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Quarta-feira,
27/11/2002
Histórias pra Ninar Gente Grande
Rennata Airoldi
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Se você pudesse voltar no tempo, encontrar com seu próprio "eu" (anos mais jovem), começar de novo... será que faria diferente? Ou deixaria a história correr em seu curso naturalmente? Tentaria se transformar no seu próprio herói? "Histórias pra Ninar Gente Grande", da Cia. Sem Cabeça de Teatro e Variedades, é uma peça que trata disso e de um pouco mais. Com concepção e direção de Flávia Pucci, jovens atores se desdobram em muitos personagens bem conhecidos das pequenas cidades do interior de nosso país.
Uma peça que resgata o que há de mais infantil e inocente em cada um de nós. A infância! Que, aliás, está cada dia mais breve, infelizmente. E aqueles que trazem consigo um pezinho no interior vão, sem dúvida, se reencontrar em muitos momentos, como se estivessem assistindo à sua própria história de vida. E é assim que começa tudo: um poeta que quer produzir uma boa história buscar dentro de si, inspirado por grandes autores, uma ponta de verdade e entusiasmo para por no papel. Um bom texto é sempre um grande desafio.
Sem perceber, ao olhar para si, este poeta encontra suas próprias raízes. O resgate da pequena comunidade onde morava, dos personagens e das histórias que conheceu, presenciou, viveu - mas que já estavam quase todos esquecidos. Somos assim mesmo, não é? Esquecemos e substituímos tudo, o tempo todo. De repente, olhamos num espelho e nem sabemos mais quem somos. Não nos reconhecemos em muitas coisas, com o passar dos anos.
É assim que o jovem poeta, que nem sonhava em escrever mas que já gostava de contar "estorinhas" para as meninas na beira do rio, ajuda este homem "sem história" a resgatar sua essência e seu novo lugar no mundo. Os amores são vistos com outro olhar. As críticas e o conhecimento do "já vivido" traz um tom de nostalgia e saudosismo que todos nós carregamos. É como pegar um álbum de fotos e começar a lembrar dos momentos congelados naquelas imagens.
A montagem é simples e bem intimista. Um lugar que se transforma em muitos, transportando todos os personagens para os vários ambientes da cidade. Caixotes, varais, figurinos e adereços, imagens que se formam e se esvaem... É bonito assistir à coreografia, que é um dos pontos marcantes da peça. Outra coisa interessante são as cantigas e cantos que remetem igualmente ao interior e a nosso folclore. Esse resgate é muito bem utilizado como elemento lúdico, ajudando compor a cena.
Alguns momentos tornam-se um pouco repetitivos e caóticos, porém, não é algo que dure a maior parte do espetáculo. Toda obra, no fundo, traz direta ou indiretamente pequenos ou grandes problemas e falhas. A imperfeição é inerente à nossa existência e, portanto, está sempre presente. Claro que há algumas imperfeições mais evidentes que outras...
Essa semana é a última chance para assistir a "Histórias pra Ninar Gente Grande", que já esteve em cartaz em São Paulo e já viajou pelo interior do estado. O interessante também é que, de certa forma, inaugura na cidade um novo espaço alternativo. É uma pequena sala que faz parte da Oficina de Atores Nilton Travesso. A sala que já foi utilizada anteriormente pela própria escola, agora abre as portas para grupos profissionais apresentarem suas peças. Novos espaços são sempre bem-vindos!
Para ir além
"Histórias pra Ninar Gente Grande" faz suas duas últimas apresentações neste sábado às 21hrs. e neste domingo às 20hrs. A Oficina de Atores Nilton Travesso fica na Rua Capote Valente, nº 667.
Rennata Airoldi
São Paulo,
27/11/2002
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