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Segunda-feira,
30/1/2023
Pelé (1940-2022)
Julio Daio Borges
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No crepúsculo de 2022, leio sobre a Semana de Arte Moderna (1922) - mas quem tirou o complexo de vira-lata do Brasil não foram os modernistas: foi Pelé.
Nélson Rodrigues, inventor da expressão, escreveu divinamente sobre o Rei do Futebol e eu não me atreveria.
Apenas recordo que o grande Nélson, que eternizou seus feitos de 1958, nunca o tinha visto jogar.
Nosso maior dramaturgo enxergava mal e pedia a Ronaldo Bôscoli - sim, o pai intelectual da bossa-nova - que o identificasse em campo:
“Mas quem é o Pelé? É aquele? É aquele menino???”
Do mesmo jeito que nos livrou do complexo de vira-lata, Pelé transformou o Brasil no País do Futebol.
É indiscutível que muito da reverência e do temor que o Brasil desperta, a cada Copa do Mundo, têm ligação com Pelé e com a mítica seleção de 1970.
As sequências de gols daquela campanha, sobretudo os gols da final, terminaram gravados na memória de qualquer brasileiro que tenha assistido tevê de 1970 pra cá.
E não existe brasileiro que não tenha viajado para fora do País e que não tenha ouvido “Pelé” sem parar - como se ele e o Brasil fossem sinônimos.
Claro que a lenda era maior do que a vida e Edson (sem “i”) - uma homenagem a Thomas Edison (com “i”) - nem sempre esteve à altura de quem esperava o gênio indefectível dos campos.
No último documentário da Netflix, Pelé é cobrado pelo seu posicionamento político (ou pela ausência dele).
Ao comentar a Copa de 1994, acabou consagrada a frase: “Pelé calado é um poeta”.
E sua fama de conquistador - fora dos campos - aparece mesmo numa série sobre Maradona, na Amazon Prime. (Não reconhecer a filha, que teve morte precoce nos anos 2000, e que era “a sua cara”, também pegou mal.)
Pelé foi um herói do nosso tempo - mas era humano, demasiado humano. (Nietzsche teria concordado.)
Felizmente, como disse Maradona, “la pelota no se mancha”. Em outras palavras: erros foram cometidos, principalmente fora de campo, mas as conquistas, em matéria de futebol, ninguém questiona.
Sem Pelé, não haveria Maradona, nem Ronaldo, nem Neymar. Arrisco dizer que não haveria Fifa - como ela é hoje - e nem o maior evento esportivo do planeta.
Apenas lamento que Pelé não tenha ficado bilionário em euros - como tantos outros ficaram -, pela riqueza que gerou e que vai continuar a gerar...
Também que não haja uma biografia à sua altura, como é a de Garrincha, assinada por Ruy Castro. (Enquanto ninguém se habilita, leiam “Estrela Solitária” - porque Pelé está lá.)
Afinal, se já não se chamasse “futebol”, era de “Pelé” que deveríamos chamar o esporte.
Nota do Autor
Texto originalmente publicado em 29/12/2022 no Facebook.
Julio Daio Borges
São Paulo,
30/1/2023
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