Concluí meu artigo anterior - intitulado
Inquietações de Ana Lira - dizendo que a fala da fotógrafa pernambucana no Café Fotográfico da FotoAtiva (Belém, 20.2.17) me ensejara outra reflexão além das já mencionadas no texto. É chegado, pois, o momento de compartilhá-la com vocês.
Em dado momento do Café, Ana disse que procura fazer seu trabalho sempre com um propósito, que evita sair com a câmera para fotografar a esmo por aí. E ouvir isso me levou a questionar meu próprio trabalho/atitude, porque... eu costumo sair com a câmera e fotografar a esmo por aí! Evidentemente que Ana estava falando da sua própria atitude e não da minha, mas parar pra pensar nunca fez mal a ninguém, né? Aliás, muito antes pelo contrário!
Mercado Ver-o-Peso, em Belém - 2.4.17
Pensei, pensei e acabei concluindo que, ao sair com a câmera para fotografar a esmo por aí, estou primeiramente me permitindo olhar/captar o que me cerca, e que a própria escolha dos motivos que merecerão meu clique e, posteriormente, meu endosso público (pois é isto que concedemos a tudo o que divulgamos) já constituem, por si só, um propósito. Senão, vejamos as principais linhas do meu trabalho, traduzidas aqui em meu blog
Fabio Gomes - Foto & Cinema nas tags
Belezas Culturais,
Coisas do Mundo e
Belezas Naturais. Comecemos por esta última: a maior parte das cidades brasileiras é razoavelmente arborizada, ao menos nas áreas centrais, mas quantas vezes você deteve seu andar apressado pelas ruas da cidade para ver uma
chimbuva? Ou uma
mangueira?
Enquanto as Coisas do Mundo, ao destacarem aspectos curiosos, em especial do espaço urbano, podem ser consideradas uma continuidade do meu trabalho como cartunista (que foi desde que consegui segurar um lápis - risos - até, aproximadamente, 2002), as Belezas Culturais são, de certo modo, uma sequência de todo o trabalho que desenvolvi ao longo de mais de 25 anos de Jornalismo Cultural (iniciado em 1991). Sempre evitei ser mais um a falar dos mesmos temas que todos estavam abordando e, principalmente, evitei ir pelo caminho fácil da chamada "crítica destrutiva". Lembro de um colega de Porto Alegre que, nos primeiros tempos do site Brasileirinho (2002-16), me cobrou (o termo é este!) que eu fizesse um artigo contra a cantora Kelly Key, que emplacara em sequência os megahits "Baba" (2001) e "Cachorrinho" (2002), entre outros. Respondi pra ele que os temas do meu site eram samba e choro, então não só falar da artista fugiria ao tema do site, como se fosse pra falar mal o site passaria de ignorado a odiado pelos fãs dela. O colega encerrou o papo dizendo que eu não iria longe com esse "modelo de jornalismo bonzinho"....
Resumidamente, os principais temas de meu trabalho como jornalista cultural foram: o samba e o choro no já citado site
Brasileirinho; a movimentação das artes em geral no Brasil, com ênfase em música, cinema e teatro no
Jornalismo Cultural (no ar desde 2005, primeiramente como site, e posteriormente blog a partir de 2011); e a música da Amazônia no blog
Som do Norte, criado em 2009, e que deu origem ao projeto
As Tias do Marabaixo, com o qual desde 2014 destaco a memória da principal manifestação cultural do Amapá. Que traço é comum a todas essas iniciativas? O meu intuito de destacar artistas, produtos e movimentos culturais que entendo como positivos e merecedores de uma atenção maior - intuito estendido, no campo da fotografia, a aspectos da natureza e do espaço urbano. Incluindo-se nesse conjunto a beleza fora dos padrões (padrões estes que questionei
neste artigo) das
Modelos da Semana e das estrelas dos
Ensaios do dia 23. E, não por acaso, estes mesmos elementos são pontos fundamentais nos meus filmes, ao lado de questões raciais e de gênero.
Há um blog de Belém cujo nome contém uma metáfora que considero genial: é o
Holofote Virtual, da jornalista Luciana Medeiros. Além de ser uma leitura altamente recomendada, o nome do blog traduz o que a Luciana faz e eu sempre procurei fazer: buscar colocar em evidência o que nos parece ser dela merecedor, como se apontássemos em sua direção um
holofote (
virtual por ser na internet).
Esta vontade, pois, de colocar em evidência o que merece é que me move. É o meu propósito, para utilizar o termo usado pela Ana Lira. Eventualmente alguns dos meus trabalhos ou espaços na internet atingem uma grande repercussão, mas não é a busca da audiência que me move. Se assim fosse, haveria caminhos (aparentemente) fáceis a seguir. Por exemplo: ter aceito o recente convite que um site alemão me fez para eu me tornar um influencer no Instagram, adquirindo (sic!) algum dos planos que eles oferecem pra este fim (sic!!), com valores mensais a partir de 15 euros (sic!!!). Ou então, aderir a algum pacote oferecido no próprio Instagram para "bombar" meu número de seguidores - alguns desses pacotes, inclusive, oferecidos por perfis que ninguém segue...