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COLUNAS
Quinta-feira,
20/5/2021
Das construções todas do sentir
Elisa Andrade Buzzo
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Adentra ainda, até o anoitecer, por este caminho de rio, e este caminho seguido de mar, que se encontrará algo estarrecedor quando a bula dos sentimentos for escrita, as doenças não tiverem cura e as divisões forem estabelecidas classificando os homens. Os dias foram os mesmos, as noites foram iguais e a chama da continuidade do homem do passado bruxuleia no aprendizado atual.
Mais um pouco de areia caindo na ampulheta e a mente transbordará e a faísca será apertada por um dedo apressado. Há um todo a ser recomposto, quando o mundo deixar de ser dividido e exaltado nos brilhos falsos de moedas e telas.
Há um tempo e um espaço reunidos em um contínuo. Os dias e as noites sucedem-se uns aos outros não como uma separação, mas como infinitas variáveis a se intrincarem na planura de um todo igual de evoluções infinitas. A medida da vida e da morte é um ciclo de moinho irrestrito a triturar trigo e água a correr.
Não há tristeza nem alegria, não foram inventadas ou hierarquizadas as construções todas do sentir, antes um direcionamento cego e categórico nessa massa sequencial, em que um caminho não olha para trás, nem muda seu sentido, apenas vai, e não sente se há quem impeça seu caminho.
Cada dia tem sido uma ampla possibilidade de recomeço das medidas pré-existentes, em que a possibilidade de alargá-las é considerada a cada instante. Não só considerada, como ofertada.
Em uma caminhada, em um fechar de olhos, em um pensamento, em uma mirada pousada em fluxo, desentranhar as interferências, atar os laços com os nós desaprendidos, pois o rio é rigoroso e a blusa do crescer da distância não acaba nunca se se esgarçar, até o rasgo permanente e o desaparecimento do tecido na gastura do tempo.
Elisa Andrade Buzzo
Lisboa,
20/5/2021
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