COLUNAS
Terça-feira,
15/12/2020
Os defeitos meus
Renato Alessandro dos Santos
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Das três recomendações que a mãe de Drummond deixou a ele - não guardes ódio de ninguém; compadece-te sempre dos pobres; cala os defeitos dos outros -, é essa última que não sai da cabeça. É um conselho inesquecível, que deveria ser grifado por todas as gerações que vêm pela frente. Você não acha? Mas há um problema: e nossos defeitos, o que vamos fazer com eles? Pense bem nisto: quem vai nos alertar sobre eles?
Somos todos cobertos de vícios e manias. Não adianta tapar o sol com a peneira. Defeitos. Você sabe: pessoas perfeitas não existem. Mas sabe que elas podem se tornar melhores, até porque a ideia era essa desde o início, quando a lida diária e oportuna começou, e o archote caiu nas suas mãos e, de quebra, três estações de sua vida foram subtraídas de sua idade; por isso, ao perguntarem sua graça e quantos anos tem, lembre-se de que tudo começou com aquela corrida seminal de cotoveladas e dedos nos olhos, passando pelo tobogã, o Ferrorama e o Mandiopã. Tudo para chegar até aqui, a essa “sabedoria” sempre em trânsito.
Agora que tudo vai recomeçar, longe de desejar sempre a mesma coisa, por que não acrescenta esse conselho da mãe de Drummond à carroceria? Estamos sempre pela metade do caminho. Não há por que pensar diferente. E já que estamos aqui, no mínimo aprendendo algo, vamos jogar os dados e esperar que a sorte nos dê uma piscadela. Adiante, adiante. Mas, cuidado: à medida que os sinos dobram, o tempo parece encurtar numa dimensão oposta àquela de quando seus dentes eram brancos como cirandinha, e o sol parecia sempre querer quedar-se antes do inevitável. Era você ali na rua, brincando, alheio ao tempo que fluía.
E que flui.
E mais um ano chega ao fim, enquanto outro calendário vai parar na lixeira. Torça para que tudo fique como está - se a boa sorte o acompanha - ou para que o futuro lhe reserve um dia melhor - se o ano que foi embora não foi bom -, mas lembre-se de que você nunca precisa ser a-perfeição-em-pessoa coisa nenhuma. Problema algum nisso. É melhor que viva la vida loca, e de preferência o mais longe possível de bulas de remédios, jogando os olhos acesos adiante, iluminando tudo, enquanto T.U.D.O. é possível.
A você mesmo desejamos: mirabolantes planos diários, projetos que podem dar certo, a cabeça e a autoestima em ordem; sempre com um livro, andar para cima e para baixo. I.D.E.I.A.S. ao redor; vaga-lumes em gravidade zero.
A ninguém mais do que a você mesmo, como os defeitos dos outros, guarde tudo a você mesmo.
Texto publicado originalmente no site do autor (tertuliaonline.com.br)
Renato Alessandro dos Santos
Batatais,
15/12/2020
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