado do mundo? Nem ao saber que quase tudo nesse país está aos pedaços? Até em situações dramáticas como quando as pessoas são abandonadas pelo seu amor, lá está, a maldita foto risonha vendendo a mentira da felicidade fake. E o risinho treinado, irritante, se exibe... despudoradamente falso.

Uma amiga virtual (nunca a vi pessoalmente) me perguntou se tenho problemas dentários, se me falta um dente ou coisa parecida. - Por que? Perguntei a ela. Sua resposta foi: - "porque nunca vi uma foto sua rindo".


Há fotos que vão se constituindo como uma narrativa do ridículo dessas vidas vazias. Vamos à historieta. Em primeiro lugar, uma festa de "luxo" de um casamento qualquer. Em seguida, o cotidiano do mesmo casal que vai se revelando no seu dia a dia inútil. A contraposição da pose de rainha na foto do dia do casamento à foto de dona de casa que serve a cervejinha barata ao maridão desajeitado, num copo medonho, torna tudo "pequeno". Mas, ah! para eles essa "vidinha" é tão nobre quanto a de Luiz XIV, o Rei Sol. Tão nobre que deve ser exibida para as nossas retinas tão cansadas de bobagens. O que era "álbum de família", agora é matéria do cotidiano de todos. Arghhh!!!

Quem nunca vomitou vendo um álbum de casamento, de formatura ou aniversário que atire a primeira dinamite. Só sendo da família, e olhe lá, para aguentar essas fotos! Esse narcisismo, que atribui sentido em se publicar (tornar público) o nada, é que constitui a farsa social mais demoníaca que estamos vivendo no Face. Como estamos no mundo em que "os idiotas venceram", todos curtem e exigem que suas vidas prosaicas sejam curtidas no círculo infernal e sem fim do espelho narcísico.

Qual a moda? Ter gato, ir à academia? Lá se vão milhares de fotos intragáveis do meu rosto junto ao do gato, do cachorro, do pato, da vaca e do elefante! Isso quando não se exibe também, e a todo momento, o gato comendo, o gato sobre o sofá, o gato sobre a cama, o gato sobre a gata (ah, isso não pode!). Está na academia? Ah! Que momento triunfante! Todos têm que ver essa merda! Uma garota, aliás, postou-se vestida nas 30 peças de roupa de ginástica que comprou, uma para cada dia do mês na academia (afinal, mulher não repete roupa). Cada calça (do tipo levanta cacete até de defunto), em suas cores umas mais berrantes que a outra, exibidas no seu corpinho malhado, como exige a moda dos corpos dóceis (leia Foucault!). Meu Deus! Que valor tem isso para a comunidade humana? Nenhum, apenas prova o narcisismo vazio das vidas que encontramos por aí. Se ao menos você se postasse tocando um concerto de violão de Villa-Lobos! Ah! Isso sim, nos levaria a uma existência sublime! (Quanto à sua calça apertada, renderia no máximo uma masturbação de alguém entediado).

Há retratos fake-face de apelo social. Afinal, até aqui temos que ser narcisistas. Como as pessoas que viajam aos países pobres (mais pobres que o Brasil!) e se fotografam (rosto contra rosto) ao lado de um menino negro, sujo, desconsolado... e o bom samaritano, ele ou ela, com aquela calça limpa, macia, da Fórum e com seu caríssimo tênis Nike brilhante! Mas lá está a foto, mostrando sua humanidade de 15 segundos! Não foi Jesus quem disse que "se fizer uma bondade, que sua mão esquerda não saiba que a mão direita doou"?

E os churrascos? Quanta alegria em representar as cenas fellinianas (você sabe quem foi Fellini?) da felicidade de fim de semana num churrasco para lá de brega! Ah! Pena que as fotos não exibem a música da "alegria". Deve ser pior que a cerveja que bebem e da linguiça que comem. Ninguém leu um poema no evento? Não se falou de nada "pesado"? Esqueci, é hora de esquecer! Mas pode-se ser alegre sem lembrar? E porque todo fim de semana quase as mesmas fotos? Ora, isso entedia! Festas e comemorações ou encontros em lugares públicos? Não falta a famosa foto de todos "juntos e felizes", devidamente publicada imediatamente no Face, com seus risos ensaiados e forçados. Depois da foto, todos voltam à posição normal de entediados, bebendo mais e mais para forçar a alegria que sem o álcool não existiria. E falando alto, alto, alto, sobre NADA, pois precisam gritar para que alguém tenha paciência de ouvir esse NADA. Ou será que é porque acham tão especial o que dizem que precisam berrar ao ouvinte seu NADA tão extraordinário? Será que elas falam da foto que acabaram de publicar no Face, de como ficaram ótimas na foto? Já repararam que não se consegue mais conversar em bar algum por causa da gritaria das pessoas?

Realmente não sei a diferença entre uma pessoa se fotografando num churrascão ou numa exposição de arte, show ou evento, tudo da moda (evidentemente todo mundo quer ver Salvador Dalí, mas o MASP daqui, para que, não é mesmo, se não é da moda/mídia?), já que só aparece seu rosto, fake-feliz, escondendo aquilo que é o que deveria ter feito a pessoa sair de casa.

Não existe problema algum em fotografar um jantar com amigos, um evento especial, um encontro, ou seu animal de estimação (mesmo que seja o marido porco ou a esposa jacaré). Acontece que a coisa degringolou no mais raso narcisismo, na mais doentia autoafirmação insensata, descendo cascata abaixo, num sem fim de representações do NADA. Quando as pessoas equilibram esse nada com alguma coisa que preste, tudo bem. Mas a maior parte transformou essa vida fake-fotos do face em padrão neurótico de repetição. Nem indicar um bom filme, um bom livro, um lugar para se visitar, a pessoa consegue mais.

Se o poeta é um visionário, T. S. Eliot acertou em dizer que vivemos num mundo de homem ocos. Nada por dentro, por isso fake por fora.

Pessoas realmente importantes, que criam coisas relevantes, estas sim, deveriam publicar o que fizeram de grandioso. Democratizar boas ideias, invenções importantes, provocações inteligentes, acontecimentos que engrandecem, dicas culturais etc - ou mesmo fatos pequenos, bobagens sem nobreza, mas à luz da poesia- não a fake-foto do NADA querendo se passar por tudo, em sua eterna repetição - é o que se espera de um espaço global como as redes sociais. Ou morreremos de tédio!


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 18/8/2015

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