O que tem haver a cultura oriental com a música brasileira?
Bom, se afirmarmos que é a música nordestina, você vai estranhar não é mesmo?
Pois é, essa é mais uma riqueza que a nossa cultura apresenta e que poucos conhecem. Pode não parecer, mas até o nosso popular fórro está recheado de música oriental.
Para essa afirmação ficar mais clara, teremos que ir ao passado para entender um pouco desse fenômeno.
É muito conhecido e falado que a música brasileira se criou entre outros fatores pela fusão de três culturas distintas: os cantos e ritmos vindos da África (através dos escravos); as melodias e os traços culturais da metrópole (Europa); e a cultura local dos nossos índios (esses em bem menor proporção). A partir daí, a nossa música ramificou-se em inúmeras vertentes, nas mais diversas regiões do País.
Mas o que tem haver a cultura do Oriente com a música nordestina, você deve estar se perguntando?
A região Ibérica, nos séculos anteriores ao descobrimento do Brasil, era dominada em sua maioria pelos mouros de origem oriental, mais precisamente árabes. Com o passar do tempo, a formação e a dominação do Cristianismo pôs um fim a toda sociedade e cultura oriundas do Oriente, culminando com a tomada da cidade de Granada.
Mesmo assim, elementos enraizados na técnica oriental permaneceram, principalmente nas mãos de milhares de judeus que se fixaram na região.
Após a descoberta do Brasil, e durante o seu processo civilizatório, milhares de europeus desembarcaram na colônia. Representantes das mais diversas nacionalidades e raças se instalaram nas vilas do País. Os tais judeus acabaram se situando nas duas principais vilas do Nordeste, Pernambuco e Salvador.
Esse fato explica, portanto, como a música oriental marcou presença na música nordestina, conferindo-se um caráter muitas vezes considerado primitivista.
Se analisarmos tecnicamente esse fenômeno, podemos notar nos “aboios”, comuns dessa região, a presença das escalas de sétima menor e de quarta aumentada, características da antigas músicas de comunidades asiáticas. Há também uma certa tendência a evitar a “sensível” (não realizando, assim, a tão comum cadência-dominante-tônica, típica da Música Ocidental), tornando a criação mais livre e complexa. Outro aspecto, é a presença do “pedal harmônico”, tão comum em civilizações primitivas, que atribuíram ao “zumbido” por ele produzido um sentido trascendente e cósmico. E não poderíamos deixar de lembrar das “persistências rítmicas e melódicas”, de importância fundamental para se atingir um clima de “transe” e de “dança”.
Tudo isso para se chegar ao que os antigos chamavam de “música orgânica” (só apreendida intelectualmente depois de atingir e envolver todo o corpo).
Hoje em dia, podemos encontrar esses elementos em artistas vivos e ativos como Elomar, Sivuca, Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Renato “Cigano”, Xangai, Quinteto da Paraíba, Zé Ramalho e muitos outros. Apesar de atuais e modernos, a sensibilidade de suas violas, sanfonas, flautas e arranjos remetem visivelmente à mística oriental.
Experimente escutar Heraldo do Monte em seu disco “Viola Nordestina” ou Xangai em seu “Brasilerança” ou então simplesmente Hermeto Pascoal (desse nem é preciso falar). Está tudo lá...
Bem lembrada a influência oriental no musicar nordetino. Também no repertório do Quinteto Armorial e nas composições de Alceu Valença (não por acaso, ambos de Pernambuco), entre outros, encontramos claras indicações dessa influência. Um abraço.