COLUNAS
Sexta-feira,
1/11/2024
A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Luís Fernando Amâncio
+ de 400 Acessos
O romance A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira, apresenta os dilemas enfrentados por um juiz federal. Abraão, após 25 anos de exercício da magistratura, passa por uma crise profissional e pessoal. Suas sentenças, quando direcionadas para prover direitos básicos a pessoas carentes, são revertidas em instâncias superiores. E ele não consegue se manter indiferente diante da frieza da Lei e da incapacidade de melhorar a vida dos que vivem em dificuldades financeiras.
Para dar uma leveza ao texto, Kleiton mobiliza como narradora Dice, filha de Zeus e Têmis. A deusa, na mitologia grega, é a responsável por julgar os juízes. Aqueles que não eram virtuosos em seu ofício eram penalizados com a decapitação por ela, o que explica o título do livro. O olhar externo de Dice dá ao texto um tom didático, auxiliando o leitor a compreender tecnicidades do rito judiciário.
A obra aborda questões econômicas e sociais, como a ineficiência de aposentadorias e de pensões para proporcionar dignidade aos mais pobres, e as dificuldades das famílias que buscam, na justiça, medicamentos de alto custo. Além dos casos que julga, o protagonista enfrenta problemas familiares, como as relações abusivas no casamento de sua filha.
A narrativa sobre o sistema judiciário é apropriada nos tempos atuais. A sociedade civil tem se questionado mais sobre a retidão na atividade de juízes, desembargadores e, sobretudo, nos despachos dos ministros de instâncias superiores. Na semana em que escrevo essa resenha, por exemplo, um sistema de compra de sentenças no Mato Grosso do Sul está sendo exposto nos noticiários.
O romance toca nas falhas do sistema, como a atuação fria de um jovem colega de magistratura do protagonista, ironicamente homônimo do autor. Mas há a contrapartida: Abraão representa os agentes da justiça que não se corrompem no exercício da Lei.
Sobre a escrita do livro em si, é válido fazer ponderações em relação ao estilo adotado. Ferreira é um pouco verborrágico em alguns trechos, sendo repetitivo na descrição de sentimentos e ações. Como no trecho abaixo:
Abraão se desmanchou. Começou a chorar. Primeiro, só com lágrimas descendo em sequência. Afastou-se do limiar da porta, encostou-se na parede oposta, e deixou o corpo cair sentado no chão. Daí explodiu num pranto tão alto quanto o da filha. (p. 41)
A cena tem tom novelesco, exagerado. É uma questão de gosto, evidentemente. Porém, uma maior sutileza, deixando para o leitor um pouco da composição da cena, dá mais requinte ao texto.
A Espada da Justiça (160 páginas) foi publicado pela Editora Labrador, em 2024. É o romance de estreia de seu autor, escrito ao longo de dez anos, através da experiência de Kleiton como juiz federal. Nascido em Arapiraca (AL), Ferreira tem outros projetos em andamento, como uma ficção sobre um jovem que se torna membro de uma célula nazista após começar a escrever um diário, além de uma antologia de contos, um romance histórico e uma comédia para o público jovem. Ele também atua como narrador de audiolivros.
Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte,
1/11/2024
Quem leu este, também leu esse(s):
01.
Cidades do Algarve de Elisa Andrade Buzzo
02.
Livros no Google de Wellington Machado
Mais Acessadas de Luís Fernando Amâncio
01.
7 de Setembro - 13/9/2019
02.
O pai tá on: um ano de paternidade - 28/8/2020
03.
Eleições na quinta série - 17/9/2021
04.
O Big Brother e a legião de Trumans - 19/4/2024
05.
A barata na cozinha - 26/10/2018
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|