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Carnaval
Terça-feira,
5/3/2002
Recortes de carnaval
Rafael Lima
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Depois de ter sido flagrada por aquilo que se chama em cinema de câmera baixa durante um ensaio de escola de samba, a Luma de Oliveira decidiu processar o fotógrafo responsável pelo, qual é a palavra mesmo?, flagra. Em represália, dizia-se que o exército de caçadores de imagens organizaria um boicote à exposição de sua figura durante o desfile de Carnaval. Lógico, acabou não rolando. Depois que Luma entra na avenida, é ruim desviar a atenção: ela concentra as atenções, carisma escorrendo de cada poro. Além do que, nenhum repórter queria deixar o furo para o colega do lado.
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O tamborim é o instrumento de percussão com melhor relação custo-benefício; impressionante o barulho que um tamborzinho merreca daqueles pode fazer. E versátil, como o pessoal que faz trilha sonora de cinema já percebeu. Dois filmes onde o tamborim é francamente utilizado para criar a ambientação de uma cena me vêm imediatamente à memória: o primeiro, O que é isso, companheiro?, teve trilha curiosamente assinada por Stewart Copeland (curiosamente porque a trilha foi entregue a um inglês apesar do filme inteiro se passar no Rio de Janeiro). O segundo, data do aniversário de 400 anos da mui gloriosa cidade de São Sebastião e chama-se Crônica da Cidade Amada. Dirigido por Carlos Hugo Christensen, é a adaptação de uma série de crônicas escritas por gente como Carlos Drummond de Andrade, Orígenes Lessa, Sérgio Porto e Paulo Mendes Campos para o cinema, com roteiro de Millôr Fernandes, que inclusive aparece numa ponta, no episódio do Oscarito (baseado em texto de José Carlos Oliveira). Como, minha senhora? E o tamborim? Ah, sim, o tamborim: em outro episódio, as pancadas em um tamborim criam a tensão emocional para a saída de um Cecil Thiré pré-calvície do porre. Assim, não é de se admirar que ele acabe sendo o instrumento mais popular nos blocos de carnaval. Mas nem a potente versatilidade do tamborim é suficiente para me conquistar. Fosse-me oferecida toda a bateria a escolher, eu não trocaria o bumbo da marcação por nada. Existe algo de zen, de alheado do mundo no som do bumbo da marcação. Note: toda vez que se quer concentrar a atenção em um filme de carnaval, seja documentário, seja desfile estilizado, a solução é sempre a de rodar em câmera lenta, aproximar o foco até estourar as cores das lantejoulas, e abafar a música até que sobre apenas um som - o pulso do bumbo da marcação. Vital como uma batida de coração. Debaixo daquela mistura louca de caixas pandeiros agogôs & ganzás a um passo da cacofonia, sempre tem o sereno pulsar do bumbo da marcação, mantendo a música - e o universo - em seu compasso.
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Nesses dias de folia descobri a Ana Luísa Castro apresentando um programa de esportes na televisão. Estudou na mesma escola da Valéria Monteiro: um sorriso a cada tropeço de leitura. E haja tropeço. Mas que sorriso é aquele. Imenso, luminoso, o teclado tomando conta de toda a tela. Fisionomicamente, me lembra muito uma colega de colégio, que vi andando no calçadão numa das manhãs de carnaval (recondicionando o corpo dos excessos na noite anterior?). Acompanhada. E morena - quando eu conheci era loira. O resto - eu chamei de resto? As palavras estão extraordinariamente fugidias hoje. Deixa resto então - continua igual. Já a Ana Luísa Castro, que eu saiba, sempre foi morena, um dos exemplares de melhor cepa, aliás.
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Vendo uma exposição de fotos sobre o carnaval antigo em São Paulo, aquelas tímidas e enfeitadas folionas de outrora em seus ousadíssimos vestidos de melindrosa (quanta audácia para exibir os tornozelos e a batata da perna daquele jeito!), espalhando lança-perfume (ainda nem era proibido!) e confetes pelo ar, todas sentadas sobre as capotas de fords de bigode (quanta modernidade!) pilotados por garbosos motoristas, numa, na verdade duas extensas filas de carros a cruzar a Avenida Paulista, um corso para cada lado, a idéia não me escapa: não é de hoje que os paulistanos tem esse estranho hábito de se meter em engarrafamento para se divertir...
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Mina, demorou, mas acho que entendi: você queria sair no bloco, mas sem o canícula; fora da aglomeração; de preferência, à distância saudável do carro de som, evitando a muvuca e os bêbados chatos. Em resumo, o que você queria era um carnaval organizado...
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Melhor seria ter dito logo que nem o outro: "Eu não gosto de situações de aglomeração e turbamulta". Ou protestar, de uma vez: "Eu não preciso de ajuda para me meter em roubada".
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Enquanto eu esperava o Fabio chegar, passaram alguns carros alegóricos pela Praça Mauá, conduzidos no tradicional método das escolas de samba: um infeliz dentro, controlando o volante (é, carro alegórico tem motorista!, sim), oito pobres diabos atrás, empurrando o carro com toda a força na primeiro direção razoavelmente livre, e nos intervalos do descanso, gritando insultos nos momentos de descanso aos três malucos da frente, que estão se sentindo as maiores autoridades da paróquia por orientar os empurradores de carro alegórico. Um perfeito exemplo de organização caórdica na direção de um veículo. Teria sido até chato ficar ali esperando se eu não me entregasse ao exercício de imaginar o que se passava na cabeça dos estrangeiros, recém-desembarcados, que filmavam a insólita cena, ao meu lado. É um dos meus passatempos prediletos.
Avisinhos de última hora
* Para quem gosta daqueles testes do tipo "se você fosse um dos jogadores da seleção de 70, qual seria?", o Tiago Teixeira se deu ao trabalho de construir esses aqui.
* Se você gosta mesmo desses testes, pode tentar também esse e mais esse.
* Se você é um(a) respondedor(a) de testes compulsivo(a), vai querer responder até a isso ou aquilo.
* Agora, se você já perdeu a noção do ridículo há muito tempo, é isso aqui que você tem que fazer.
Nem tão errata assim
Na coluna Aquela sensação de estranho, avisei que a graphic novel Like a Velvet Glove Cast in Iron iria ser lançada até o fim do ano passado em português. Só agora, em fevereiro, Como uma Luva de Veludo Presa em Ferro chegou às livrarias (nem pense em procurar nas bancas), com bela capa e totalmente em português. Tão esperando o quê?
Agora, se o distinto foi direto para as bancas sem terminar de ler a notinha, então aproveite que está lá e procure pela versão nacional de Cavaleiro das Trevas 2, pela Abril.
Rafael Lima
Rio de Janeiro,
5/3/2002
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