COLUNAS
Sexta-feira,
20/11/2020
O fim dos livros físicos?
Luís Fernando Amâncio
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Estamos prontos para abrir mão dos livros físicos e aderir de corpo e alma aos e-books? Se essa fosse a pergunta de um milhão de dólares, seria a maneira mais fácil de me tornar um milionário.
Para mim, a resposta é óbvia e negativa. Não conseguiríamos fazer essa substituição. É só observar os nossos hábitos como leitores. A pessoa que compra um livro não está apenas interessada no conteúdo das páginas em si: é uma relação de amor em diversas camadas.
Além da leitura, queremos aspirar o odor do papel e da tinta gráfica. Tocamos o livro com carinho, sentindo na ponta dos dedos a aspereza de cada passagem de página. Nos deleitamos com a beleza estética de nossa aquisição, desde as cores na capa até as fontes no corpo do texto. Até que a relação evolui para o quarto, onde damos ao livro lugar de destaque na nossa mesa de cabeceira, bem pertinho de nós. Consumado o ato, ou seja, finalizada a leitura, ostentamos o objeto em nossas estantes, como exibicionistas expondo suas conquistas.
Como ilustração, a biblioteca do Carluxo: com livros físicos, mas virtual (fake)
Em resumo, o leitor muitas vezes não procura o livro apenas para a leitura: ele também quer sair para jantar e andar de mãos dadas na praça.
Com isso em vista, fica parecendo que os e-books jamais serão uma ameaça aos livros físicos, certo? Sim e não. O famoso “depende”. Embora não apresente tantas camadas de deleite, o livro eletrônico apresenta vantagens e se encaixa no perfil do consumidor de cultura contemporâneo.
Porque consumo é hábito e muda com o tempo. Pense no adolescente dos anos 1980, chegando em casa com a “bolacha”, nosso saudoso vinil, para ouvir sua banda preferida. Visão nostálgica que chama, né? Hoje, nossos jovens abrem seu aplicativo de streaming e procuram a playlist que combina com seu humor. Simples assim.
As idas às locadoras de filmes nos sábados à tarde, pagar para jogar uma hora de videogame nas casas especializadas, as lojas especializadas na venda de CDs... Dá pra fazer um Museu dos Hábitos Extintos.
Embora eu não veja o livro físico entrar nesse museu – ao menos não agora – o consumo de sua versão digital cresce a cada dia. O que é compreensível. O e-book é incrivelmente prático, ecológico e tende a ser mais barato. Para a experiência ser mais confortável, vale investir em um e-reader, os dispositivos de leitura de livros digitais (kindle, kobo, lev). Eles costumam ter modelos com preços acessíveis. Se não quiser fazer esse investimento, é possível baixar aplicativos em seu celular ou tablet para fazer a leitura.
Quem já esteve de mudança e precisou carregar caixas e caixas de livros sabe o quanto é mágico transportar centenas de obras nesses dispositivos que pesam menos de 100 gramas. Sua hérnia de disco agradece.
Além das comodidades na aquisição de novos títulos. Comprar um e-book não tem frete e a entrega é imediata.
Para os escritores, o aumento do mercado de livros digitais é entusiasmante. A publicação digital é mais acessível, barata e a distribuição pode ser ampla. Ela nos resguarda da lentidão no trato com algumas editoras e possibilita que nossas obras fiquem acessíveis por preços mais convidativos ao leitor.
Entretanto, se eu tivesse que apostar em algo, jamais perderia meu dinheiro anunciando a morte do livro físico. Ainda estamos consideravelmente apegados ao objeto em si. Afinal, como montar aquele visual de intelectual em conferências virtuais sem uma estante de livros atrás? A composição bibliófila é quase uma exigência nas reuniões no Zoom ou no Google Meet.
Por outro lado, abrir o coração ao e-book é se adequar aos tempos atuais. Jamais será uma traição aos livros físicos. Há espaço para os dois, ao menos por enquanto. Nesse caso, o poliamor está liberado.
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
20/11/2020
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