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Terça-feira, 9/8/2016
Os dinossauros resistem, poesia de André L Pinto
Jardel Dias Cavalcanti
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Em seu sétimo livro de poesia, Nós, os dinossauros”, editado pela Patuá, André Luiz Pinto nos reserva uma tensão difícil de solucionar. O encontro da poesia com a reflexão sobre sua própria existência e, como se não bastasse, com a “questão social”, que soma-se ao “problema” do próprio sistema da poesia.

Esta questão, tanto séria quanto nebulosa para a arte, já foi enfrentada por T. W. Adorno e Walter Benjamin, dois dos mais importantes teóricos do século XX. Adorno em seu ensaio “Lírica e sociedade” e Benjamin, ao estudar Baudelaire, quando aproveitou para refletir sobre o mercado de trabalho literário de sua época.

Segundo Benjamin, “o poeta sabia bem a situação do literato: como flaneur ele vai ao mercado para olhá-lo, mas no fundo procura um comprador. Livros e prostitutas se assemelham: ambos têm seu tipo de homens, que vivem às suas custas e os atormentam. Quem escreve livros se oferece ao mercado como uma prostituta; quem escreve sobre livros, vive às custas deles como um gigolô. O poeta lírico oferece a sua própria intimidade no mercado: poderá devassá-la quem quiser e pagar o preço. Uma resenha literária serve para difundir um livro, isto é, para que ele seja mais vendido: faz parte do processo de propaganda. A crítica literária geralmente faz o mesmo, só que não sabe disso”. (Flavio Kothe)

No caso de Adorno, “a lírica é vista como expressão do individual íntimo, livre e oposto à práxis. Afirma que a expressão do individual na lírica deve transcender duplamente o individual: pelo mergulho nele, descobrindo o subjacente, o ainda não captado nem realizado no social; e pela expressão, encontrando através da forma uma participação no universal. O poema acaba se tornando o sonho de uma sociedade diversa da existente, que é entendida como sendo fria, opressiva, inimiga e estranha. Nesta, o poder de coisificação é visto como sendo tão grande que ele não pode mais ser dourado por nenhuma aura lírica.” (Flavio Kothe)

A poesia de André Luiz navega nessas águas turbulentas. Nela se apresentam o social, a crise da poesia, do poeta (e seu leitor) e o desencantamento do mundo. Ou seja, uma crise infindável.

A questão que se coloca é: como resolver esse problema, não deixando a poesia de ser, antes de tudo, poesia? Nenhum leitor sério de poesia consegue ler uma poesia que seja simplesmente um panfleto político ou uma espécie de confessionário sebento de dores que não transcendam o individual.

Salvaguardar a autonomia da arte em relação ao mundo ou à sociedade é o dever do artista. Mas como realizar essa tarefa? Quando sabemos que o engajamento não passa, muitas vezes, de falta de talento, qual a saída para a poesia se opor à sociedade?

Dar uma orientação à arte é traí-la. Comentar o social (apenas tematicamente) num poema também. Seria cair no discurso programático, que é parte do mundo ordinário da linguagem, diferente da poesia, que se apossa do mundo recusando-o justamente ali, onde o jogo é claramente definido enquanto linguagem comum.

Picasso não fez um tratado sociológico sobre “Guernica”, ao contrário, pôs-se a destruir a possibilidade de uma linguagem comprometida com o real. Destruiu na própria forma a possibilidade de um entendimento objetivo da “realidade” histórica de Guernica. Se não fosse pelo título da obra quem saberia que ela trata de Guernica? A desarticulação da forma traduziu uma vontade de romper com uma realidade objetiva que traduziria o mundo que possibilita a desumanização do homem na guerra (ou como condição ontológica do próprio homem).

André Luiz sabe que a arte é a promessa da felicidade que se esfacela. Por isso seus versos dizem que “a poesia/ não há/ de vingar”. A moeda do mercado é quem está organizando os “nichos” de sua existência. Os próprios poetas enterrarão a poesia: “o pior já foi confirmado”. Está consumado.

A crítica percorre vários poemas, desde a ironização dos saraus onde o poeta ou a marca de relógio não se diferenciam mais, até a (des)compostura do poeta que se veste "com estilo": “a echarpe, aliás,/ caiu super bem na noite/ de autógrafos”.

O elemento irônico é constante nos poemas de André Luiz. É pisoteando na má fé dos fatos sociais que ele aponta a saída, essa promessa frustrada de felicidade, como no poema de versos picoteados e/ou entrecortados “Nikita”: “dizia/ com o picolé na mão/ adoro/ tragédias/ tarados/ & promessas/ quando vou/ às festas/ de meu pai/ nos leilões/ imagino/ mst/ invadindo/ deto/ nando/ a festinha/ dos/ barões/ bois premiados/ agora/ servem/ de churrasco/ no prato/ das crianças/ “não me/ queira mal/ é que eu só desejo/ o pior”/ dizia/ enquan/ to/ chupava/ picolé saindo/ da boate/ aindademanhã”.

Às vezes alguns poemas caem inesperadamente como uma bomba no nosso colo, como é o caso de “Sobrenome”, onde transcende-se o elemento individual (como na exigência de T. W. Adorno) em nome de uma “dor do mundo”, comum a todos, fruto da dialética das relações de força entre os humanos.



O elemento social aparece na poesia de André Luiz em vários poemas. Mas esse “social” não é a denúncia simples da violência sobre os oprimidos, mas a resposta enigmática da resistência quase surreal das imagens da poesia, como em Zumbi: “zumbi, a estátua/ uma cabeça que mesmo depois de cortada/ continua a encarar/ os algozes.”



O fato da poesia de André Luiz se fazer crítica, no sentido de ser uma operação da linguagem como “écriture”, em oposição à fala ordinária, de não se render ao discurso do óbvio nem do sumariamente ideológico, torna essa criação necessária e potente.

A poesia de André Luiz tem nos alimentado com a beleza, sem deixar de nos dar, também, o gosto amargo de sua relação com o mundo.

Por isso, ele aposta na imagem dos dinossauros ainda resistentes. Desde Homero, aqui estamos (nadando contra a utopia autoritária da República de Platão). Atravessamos a história da humanidade. O ocaso se anuncia. Mas os dinossauros resistem. Sempre resistem. Não é esse o caso do livro de André Luiz?


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 9/8/2016

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