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Terça-feira,
28/6/2022
Quem vem lá?
Renato Alessandro dos Santos
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Adoniran Barbosa faz rir com suas músicas. Bom humor sempre foi uma característica que ele trazia pendurada no pescoço, feito a gravatinha borboleta, marca registrada de sua fisionomia. Mas, como toda feitiçaria, por trás desse estado de espírito animado, há também uma tristeza a percorrer os versos, em muitas das canções sorridentes que fez. "Iracema", por exemplo. A gente ri, mas Iracema, não. É a Corcunda da Foice que espera por ela, após aquela travessia de rua malsucedida, de um lado a outro de calçadas.
Adoniran é uma das três grandes forças do samba paulistano: Geraldo Filme e Germano Mathias estão ao lado dele no pódio, e é inegável como o desvario da pauliceia, o asfalto, os imigrantes italianos, a garoa e, de certa maneira, a cor local da metrópole que responde por São Paulo estão em Adoniran.
Outra peculiaridade que chama a atenção é aquela voz: como alguém pode cantar com um timbre daquele? Mas não foi a primeira vez que, no samba, gogós dos mais esdrúxulos deram-se ao trabalho de se arriscar na arte da cantoria dessa gafieira eterna que é a vida.
Este disco, Adoniran Barbosa, com Elis Regina e outros intérpretes, lançado pela EMI em 1980, com capa prateada e tudo, é uma homenagem que, em cheio, acerta o álvaro. Uma bela homenagem, aliás. Nada de funilaria nova; o verniz ainda continua o mesmo, isto é, nenhuma demão dadaísta a se amparar numa comparação injusta com a original. Em vez disso, artistas esmerando-se a prestar reverência a quem merece, e Adoniran merece, como todos sabem.
Da primeira faixa até a última, virando o vinil de um lado a outro, o que se ouve são algumas das mais populares canções feitas pelo compositor e intérprete que aliou um humor sem precedentes a um talento rítmico admirável e, acima de tudo, ainda contou com um carisma que, feito uma cobertura de chocolate, faz o diabetes ficar a um passo de ser ignorado.
Quem vem lá? É Adoniran Barbosa, pessoal, chegando no trem das onze.
Para ir além
Adoniran Barbosa (1980)
Adoniran, Elis e outros (EMI, 064 422868D)
Lado A:
"Fica mais um pouco amor" (Adoniran Barbosa)
"Tido ao Álvaro" (Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles) com Elis BR>
"Bom dia, tristeza" (Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes) com Roberto Ribeiro
"O casamento do Moacir" (Oswaldo Molles e Adoniran Barbosa) com Talismã e seu conjunto
"Viaduto Sta. Efigênia" (Adoniran Barbosa e Alocin) com Carlinhos Vergueiro
"Aguenta a mão, João" (Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil) com Djavan
"Acende o candeeiro" (Adoniran Barbosa) com Nosso Samba
Lado B:
"Apaga o fogo, mané" (Adoniran Barbosa)
"Prova de carinho" (Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil) com Vania Carvalho
"Vila esperança" (Adoniran Barbosa e marcos Cesar) com MPB 4
"Iracema" (Adoniran Barbosa) com Clara Nunes
"No Morro do Piolho" (Peteleco, Jacob de Brito e Carlos Silva)
"Despejo na favela" (Adoniran Barbosa) com Gonzaguinha
"Torresmo à milanesa" (Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro) com Clementina de Jesus e Carlinhos Vergueiro
Nota do Editor
Leia também "Se quiser tirar algo de mim, tire o trabalho, a mulher não" e "O cientista boêmio".
Renato Alessandro dos Santos
Batatais,
28/6/2022
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