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Quarta-feira,
20/11/2002
A Tempestade
Rennata Airoldi
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Dezoito anos! As comemorações da maioridade do Grupo XPTO resultaram em algumas montagens teatrais durante este ano. Acaba de estrear o primeiro grande clássico adaptado pelo grupo. Sob direção de Osvaldo Gabrieli, criador e diretor da trupe durante todos esses anos, "A Tempestade", de William Shakespeare, ganha à cena com a tradução e adaptação de Marcelo Rubens Paiva e Rosana Seligman. A idéia inicial, que surgiu há dois anos na outra sede do grupo em Florianópolis, se concretiza somente neste momento, graças a patrocínios e apoios culturais.
"A Tempestade" é o último texto de Shakespeare e, sem dúvida, um dos mais difíceis de ser adaptado. De qualquer forma, dificuldades e problemas de entendimento à parte, é uma montagem grandiosa que prima pelas belas imagens e efeitos visuais. Outro ponto forte é a trilha sonora e a sonoplastia, que, em vez de serem apenas pano de fundo, contracenam o tempo todo com os atores, trazendo de maneira intensa os diferentes climas da peça.
Está certo que o Teatro Sérgio Cardoso é, digamos, bastante grande, na verdade, imenso para os padrões atuais. Devo admitir que não é muito agradável, num primeiro momento, assistir a uma peça ouvindo os atores falando pelo microfone. Não sou contra a tecnologia, mas, de certa forma, causa um certo distanciamento entre o som da voz e a ação dos atores em cena. Entendo a necessidade do uso do equipamento, devido a altura dos efeitos sonoros presentes todo o tempo, no entanto, é um elemento que causa certa antipatia. No decorrer da peça, claro, vai sendo melhor incorporado.
A peça acontece em dois planos: o Mágico e o Real. Assim sendo, o lúdico está muito presente. Boas cenas de comédia estão dispersas em meio a um drama comandado pela tristeza e, ao mesmo tempo, pela surpreendente história de Próspero, interpretado aqui pelo ator Sérgio Mamberti. O mesmo que, ao ser encaminhado para a uma provável morte, graças à traição do irmão, termina aportando, com sua filha, numa ilha "encantada" que se torna seu novo mundo.
Para quem não conhece o texto original, a peça fala de traição, arrependimento e perdão. Perdas e conquistas, ambições e generosidade. Boa "pauta" para os dias atuais, onde o individualismo e o egocentrismo estão em alta. Próspero, ao mesmo tempo que arma uma grande tempestade para se vingar de seu próprio irmão e seus comparsas, os perdoa e os manipula, durante a sua estada na ilha encantada, por pura vaidade. E assim também consegue unir o jovem casal de namorados: Ferdinand, interpretado por Igor Cotrim, e Miranda, sua filha, Gláucia Libertini.
A peça traz ainda elementos circences que ajudam a compor o visual e são responsáveis por grandes momentos de dinamismo e surpresa. Está certo que o "visual" sempre foi um dos pontos fortes do Grupo XPTO, que sempre trouxe à cena figurinos e elementos cênicos grandiosos em seus espetáculos. A estética dos espetáculos do grupo sempre teve uma "plástica" própria, no que diz respeito à composição cênica de elementos como cenário, figurino e adereços.
Segundo o ator Sérgio Mamberti, este momento é muito propício à montagem desse texto, já que ele trata, em sua essência, da conciliação. Entre a realidade e o sonho, hoje no Brasil, há um ar de expectativa e suspensão em relação ao futuro do país. De qualquer forma, independente de qualquer opinião em relação à política ou ao governo, é uma boa oportunidade para deixar-se conduzir nessa grande viagem que é "A Tempestade". Nela, Próspero brinca um pouco de Deus e, com seus poderes e conhecimento, manipula à todos como se fossem simplesmente marionetes.
São poucas as chances de se montar e, por isso mesmo, de se assistir a um grande clássico. Esse traz, em especial, a assinatura do grupo XPTO, que vêm fazendo a história de nosso teatro há dezoito anos. As principais marcas do grupo permanecem na mistura de linguagens, na trilha e nos efeitos sonoros, nas lindas e mágicas imagens que permeiam o espetáculo o tempo todo.
"A Tempestade" está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, de quinta-feira a sábado, às 21hrs. e, aos domingos, às 18hrs. Endereço: Rui Barbosa, 153. Telefone: 288-0136. Só até 22 de dezembro.
Rennata Airoldi
São Paulo,
20/11/2002
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