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Quarta-feira,
14/8/2002
A Borboleta sem Asas
Nanda Rovere
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O TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) desde a sua reinauguração em 1999 tem oferecido à população uma programação cultural de qualidade e se destaca pelo espaço que oferece aos espetáculos experimentais.
Já passaram pelos palcos do TBC montagens teatrais como "Ópera do Malandro", "Os Saltimbancos", "Gota D'Água" (produções do próprio teatro) e "Replay", dirigidos por Gabriel Villela, "O Abajur Lilás" com direção de Sérgio Ferrara e Ester Góes no elenco; "O Rei da Vela" da Cia dos Atores com direção de Enrique Diaz, vários espetáculos dos Parlapatões, Patifes e Paspalhões, entre outros trabalhos de grande sucesso de público e crítica.
Para as apresentações de "Ópera do Malandro" de Chico Buarque em 2000 foi criada pelo diretor Gabriel Villela (na época diretor artístico do teatro), a Cia. de Repertório Musical do TBC, que forma um elenco fixo do teatro e já apresentou vários musicais.
Desde de maio deste ano, a Cia está em cartaz com o infantil "A Borboleta sem Asas", dirigido por Fezu Duarte, Marcos Okura e Fábio Ock e com produção do próprio TBC. Com casa sempre lotada, "A Borboleta sem Asas" encanta crianças e adultos.
O espetáculo conta a história da borboleta Babi que vive num jardim e percebe que é diferente das outras borboletas por não ter asas. Parte em busca de um lago no qual acredita que conseguirá as asas. No seu caminho, enfrenta preconceitos, mas também encontra amigos que a ajudam a superar os seus limites: a bondosa abelha Abel, a muda libélula Tininha, um solidário vaga-lume cego, uma centopéia, um zangão, um caramujo, e as preconceituosas borboletas Amélia, Joaninha e Hortência.
Com o apoio da AACD e do Teleton, "A Borboleta sem Asas" mostra às crianças a importância de respeitarmos o próximo, pois todos nós temos as nossas limitações e conseguiremos enfrentá-las mais facilmente se tivermos a ajuda de nossos parentes e amigos.
Um dos maiores méritos da montagem é o elenco, formado por atores jovens e, todos, de grande talento. Merece destaque as atuações da atriz e cantora Nábia Villela - a bondosa abelha Abel, que mais uma vez se destaca nos palcos paulistanos pela sua belíssima voz e pela sua excelente interpretação (o sotaque nordestino dá um brilho a mais ao seu personagem), Joyce Roma- a muda Tininha, que demonstra grande presença cênica e expressão corporal, Ivan Parente, um ator de talento que consegue transmitir toda a solidariedade e dificuldade de se locomover enfrentada pelo cego vaga-lume Lamparino e Halei Reimbrandt que chama a tenção pelo seu hilário zangão (brinca com a platéia e diverte com os seus improvisos).
O cenário e o figurino contribuem para nos transportar ao jardim onde acontece a história. Usando elementos que nos remetem aos parques e praças, numa estética próxima ao desenho em quadrinho, um dos destaques do cenário é a projeção de imagens numa tela.
As músicas, interpretadas ao vivo pelos atores, se integram perfeitamente à magia do espetáculo e tornam a peça dinâmica, impulsionando a ação dramática.
Muitas pessoas, inclusive do meio teatral não dão o devido valor aos textos infantis. Talvez o maior problema de alguns desses espetáculos é não ver a criança como um ser humano capaz de formular as suas próprias idéias.
Isso não acontece com "A Borboleta sem Asas", pois ele contribui para o desenvolvimento do senso crítico e valoriza a solidariedade entre as pessoas.
Quando eu assisto a um espetáculo infantil, volto a ser criança e revivo momentos felizes de minha vida. Se os seres humanos deixassem aflorar o seu lado "criança", certamente o seu dia-a-dia seria mais feliz.
Num momento onde o individualismo domina o nosso cotidiano, essa belíssima produção musical infantil do TBC demonstra que ser diferente não é sinônimo de inferioridade e somente a união e o respeito ao próximo possibilitará um mundo mais justo.
"A Borboleta sem Asas" prova, principalmente, que os textos teatrais voltados às crianças e adolescentes merecem a mesma atenção dos direcionados aos adultos.
A proposta era tratar da deficiência sem cair no didatismo. Conseguiram!
Parabéns ao TBC por produzir espetáculos inteligentes e criativos, além de manter uma excelente companhia teatral.
Diante das dificuldades que os artistas encontram para realizar e produzir peças de teatro, o TBC dá oportunidade para pessoas de talento mostrarem o seu trabalho.
Para ir além
"A Borboleta sem Asas". Sábados e Domingos às 16:00hs no TBC (Rua Major Diogo, 315, Bela Vista, São Paulo/SP). Tel: (11) 3115-4622.
Elenco: Mariana Elisabetsk, Nábia Villela, Joyce Roma, Ivan Parente, Neusa Romano, Daniela Cury, Haley Reimbrandt, Marco Aurélio Campos, Tania Paes e Péricles Carpigiani
Cenário: Vera Oliveira
Direção Musical: Eduardo Gudin
Autores: Carlos Alberto Soffredini, César Cavelagna, Marcos Ferraz e Marcos Okura
Nanda Rovere
São Paulo,
14/8/2002
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