COLUNAS
Quinta-feira,
14/4/2016
Antonia, de Morena Nascimento
Elisa Andrade Buzzo
+ de 4700 Acessos
Antonia, como se em sua dança quisesse reinventar o exaustivo ciclo do nascer e morrer.
No folder dessa dança coreografada e dirigida por Morena Nascimento, temos um mosaico de imagens retratando o processo criativo e gestacional e não o "produto final" do espetáculo. Esse aparente detalhe bem mostra o caráter singular do processo de concepção da dança, intuitivo, tendo como primeira e única certeza "a vontade de trabalhar com o coletivo", disse Morena para "Em Cartaz".
Com a presença de dez bailarinos, é apresentada uma dança que extrapola seus outros espetáculos - "Rêverie" e "Claraboia", solos mais introspectivos - para criar uma corrente humana que carrega, circula, lança, extravasa, beija, incita, amontoa-se. O ciclo da vida, a conexão entre elenco e natureza representa-se basicamente pela repetição de movimentos e uma amplitude de deslocamento impressionante no palco.
Essa corrente formada pelos corpos se justifica por seus próprios movimentos, contando sua história interior e cíclica. Explica-se em "como se em sua dança quisesse reinventar o exaustivo ciclo do nascer e morrer". São os momentos mais belos e significativos da montagem, que também conta com pequenos solos de cada um dos dez bailarinos, quando cada um deles se torna o principal de pequenas narrativas.
Como em "Rêverie", aqui os bailarinos também têm falas, muitas vezes contando histórias divertidas, nonsense, irônicas e mesmo teatralizam numa elevação de natureza forte e lírica. A trilha sonora perpassa por músicas do mundo até música eletrônica e rock das décadas de 60 e 70.
O clima forte e enérgico de "Antonia", que se intitula como "um fenômeno que expressa a força do feminino presente em tudo", é criado com a batida pop logo no início do espetáculo, que conta com figurino de Dudu Bertholini - logo na abertura os bailarinos vestem vibrantes kaftans hipercoloridos. E nessa correnteza humana somos levados até o final, olhos presos e imiscuídos numa passagem avassaladora da natureza em forma de dança, ou de uma dança em forma de natureza.
Elisa Andrade Buzzo
São Paulo,
14/4/2016
Quem leu este, também leu esse(s):
01.
A pulsão Oblómov de Renato Alessandro dos Santos
02.
O Público Contra Yayoi Kusama de Duanne Ribeiro
03.
Poesia sem ancoradouro: Ana Martins Marques de Jardel Dias Cavalcanti
04.
Meus melhores filmes de 2008 de Rafael Rodrigues
05.
Cidade limpinha de Elisa Andrade Buzzo
Mais Acessadas de Elisa Andrade Buzzo
em 2016
01.
Um safra de documentários de poesia e poetas - 2/6/2016
02.
Meu querido mendigo - 18/8/2016
03.
A noite em que Usain Bolt ignorou nosso Vinicius - 25/8/2016
04.
Antonia, de Morena Nascimento - 14/4/2016
05.
O bosque das almas infratoras - 23/6/2016
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|