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Terça-feira,
26/7/2016
Pokémon Go, você foi pego
Luís Fernando Amâncio
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Em milhões de anos, é possível que arqueólogos encontrem fósseis humanos que serão classificados como pertencentes à espécie homo sapiens de cabeça inclinada em 45 graus. Nas mãos destes fósseis estarão resquícios de um pequeno dispositivo que, talvez, poderá ser a chave para explicar uma revolução na história da humanidade.
O celular. Graham Bell, visionário o suficiente para comprar um protótipo do italiano Antonio Meucci e ficar conhecido como o inventor do telefone, cairia para trás ao saber do que a geringonça se transformou. O que era um dispositivo que já fazia muito ao proporcionar diálogos entre pessoas distantes geograficamente, se tornou um aparelho mais útil do que um canivete suíço.
Faça uma experiência. Pare de ler este texto e olhe ao seu redor. O homo sapiens de cabeça inclinada em 45 graus estará por todos os lados, aposto. Sempre com o celular na mão e a atenção naquilo que o aparelho está dizendo. Inclusive você, raro leitor, rara leitora, talvez seja um deles, acessando este texto através de seu aparelho de estimação.
Pobre do cachorro, aliás. Ele perdeu o status de ser o melhor amigo do homem. Quem sabe haja uma reviravolta quando você aprender a falar e souber a previsão do tempo, querido Totó.
Viramos reféns dos aplicativos de celular. Eles nos colocam em contato com a família e conhecidos. “Juntar a galera” virou sinônimo de criar grupo no WhatsApp. “Ter notícias” de alguém é ver suas fotos no Instagram ou no Facebook. Paquerar? Coisa jurássica, o melhor é baixar o Tinder. E estou falando dos mais conhecidos. Há aplicativos para todas as coisas: karaokê, lembrá-lo de comer de três em três horas, localização, dar dicas na visita à Lagoa da Pampulha...
E agora, esta febre em torno de Pokémon Go. Um jogo que, embora disponível em poucos países, se tornou o assunto mais discutido nas conversas sobre tecnologia e entretenimento. Os pocket monsters, que há mais de vinte anos habitam a cultura pop através de jogos de vídeo game, de cartas, da série de animação, das HQs e do cinema, agora estão por aí, espalhados em parques, ruas, hospitais, etc.
Pokémon Go se mostrou um ótimo negócio para a Nintendo, que viu seu valor de mercado subir radicalmente após anos de baixa e de um console que fracassou nas vendas – o Wii U. Mas a importância do jogo desenvolvido pela Niantic supera a valorização das ações da Big N. Ele é um marco para a realidade aumentada, que é a integração de elementos virtuais com visualizações do mundo real. Por agora, pode parecer uma besteira – sair caçando bichinhos virtuais (saudades, Tamagotchi!) pela cidade. Mas é um passo para termos um visor como o do Robocop, complementando com informações tudo o que enxergamos.
Não é péssimo quando você está em trabalho de parto e aí aparece um pidgey?
Nunca saberemos para onde a tecnologia nos levará. Ainda assim, Pokémon Go me parece uma consolidação da espécie homo sapiens de cabeça inclinada em 45 graus. Nenhum aplicativo seria tão comentado em pouco tempo se não fosse, no mínimo, divertido. Só espero que o homo sapiens não siga exclusivamente na imersão na realidade virtual. E nem é por causa de Matrix. É que ainda não existe filtro do Instagram que substitua a sensação de ver um belo pôr-do-sol ao vivo, sem ser pela câmera do celular.
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
26/7/2016
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