COLUNAS
Quarta-feira,
11/11/2015
A Mão Invisível
Marilia Mota Silva
+ de 4000 Acessos
No mês de outubro agora, um jovem empresário virou celebridade, da noite para o dia. Quem é e o que fez para ganhar espaço nobre nos principais jornais, nos noticiários e, principalmente, nas redes sociais?
Ele é Martin Shkreli, de 32 anos, que aos vinte já fazia sucesso no mercado financeiro; ultimamente, voltou seus interesses para a indústria farmacêutica e foi nessa condição que se tornou famoso.
Em agosto ele comprou os direitos sobre um remédio chamado Daraprim, essencial para quem tem Aids e imediatamente subiu o preço de $13.50 para $750.00 a pílula.
Essa decisão levantou protestos dos especialistas em doenças infecciosas. O New York Times fez um artigo sobre o assunto que repercutiu intensamente na midia e redes sociais.
Quando li sobre isso , meu primeiro pensamento foi que esse jovem teria ambições políticas e sua atitude seria uma estratégia esperta para ganhar a mídia, o cenário nacional, trazendo ao debate questões fundamentais nesse momento.
Uma delas seria o mercado livre, sem qualquer regulamentação.
O que ele fez mostraria a necessidade de supervisão do governo para coibir abusos como a formação de monopólio, por exemplo, monopólio que ele tinha sobre esse medicamento.
Outro ponto que emergia, pedindo debate urgente é o conluio em que vivem a indústria farmacêutica e os convênios, levando à estratosfera o custo da saúde.
Uma tacada de mestre, pensei, e muito oportuna nessa época em que os pré-candidatos à Presidência debatem os temas de interesse nacional.
Conquistada a indignada atenção do país inteiro, bastaria uma palavra, bastaria tuitar seus motivos e, naturalmente, trazer o preço do remédio de volta ao preço original, e ele se transformaria em líder nacional. O Senado e mesmo a Presidência, quando tivesse idade para concorrer ao cargo, seriam um caminho natural.
Quando ele tentou marcar uma entrevista pessoal com Bernie Sanders, pré-candidato socialista à Presidência, depois de doar o máximo que podia como pessoa física ($ 2.700) para sua campanha, achei que isso confirmava suas ambições políticas.
Estava convencida porque o oposto me parecia inconcebível: que uma pessoa - por maior que fosse sua ganância ou sociopatia - aumentasse o preço de um remédio essencial em 5000%, apenas para auferir mais lucros.
No entanto foi isso mesmo que aconteceu: uma simples decisão de negócios. Ele apenas avaliou mal a reação do público.
Bernie Sanders recusou- se a receber sua doação e recusou-lhe a entrevista. Em tuite, ele se declarou furioso. Mostrou-se ressentido com as críticas, as
manifestações de rua, a pressão das redes sociais. Argumentou que Laboratórios como Pfizer e Merck e centenas de outras companhias sempre fizeram isso, e ninguém trouxe de volta seus preços, então por que ele faria? E avisou os que esperavam uma mudança de atitude: só baixaria o preço quando tivesse dados suficientes sobre a demanda e isso levaria muito tempo. De qualquer maneira, que ninguém esperasse grandes reduções.
Felizmente, passado cerca um mês da decisão, uma empresa concorrente, a Imprimis Pharmaceuticals, Inc, pôs no mercado uma caixa do remédio com cem cápulas por $99,00 ou $0.99 a pílula. Com lucro ainda.
Final feliz. A "mão invisível do mercado" restabeleceu a harmonia. Isso prova que essa teoria funciona sempre? É discutível. Desde Reagan, que pôs em prática essa política, a concentração da riqueza nos Estados Unidos se acelerou drasticamente. Riqueza gera poder político. A democracia vira oligarquia. Os representantes políticos se tornam funcionários das corporações. É o que temos visto. Sem lei que impeça, formam-se monopólios ou cartéis, e o trabalhador, o consumidor ficam sem escolha. Liberdade pressupõe responsabilidade mas é ilusório contar com isso quando o lucro é a medida de todas as coisas.
Parece contraditório mas para ser livre a economia precisa de normas claras e estáveis. Não de um estado-babá, não de um estado autoritário, tudo menos isso, mas de normas, de leis e instituições respeitáveis. Precisa de nós, mais que tudo, a sociedade vigiando para nos defender do fascismo que pode vir de qualquer lado.
Marilia Mota Silva
Washington,
11/11/2015
Quem leu este, também leu esse(s):
01.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge de Duanne Ribeiro
02.
Um jeito Mirador de ver a Wikipedia de Adriana Baggio
03.
Apresentação autobiográfica muito solene de Ana Elisa Ribeiro
04.
Pode guerrear no meu território de Paulo Polzonoff Jr
05.
Paus Mandados de Salvador Mc Namara
Mais Acessadas de Marilia Mota Silva
em 2015
01.
Memorial de Berlim - 23/12/2015
02.
Minha Terra Tem Palmeiras - 15/7/2015
03.
Viagem a 1968: Tropeços e Desventuras (2) - 25/2/2015
04.
O Velho e Bom Complexo de Inferioridade - 4/2/2015
05.
Pendurados no Pincel - 18/3/2015
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|