Em outubro do ano passado, ao participar de evento no Rio de Janeiro, o fotógrafo Sebastião Salgado fez uma previsão sombria: a fotografia não iria durar mais que 20 ou 30 anos. Ela iria perder o lugar, no entender do veterano profissional, para a imagem, que é o que você vê no Instagram ou no celular. A fotografia, para Salgado, "é um objeto materializado que você imprime, você tem, você olha".
Na ocasião, cheguei a escrever um artigo a respeito desse tema polêmico, intitulado
A fotografia irá se acabar? - nele, estão linkados reportagens publicadas na época e até um vídeo com a fala do próprio Salgado à imprensa no Rio.
Eis que pouco mais de três meses depois, Salgado volta ao assunto, anunciando ter mudado de opinião. Isto aconteceu durante entrevista a Jorge Silva, concedida no dia 8 em Bangkok (Tailândia), onde o fotógrafo se encontrava para a abertura de sua exposição O Mundo Através dos Seus Olhos, e publicada no dia 10 no site da edição americana do noticiário da agência inglesa Reuters. Disse Salgado:
- Não acho que (a fotografia) esteja em perigo, pensei assim em algum momento, mas estava errado e retiro o que disse. Agora mais do que nunca, tem um longo futuro pela frente.
Curiosamente, na sequência do texto (leia a íntegra, em inglês,
neste link), Salgado embasa sua mudança de pensamento no trabalho dos fotógrafos documentais, que, ao criar "imagens memoráveis que irão sobreviver", se diferenciam das imagens-de-smartphone. Sobre estas, na prática Sebastião Salgado mantém sua opinião, já exposta em outubro: "O que as pessoas fazem com seus telefones não é fotografia, são imagens. A fotografia é uma coisa tangível, você a pega, você a olha, é algo parecido com a memória".
O texto de Silva finaliza com uma sucessão de dados que não amparam a opinião do entrevistado. Vou citar aqui os principais:
- Estima-se que em 2017 serão produzidas no mundo mais de 1 trilhão de fotos.
- Destas, 85% ao menos deverão ser feitas nos mais de 2 bilhões de smartphones existentes no mundo.
- Outros 10% das fotos serão feitas em câmeras digitais (como a que o próprio Salgado usa desde 2008, combinando desde então a captação digital com a impressão tradicional em papel fotográfico).
Em suma: me parece um caminho sem volta. Quer você chame de fotografia, quer você chame de imagem, nossas lembranças serão cada vez mais registradas em meios digitais, o que não impede que venham a ser impressas em papel, que pode ser guardado. Mas imaginar que a fotografia analógica possa voltar a ser dominante me parece bem utópico.