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Sexta-feira,
1/12/2023
Esporte de risco
Luís Fernando Amâncio
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Toda vez que vou ao médico ― ocorre mais do que eu gostaria ― a prescrição que recebo é praticar atividades físicas. Seja qual for o problema. Coração, varizes, dor de garganta... Junto, claro, com os clássicos “não fumar” e “não beber em excesso”.
Fico pensando se não seria o sedentarismo o futuro “ovo” da nossa dieta. Anos atrás, comer um ovinho frito era delito grave. Quase pintavam as cascas dos ovos com aquelas imagens que aparecem nos maços de cigarro. “Comer ovo pode causar impotência sexual”, ou algo assim.
Hoje, o ovo está liberado pelos nutricionistas. Ao menos até onde eu acompanhei. Essas coisas mudam.
Até que alterem o status do sedentarismo, sigo as recomendações médicas e tento fazer exercícios. O que possui seus desafios. Não é toda atividade atlética que combina com o meu perfil. Por exemplo, eu nunca daria certo no Crossfit. Aquele ambiente com pessoas ligadas no 220, música alta, pesos e caixotes, sem falar nas emblemáticas corridas ao redor do quarteirão, não me encanta.
E as academias, com marombeiros revezando aparelhos de musculação e se fotografando no espelho?
Esportes coletivos também não servem pra mim. Pelo motivo óbvio de precisar de mais pessoas para praticá-los. Imagina, eu arranjar amigos suficientes para montar um time de futebol? Eu mal consigo meia dúzia de boas almas para ler meus textos. Nem distribuindo brindes conseguiria convencer 10 guerreiros para uma jornada chutando bola embaixo do sol.
Aí, você flexibiliza o conceito de “amigos” e começa a chamar conhecidos só pra completar a pelada. O que é o primeiro passo para se ver em um grupo de WhatsApp com o nome “Futebol de Quinta”. Tô fora.
Bom, existem tantas possibilidades de esportes para serem praticados quanto motivos para eu evitá-los. Natação, por exemplo, é agradável, sobretudo no calor. Mas tem o cloro nos cabelos, a toca apertando a cabeça, comprar óculos e trajes de natação, além da possibilidade de dividir raias com outros nadadores ― o que meu nado costas sem senso de direção não permite.
Lutas são divertidas. Mas há inconvenientes, como a chance de você levar um soco no rosto, ser pego em uma guilhotina ou quebrar o pé no aquecimento ― experiência própria.
Por exclusão, sobrou a corrida. Não é uma atividade difícil. A não ser que você seja um extraterrestre, é um movimento natural do corpo. Não precisa de colegas para o treino. E, apesar de ter acessórios que facilitam a prática, não é obrigatório comprar um tênis caro para correr. Tem muito maratonista que já correu descalço.
Sem falar que é uma atividade prazerosa. Não no princípio. Meus primeiros metros costumam ser bombardeados com questionamento de “por que que eu fui inventar isso?”. Você tem certeza de que correr foi a pior escolha de como passar os minutos seguintes. E que vai infartar até a próxima esquina. Depois, quando seu ritmo se ajusta e a respiração fica equilibrada, vem uma sensação boa. Nem parece que você está fazendo algo que vai te deixar todo dolorido no dia seguinte.
Correr é agradável, barato e fácil. Mas é um esporte de risco. E nem falo aqui das lesões na panturrilha, quadril ou joelho. Pode acontecer de você topar com cachorros que pensem que não simpatizem com o fato de você estar correndo. Falo com propriedade: semanas atrás, fui atacado por uma matilha. Contei oito cães vira-latas, uma gangue de malfeitores. Eu não quis interromper meus exercícios e levei uma mordida na perna.
Quatro doses de vacina antirrábica depois, cheguei a uma conclusão: parece que praticar exercícios me expõem a mais riscos do que benefícios.
Por isso, na próxima vez que um médico me indicar a prática esportiva, vou rebater:
― Doutor, posso substituir isso por algum composto de nutrientes? Quem sabe uma variante da vitamina B ou algo assim?
Nota do Editor
Leia também Mens sana in corpore sano, Mens sana in corpore sano II e Mens sana in corpore sano III.
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
1/12/2023
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