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Copa 2002
Quinta-feira,
6/6/2002
Copa do Mundo: batalha entre nações
André Pires
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A partir desta semana, o Jornal Nacional da Globo começa a ser transmitido direto de Ulsan na Coréia do Sul, cidade escolhida como sede de um dos jogos da seleção brasileira nesta Copa. É então que cai a ficha. A Copa vai começar. A Copa do Mundo vai começar. Sim, a copa do mundo de futebol, evento máximo do esporte bretão por nascimento e brasileiro por merecimento, aquela que ocorre de quatro em quatro anos, vai começar! Overdose de ópio do povo brasileiro. Iguaria fina e rara para os viciados esportistas.
Em ano de Copa do Mundo, temas menores, como eleições para presidente do país, imediatamente são relegados a segundo plano. Contendas disputadas fora das quatro linhas, como: esquerda versus direita, Lula versus FHC (leia-se Serra), proletariado versus elite... são imediatamente consideradas de menor importância, quando comparadas a uma bela madrugada de Senegal versus Uruguai, regada a amendoim e cerveja gelada. Faz parte da natureza do povo brasileiro. Já nos duros/áureos (duros politicamente, áureos futebolisticamente) tempos da ditadura militar, muitos lamentavam o fato do escrete brasileiro ter a vitória praticamente garantida nos pés de Tostão e Pelé. Isso pelo uso indevido, porém oportuno, por parte de militares, que se apropriavam do nosso caneco para fazer propaganda nacionalista.
Triste ou não, há que se confessar que, de 4 em 4 anos, nossa pátria calça chuteiras. Mas não é totalmente correto afirmar que qualquer tipo de fleuma política fica esquecida quando do grande embate esportivo das maiores nações futebolistas do planeta. Sobretudo se levarmos em consideração o nacionalismo despertado somente em situações extremas, como em Guerras e Copas do Mundo de futebol.
O que dizer, por exemplo, da comemoração terceiro-mundista na Copa da França, com a vitória do Irã sobre o selecionado Americano, no tão badalado jogo da paz, disputado como uma verdadeira batalha campal?
Não é difícil perceber a sádica felicidade de nossos hermanos argentinos, quando esses aplicam seguidas e humilhantes derrotas sobre seus adversários britânicos (com direito a gol de mão e de placa, do "polêmico" craque Diego Maradonna), como se numa revanche pelas Ilhas Falklands, no fundo mais dolorosa do que se aplicada militarmente.
É só na Copa do Mundo que os soberbos Estados Unidos têm que baixar a cabeça e aceitar a superioridade dos representantes Latinos, Orientais e subdesenvolvidos. A Irlanda entra com a camisa do IRA debaixo de seu uniforme oficial, se tiver que enfrentar o selecionado Inglês. As disputas entre europeus têm sempre um sabor a mais, de embate histórico, onde a linha divisória de combates militares e esportivos fica tão tênue que quase não se vê. (Imagine quão grande seria o ódio bairrista do povo brasileiro contra argentinos se eles tivessem ocupado o Brasil na marra há algumas décadas atrás... Talvez seja por isso que o Paraguai é sempre um adversário difícil, quando atua contra a seleção canarinho.) Agora considere essa fator atuando nas disputas entre virtualmente todos os paises europeus. É assim que se dão os confrontos históricos. Sempre mantendo o fair play, of course.
Na Copa, futebol é football; que soccer, que nada! Portugal vai ter de lutar muito para subverter a supremacia de seus colonizados verde-amarelos. Misturaram-se com índias e escravas e, sem querer, criaram as super-máquinas jogadoras do futebol com excelência. O G8 na Copa é outro: nele estão presentes Brasil e Argentina (quem diria?!). Japão e EUA são países de terceiro mundo, sob as leis da FIFA. E isso dá um gostinho, uma libertação. Mesmo que temporária e ilusória.
Cada grito de gol pode ser uma vingança pela Palestina, embargos, sanções, ataques, usurpações, etc. Faça da Copa a sua vingança poética em cima daqueles que lhe oprimiram. Cada país pode arranjar um motivo cabível. Um rojão a cada gol. Solte o grito da garganta, e confira comigo no replay.
André Pires
Rio de Janeiro,
6/6/2002
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