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Quarta-feira,
30/10/2002
Três Homens Baixos
Rennata Airoldi
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"Puro entretenimento!", para começar utilizando as palavras dos próprios atores durante a entrevista coletiva sobre a peça. "Três homens Baixos" é um texto de Rodrigo Murat com direção de Fernando Guerreiro. O pano de fundo é o universo comum a todos os brasileiros: uma boa conversa entre velhos amigos, à mesa de bar. A partir daí, dos encontros periódicos de três amigos de infância, muito do universo masculino é revelado.
O tom de comédia está presente o tempo todo. Jonas Block, Flávio Galvão e Rogério Cardoso representam esteriótipos masculinos bem presentes nos dias de hoje. Um publicitário, um professor universitário e um bicheiro. Um casado, um divorciado e um bem infiel. O que ocorre porém é que, apesar de se conhecerem desde os tempos da escola, cada um, no decorrer da vida, fez suas escolhas e formou de maneira diferente seu caráter. Assim sendo, cada um, enfrenta hoje os problemas e as conseqüências decorrentes de suas próprias escolhas. Segredos guardados a sete chaves virão à tona a partir desse encontro.
De maneira sutil e, num desabafo coletivo, é revelado ao público que um é homossexual, que o outro é impotente e que o último é, no linguajar mais chulo, "corno". (Apesar de ser o coroa garanhão que vive traindo a esposa com ninfetas...) Na verdade, apesar do escracho, acho interessante refletir sobre um certo comportamento que todos nós, seres humanos, temos. O medo de expor e dividir nossas "vergonhas"! Sim, cada um de nós sabe muito bem daquilo que tenta guardar no baú mais fundo que carrega dentro de si.
Dessa forma, as pessoas passam a vida se martirizando, se maltratando, escondendo coisas importantes de seus entes mais queridos, com medo de serem rejeitadas. Então, coisas como "sexualidade", "vaidade", "insegurança" viram assuntos proibidos, por não se querer assumir um ponto de vista perante o mundo. Esse sou eu! Eu tenho problemas... Por que esconder a verdade de um amigo? Por que fingir que sempre estamos bem? Por que não pedir ajuda quando for preciso? Assim, a partir da primeira revelação da peça, todos se sentem seguros para cada um expor seu grande problema ou dilema existencial.
Claro que não se trata aqui, de nenhum texto muito elaborado, contento filosofias profundas, mas fala do humano através de uma linguagem fácil e direta. E, sem dúvida, o grande destaque é o trabalho do ator Rogério Cardoso. Comediante nato, nada escapa de seu olhar em cena. Como disseram seus próprios colegas, o Rogério vem de uma escola que não existe mais. O tempo de Oscarito, do teatro de revista, tempo em que aprendia-se no palco (não havia ninguém para ensinar a arte do ator numa sala de aula). Aliás, nem era "de bom tom" alguém de boa família ser artista! As coisas mudaram...
De qualquer forma, é admirável a maneira que ele tem de utilizar de gestos ilustrativos sem que sejam excessivos, acertando o tempo certo da piada que sempre funciona. Por outro lado, há momentos que só as piadas não são suficientes para manter o público atento. Como o cenário, os adereços não ajudam pois são muito "estáticos" e mal utilizados: a peça tem pouca dinâmica. De maneira geral, os atores têm um trabalho adequado à pouca pretensão artística proposta pela peça. Estão todos bem afinados! Na verdade, "Três Homens Baixos" estreou em São Paulo mas já vem fazendo viagens pelo Brasil há meses, somando mais de 250 mil espectadores.
Há gostos e gostos. Momentos e momentos. Há dias em que é preciso pensar, chorar, refletir. Há dias em que o melhor é rir e comer um boa pizza! O Teatro deve ser tudo isso. Deve tratar de todos os nossos momentos e comunicar das melhores e piores formas possíveis. Anarquia é assim mesmo! Cada um, com seu livre arbítrio, escolhe aquilo que lhe cai melhor. E nossa metrópole é isso: abriga todas as tribos.
"Três Homens Baixos" está em cartaz no Teatro Bibi Ferreira. Sexta às 21h30, sábado às 20 e 22h30, domingo às 19hrs. (R. Brigadeiro Luís Antônio, 931. Maiores informações através do telefone: 3105-3129)
Rennata Airoldi
São Paulo,
30/10/2002
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