COLUNAS
Segunda-feira,
16/4/2001
O Rosto de Cristo
Juliano Maesano
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Gastou-se dois milhões e meio de dólares numa pesquisa para reconstruir o que teria sido o rosto de Jesus Cristo. Acho que a ciência ou as redes de televisão (a pesquisa foi patrocinada pela rede de televisão inglesa BBC) poderiam encontrar algo melhor para fazer com o dinheiro.
Sou a favor de quase toda e qualquer pesquisa, mas gastar tal quantia para chegar a um resultado que não vale nada me pareceu estupidez. Maior ainda se os próprios pesquisadores concordam com o fato de o resultado nada representar. Vamos a alguns rápidos pontos de vista:
O nobre grupo escolheu como modelo o crânio de um judeu do século I, encontrado num cemitério perto de Jerusalém. A partir daí conta-se que seguindo o modelo chegariam na fisionomia aproximada de Jesus Cristo. Seria o mesmo que pegarem o meu crânio e fazerem o modelo do meu rosto, por mais perfeito que conseguissem, e depois dizer que esse era o seu rosto, caro leitor. Só porque vivemos no mesmo século e país.
O resultado do rosto a que chegaram estava completamente perfeito e cientificamente correto para um judeu do século I. Nada além disso. Pela forma do crânio e separação entre os buracos dos olhos, são capazes de reproduzir quase fielmente as bochechas, queixo, nariz, sombrancelhas e traços do rosto.
A cor da pele, dos olhos e dos cabelos são suposições, já que imagina-se que nenhum humano naquele tempo e localização tivesse pele branca e olhos azuis. Portanto deu-se a Cristo uma pele morena, olhos escuros e comprimento dos cabelos e barba seguindo o que parecia ser a tradição na época, tomando-se em conta escritos e pinturas.
Acho que tudo isso parece ter um fundo científico plausível e correto, se o
sujeito da experiência fosse um cidadão comum, judeu do século I. Mas não é.
Estão falando do que teria sido Jesus Cristo. Já que vai-se falar de Cristo, tem que se levar em conta que, teoricamente, ele não nasceu dos genes de José e Maria. Ele não tinha, necessariamente, o DNA de um judeu do século I. Ele poderia sim ter pele nórdica, barba loira e olhos azuis, afinal não é o filho do Senhor, do Espírito Santo?
Acho que reconstituir espécies como dinossauros ou crânios de evoluções pré homo-sapiens é muito válido. Mas querer reproduzir o rosto de um humano em particular (se é que ele era humano) me parece ser besteira, pelo menos nas condições oferecidas.
Juliano Maesano
São Paulo,
16/4/2001
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