COLUNAS
Quinta-feira,
3/12/2020
Coisa mais bonita é São Paulo...
Elisa Andrade Buzzo
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Segundo turno de eleições municipais em São Paulo. As más línguas chamam um candidato de radical, o outro de elitista... Como ambos são de minha geração, é interessante acompanhar essa renovação na política. De um deles, eu poderia ter sido colega de turma, se eu tivesse ido para o Bandeirantes (ou ele ido para o Etapa, colégios concorrentes e próximos na Vila Mariana); com o outro, posso ter cruzado nos corredores da FFLCHUSP ou dividido uma mesa no bandejão central.
Debates televisivos “civilizados”, candidato com Covid, máscaras, e que bonito acompanhar o naufrágio do bolsonarismo em São Paulo! Que vontade de votar, mas, antes, ir na praça da Sé, comer um pão de queijo, espairecer pela rua Direita, e quem sabe me deparar com um candidato comendo um pastel, mordendo uma coxinha ou tomando caldo de cana. Essa eleição teve uma magia de mudança, de coisa nova, renovada. Daqui a algumas horas, inicia a apuração. A que tipo de ilusões eleitorais me apeguei desta vez? Se estas são mais estúpidas do que as amorosas...
Mas se toda eleição traz um sonho, formata uma miragem, cria uma esperança, todos passageiros, restam algumas poucas horas em que tudo pode acontecer, quando os desenhos infantis são concebidos. Ou nada? O prefeito controla a cidade, outros ainda a sugam e dela abusam, ou a cidade é um monumento vivo incontrolável, cheio de idiossincrasias a que se poderiam chamar... defeitos? A cidade mudará tanto assim de figura a depender do candidato escolhido pela maioria? Quatro anos de continuidade administrativa..., também quatro anos é o quanto, dizem, se precisa de tempo para se engendrarem grandes mudanças pessoais, ou tem a duração uma paixão.
Sem os campos do planalto de Piratininga, uma ovelha triste, desgarrada e desnutrida talvez tenha pensamentos confusos e despropositados. E imagina algo de bom e ideal que foi, se vendo a cada instante, sem caminho de volta. E imagino como seria andar até a seção de votação - fico por poucos minutos perdida no escuro do tempo e dos caminhos de casa até a escola. Então, encontro as esquinas certas, dobro-as, em uma manhã de eleição como só justinho as de São Paulo sabem ser: translúcidas, claras, calmas, serenas, abertas ao novo, sonhadas; mesmo esta mesma, a partir da qual realmente só posso imaginar.
E me vejo apaixonada... por São Paulo! Por uma cidade de carne e osso, que tem os olhos que costumam estar bem abertos. E agora me lembra algo de Vinicius de Moraes, de Caetano Veloso e da Roma Antiga. Beijando um travesseiro paulistano já cheio de ácaros e levemente mofado, São Paulo é um pensamento eterno em minha mente. Que seja também feita de realização com o novo prefeito. Se não tivesse vivido na cidade de São Paulo, sonhava com essa longa civilização de panorama de prédios estelares. Eu juro... Eu não sei bem o porquê.
Elisa Andrade Buzzo
Lisboa,
3/12/2020
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