Zuza Homem de Mello (1933-2020) | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
>>> CEU Carrão recebe o Festival Ubuntu nos dias 15, 16 e 17 de Novembro.
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Samba da benção
>>> O novo GPT-4o
>>> Um olhar sobre Múcio Teixeira
>>> Entrevista com Guilherme Fiuza
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> A Associated Press contra a internet
>>> The Newspaper of the Future
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> 3 Grandes Escritores Maus
Mais Recentes
>>> 12 Semanas Para Mudar Uma Vida de Augusto Cury pela Planeta (2007)
>>> Vida Pregressa de Joaquim Nogueira pela Companhia Das Letras (2003)
>>> O Menino Maluquinho de Ziraldo pela Editora Melhoramentos (2008)
>>> Na Margem Do Rio Piedra Eu Sentei E Chorei de Paulo Coelho pela Planeta (2006)
>>> A Gaiola De Ouro de Camila Läckberg pela Arqueiro (2020)
>>> Atlas de Anatomia Humana 2 volumes - 20ª ed. de Johannes Sobotta pela Guanabara Koogan (1993)
>>> Michaelis Dicionário De Sinônimos E Antônimos (Nova Ortografia) de André Guilherme Polito pela Melhoramentos (2009)
>>> A Xamã De Salto Alto de Anna Hunt pela Rocco (2013)
>>> Amor E Vida de Thomas Merton pela Wmf Martins Fontes (2004)
>>> Africa Explicada Aos Meus Filhos de Alberto Da Costa E Silva pela Agir (2008)
>>> Sete Desafios Para Ser Rei de Jan Terlouw pela Ática (2012)
>>> Big Magic: Creative Living Beyond Fear de Elizabeth Gilbert pela Bloomsbury Publishing (2015)
>>> Juca E Chico. História De Dois Meninos Em Sete Travessuras de Wilhelm Busch pela Pulo Do Gato (2012)
>>> Tratado De Enfermagem Medico-Cirurgica - 4 Volumes [Capa comum] [2009] Varios Autores de Vários Autores pela Gen/ Guanabara (2009)
>>> Psicopedagogia Da Linguagem Escrita de Ana Teberoisky pela Vozes (1993)
>>> Pedagogia Da Autonomia de Paulo Freire pela Paz E Terra (1996)
>>> Sociologia e Filosofia de émile Durkheim pela Martin Claret (2009)
>>> A Revolução Francesa de Paz E Terra pela Paz E Terra (2005)
>>> Histórias Das Mil E Uma Noites - Coleção Conte Um Conto de Ruth Rocha pela Salamandra (2010)
>>> Quem Vai Decifrar O Código Leonardo? de Thomas Brezina pela Ática (2015)
>>> Violencia Do Rosto de Emmanuel Levinas pela Loyola (2014)
>>> Emília No País Da Gramática de Monteiro Lobato pela Ciranda Cultural (2019)
>>> Deserto, Desertos de Jean-Yves Leloup pela Vozes (2003)
>>> Um Caldeirão De Poemas de Tatiana Belinky pela Companhia Das Letrinhas (2002)
>>> As Virtudes Morais de Tomas De Aquino pela Ecclesiae (2012)
COLUNAS

Segunda-feira, 12/10/2020
Zuza Homem de Mello (1933-2020)
Julio Daio Borges
+ de 2800 Acessos

Não deu tempo de escrever a resenha - porque ele foi embora antes -, mas uma das melhores leituras desta quarenta, para mim, foi “A Era dos Festivais: uma parábola”, que li atrasado, dezessete anos depois.

Eu achava curioso que existisse uma história do rock dos anos 80 - que é “Dias de Luta”, do Ricardo Alexandre -, mas, não, uma da MPB. Eu sabia que Ruy Castro - o biógrafo da Bossa Nova - jamais a escreveria, porque ele, justamente, para (do verbo parar) em “Garota de Ipanema” (1962). O que eu não sabia é que Zuza já a havia escrito; eu é que não havia lido...

Porque contar a história dos festivais da canção dos anos 60 é contar a história da MPB. Afinal, praticamente todos os compositores e cantores da chamada “música popular brasileira” despontaram ou se consagraram nos festivais. De Chico Buarque a Geraldo Vandré, dos baianos a Paulinho da Viola, dos Mutantes ao nosso colega de Facebook, Guarabyra, passando, evidentemente, por Edu Lobo, Dori Caymmi, Egberto Gismonti e até os Novos Baianos (entre tantos outros).

Os festivais eram “a” plataforma de lançamento da época - e “defender” uma canção era uma espécie de batismo de fogo não só para a composição em si, mas também para o compositor e para o(a) intérprete. Alguns se especializaram, como Elis Regina e Jair Rodrigues, que se tornaram estrelas dessa era; como Chico Buarque, que, nos últimos, era convidado a participar.

O que se comenta mais raramente é que uns tantos foram vaiados, como Sérgio Ricardo (que jogou seu violão na plateia) e Tom Jobim (que teve o pior momento de sua carreira defendendo “Sabiá”). Alguns se perderam, e nunca mais foram os mesmos, como Vandré (depois de “Para dizer que não falei das flores”). E alguns, inclusive, morreram, como Erlon Chaves - o grande arranjador de Wilson Simonal, uma vítima do preconceito e dos costumes da época (falo de Erlon, mas igualmente serve para Simonal).

Quando assistimos a alguma performance solta no YouTube, ou mesmo em alguma efeméride da televisão, imaginamos que a coisa ficasse restrita a uma espécie de videoclipe - ou a uma programação musical, como a da MTV -, mas foi muito do que isso. Os festivais foram uma era, de fato, como foram os Beatles, o rock dos anos 60 - pois a música transcendia a questão estética e simbolizava um momento geracional, comportamental, social, político.

Zuza acerta em não se revelar nem de esquerda e nem de direita, o que importa, para ele, é a música - e suas consequências. Mas sem partidarismos. E sem torcida organizada. Ele consegue reconstituir toda a disputa que foi “Disparada” versus “A Banda”, em 1965, sem optar por nenhuma das duas, reconhecendo os méritos de cada qual e deixando para o leitor que faça a sua escolha. Ou nem faça, porque, como sabemos, foi um empate. E que empate! Dramático... Parou - literalmente - São Paulo.

Zuza era técnico de som da TV Record no seu auge, então assistiu a tudo de camarote. Mas, além disso, teve a paciência de reconstiuir os bastidores, um pouco da história de cada personagem, contextualizando para o leitor dos anos 2000, paciente e didaticamente, num texto acessível, com rigor de músico, emoção na hora certa, entretendo e informando, conforme reza o clichê - a ponto de Daniel Piza tê-lo considerado um must-read, a “leitura da estação” (algo com que concordo).

Eu avistava o Zuza em eventos musicais pela cidade, a que eu ia pelo Digestivo. Uma vez, na entrada do ex-Palace, perguntei a ele o que achava de Maria Rita. Zuza não quis se precipitar e evitou uma crítica mais dura. Disse apenas que não havia estado com ela “ainda”, mas que achava que Maria Rita tinha “problemas de repertório” (de *escolha* de repertório). Embalado que eu estava pela “onda” Maria Rita, considerei aquilo uma injustiça, que só fui entender agora - afinal de contas, qual década pode se comparar à dos anos 60 (em termos de repertório)?

Eu não sabia, mas estava perguntando a alguém que havia feito a última entrevista com Elis Regina, horas antes de ela ter sido encontrada morta. E não imaginava que os primeiros capítulos de “A Era dos Festivais” têm como figura central, de novo, Elis. Tudo bem que eu vinha de “Furação Elis”, de Regina Echeverria, e de “Eles e eu”, as memórias de Ronaldo Bôscoli... Podia ter sido influenciado pelas minhas leituras pregressas - mas, não: “A Era dos Festivais” poderia ter se convertido numa biografia da Elis. (Leiam e me digam.)

Tudo isso - todo esse transporte - para dar um pouco da dimensão da perda de Zuza Homem de Mello. Eu já o admirava pela imprensa, pelas entrevistas, pelos artigos, por suas intervenções no rádio, na televisão, por suas aulas, as preparadas e as “de improviso” - e, não, apenas pelo seu conhecimento enciclopédico de música, mas pela sua *vivência* musical. Zuza havia estado lá, e não só como testemunha ocular da História, mas compondo a paisagem, fazendo parte da ação.

Quando Nelson Motta foi lançar seu “Noites Tropicais”, fazia questão de ressaltar que era um livro de quem *viveu* a Bossa Nova (entre outras incursões musicais). Criticava, indiretamente, o “Chega de Saudade”, de Ruy Castro, que nasceu em 1948, em Caratinga (MG), e que não foi, assim, protagonista da Bossa Nova. Os livros importam mais que a troca de farpas, ainda bem. Mas o que eu queria dizer é que o Zuza poderia afirmar que, além de ter vivido, *escreveu* um livro com o rigor de um biógrafo (maior que o rigor de um memorialista). “A Era dos Festivais” é, portanto, o melhor de dois mundos. E, Zuza, vamos sentir a sua falta.


Julio Daio Borges
São Paulo, 12/10/2020

Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2020
01. Doutor Eugênio (1949-2020) - 7/12/2020
02. Minha biblioteca de sobrevivência - 30/3/2020
03. Eddie Van Halen (1955-2020) - 9/10/2020
04. Confissões pandêmicas - 13/12/2020
05. Zuza Homem de Mello (1933-2020) - 12/10/2020


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Literatura Estrangeira Pequeno Mundo
Hermann Hesse
Civilização Brasileira
(1971)



Sagarana
Joao Guimaraes Rosa
Nova Fronteira
(2001)



Caninos Brancos
London
Fisicalbook



O Canário, o Gato e o Cuco
Telma Guimarães Castro Andrade
Scipione
(2015)



The Best Place to Kiss in Paris - Paris e Compagnie
Thierry Soufflard
Parigramme
(2023)



Úrsula
Serena Valentino
Universo dos Livros
(2016)



Fome
Knit Hamsin
Círculo do Livro
(1985)



Terra: Chaves pleidianas para a biblioteca viva
Barbara Marciniak
Ground
(1997)



Breve Introdução a Bíblia Hebraica
Henrique Iusim
Bnai Brith
(1968)



premier roman (francês)
Mazarine Pingeot
Julliard Paris
(1998)





busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês