COLUNAS
Sexta-feira,
8/12/2017
Bates Motel, o fim do princípio
Luís Fernando Amâncio
+ de 5400 Acessos
Chegou ao fim, no dia 24 de abril, a quinta e última temporada de Bates Motel. A série de suspense, desenvolvida por Carlton Cuse, Kerry Ehrin e Anthony Cipriano, foi uma espécie de prólogo contemporâneo do filme Psicose (Psycho, no original, 1960), clássico de suspense dirigido por Alfred Hitchcock. O que gerou grandes expectativas e uma enorme responsabilidade.
Porém, antes de falarmos em Bates Motel, vale observar que a série não foi a primeira obra a investir no universo de Psicose. O filme original teve três continuações: Psicose II (1983), Psicose III (1986) e Psicose IV (1990), este último feito para a televisão. A franquia contou com Anthony Perkins reprisando seu memorável papel de Norman Bates e ainda dirigindo o filme de 1986. Toda a sequência foi feita após a morte de Hitchcock e foram, de um modo geral, recebidos pelo público e crítica com muita desconfiança. Em 1987, foi lançado um telefilme, também chamado Bates Motel, que seria o episódio piloto de uma série que não emplacou. Por fim, Psicose foi refilmado à cores, mas com ampla fidelidade ao original, pelo diretor Gus Van Sant em 1998. A crítica também torceu o nariz, sobretudo questionando a necessidade desta refilmagem.
Robert Bloch, autor do livro Psicose (1959), também escreveu duas sequências para a obra: Psycho II (1982) e Psycho House (1990). Os dois livros não possuem ligação com as continuações cinematográficas. No Brasil, Psicose foi relançado há poucos anos pela DarkSide Books em uma bela edição.
Com tantas produções de relevância questionável relacionadas ao clássico de 1960 – e não é desvalorizar a obra de Robert Bloch assumir que, embora seu derivado, o filme se tornou muito maior do que o livro – dificilmente Bates Motel seria seu pior derivado. Mas a verdade é que a série tem muitas qualidades e, embora não tenha sido um sucesso de audiência, deixa um saldo positivo.
Trazer a trama para a atualidade foi uma boa estratégia dos criadores de Bates Motel. Dessa forma, fica evidente que a obra é uma releitura e, simbolicamente, obtém-se mais liberdade para expandir a trama. Afinal, ainda que tenha sido uma série curta (10 episódios por temporada), foi inevitável uma expansão da história original, introduzindo personagens e tramas.
A maior contribuição de Bates Motel ao universo de Psicose, porém, está em detalhar a complicada relação entre Norma e Norman. Para isso, a série conta com a destacada atuação de Vera Farmiga e Freddie Highmore, nos papeis de mãe e filho. O distúrbio de personalidade de Norman é também mais detalhado. Pois, se há algo que torna o personagem tão emblemático na história do cinema é sua natureza complexa: um assassino que, por outro lado, é vítima de um distúrbio mental.
Embora inicialmente um prólogo de Psicose, Bates Motel melhora consideravelmente em suas duas últimas temporadas, quando recria eventos imediatamente anteriores e o filme propriamente dito. De forma que seu fim, após cinco temporadas, acontece no momento certo. Ainda que com alterações na história, é justo dizer que a série expande o legado de Alfred Hitchcock com dignidade.
Bates Motel foi exibido no Brasil pelo Universal Channel, na TV paga, e na Rede Record. A série está disponível no serviço de streaming Netflix até a quarta temporada.
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
8/12/2017
Quem leu este, também leu esse(s):
01.
Arte sem limites de Fabio Gomes
02.
O diário de Genet de Marília Almeida
Mais Acessadas de Luís Fernando Amâncio
em 2017
01.
Bates Motel, o fim do princípio - 8/12/2017
02.
Fake news, passado e futuro - 25/8/2017
03.
Brasil, o buraco é mais embaixo - 7/7/2017
04.
Em nome dos filhos - 31/1/2017
05.
O dia que nada prometia - 26/5/2017
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|