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Sexta-feira,
22/6/2018
O Brasil que eu quero
Luís Fernando Amâncio
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Foto: CBF
A Copa do Mundo de futebol começou e você já deve ter ouvido aquele velho discurso: “eu quero que o Brasil perca, leve outro 7 a 1, porque se vencer, o povo vai achar que está tudo bem e a corrupção vai continuar”. Toda Copa é assim, com o cheirinho de naftalina desse raciocínio de que o futebol leva à alienação.
Tudo bem, as ligações entre esporte e política são sempre mais estreitas do que gostaríamos (já falei sobre isso aqui). Tanto é que, mal começou a competição, nosso presidente Michel “tem que manter isso aí” Temer apareceu em vídeo desejando sucesso aos comandados de Tite e incentivando os brasileiros a torcerem. Vale tudo para tentar diminuir aquele inédito índice de rejeição, né?
Mas o raciocínio de que o futebol tira o foco do torcedor de outras questões, no meu entendimento, precisa ser superado. Vejam a campanha “O Brasil que eu quero”, da Rede Globo de Televisão. Após um longo período em que âncoras da emissora, do William Bonner ao apresentador do seu jornal local, ficaram ensinando o espectador a fazer vídeos dentro do formato pretendido (“com o celular deitado, em frente a um local que identifique sua cidade...”), os vídeos começaram a ir ao ar há alguns meses. E o resultado são inúmeros apelos que podem ser resumidos em poucas linhas: o Brasil que eu quero é um país sem corrupção, sem burocracia, sem obras paradas, com mais saúde e educação.
Nenhum problema a esse respeito. Só que valem questionamentos sobre o sentido da campanha, já que houve tanto alarde por parte da emissora. Pra que serve, afinal, esse esquenta para o horário político obrigatório? Agora que as pessoas estão dizendo em rede nacional aquilo que seu sobrinho de oito anos desenvolve numa redação de escola, o Brasil vai pra frente? Os políticos vão dizer, “rapaz, vi uma senhora lá de Cachoeira do Sul dizendo que não quer corrupção no país, então vou ligar para o escritório daquela empreiteira e desfazer nosso acordo”?
Acho que não. Mas não é o que importa. A questão é: até onde sei, ninguém disse “o Brasil que eu quero é um Brasil hexacampeão. Traz a taça pra nós, menino Neymar!”. Pode ser surpreendente para alguns, mas as pessoas não estão colocando a vitória no futebol acima de suas necessidades mais básicas. É possível se entusiasmar com o esporte sem se esquecer do preço da gasolina, da inflação, do sucateamento do SUS e dos salários atrasados dos professores em Minas Gerais. Vai por mim.
A Copa do Mundo é uma das raras oportunidades em que o mundo se une. As tensões geopolíticas, desigualdades econômicas entre países, ogivas nucleares, nada disso desaparece. Mas, ainda assim, é melhor discutir esporte (que pode até nos dar bons ensinamentos) do que ficar observando as pataquadas de Trump, Kim Jung Li e companhia.
Mas, claro, se você não gosta de futebol, seja feliz lendo um livro no horário dos jogos. Tem espaço para todos nós. Afinal, como diz um meme, se políticos nos roubam enquanto assistimos jogos do futebol, eles continuam nos roubando quando você assiste a um filme iraniano. Ou se informa na GloboNews, curte fotos no Instagram, confere seu horóscopo diário, escreve textão...
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
22/6/2018
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