O programa proposto pelo Governo Lula, "Fome Zero", merece todo o respeito
dos brasileiros. Só quem nunca passou fome na vida dirá que um projeto desse
tipo é demagógico.
O programa merece todo o respeito, não porque é do Lula, mas porque é
simplesmente necessário. E urgente. Como diz um ator na TV: "Quem tem fome,
tem pressa". É verdade. Primeiro deve-se dar de comer a quem tem fome, pois
senão ele pode morrer. Saco vazio não fica em pé. Depois deve-se pedir algo
em troca desse cidadão que teve o estômago forrado de comida - a aí reside
todo o problema dos programas assistenciais já em vigor no Brasil, como
veremos adiante.
No Distrito Federal, o governador Joaquim Roriz tem um programa de combate à
fome que só não é lembrado pela mídia porque ele não é petista, nem de
esquerda. Se fosse petista, sua obra estaria sendo alardeada a todo o País,
como sendo um programa-piloto que poderia até ser copiado por Lula.
Mas, o que faz Roriz pelos pobres? Além de doar lotes aos miseráveis que
chegam à Capital (da mesma forma que FHC doou terra a milhares de
"sem-terra"), provenientes de todos os cantos do País, principalmente do
Norte e do Nordeste, Roriz tem um programa de combate à fome que inclui:
- cesta básica para quase 100 mil famílias carentes;
- programa "Renda Minha", substituto do "Bolsa Escola" do ex-governador
Cristóvam Buarque, que oferece dinheiro a mais de 100 mil famílias pobres,
desde que mantenham as crianças na escola;
- distribuição de leite e pão para quase 100 mil crianças pobres, até a
idade de 8 anos;
- construção de restaurantes populares, nas cidades-satélites, que oferecem
refeições balanceadas orientadas por nutricionistas, ao preço de R$ 1,00 a
unidade, aí incluída a sobremesa e o suco de fruta; o custo excedente das
refeições é assumido pelo governo do DF; em sua campanha eleitoral, Roriz
prometeu continuar a construção de restaurantes, pelo menos 1 em cada uma
das cidades-satélites, além de 1 na Rodoviária, no coração do Plano Piloto.
Além desses programas "paternalistas", Roriz prometeu criar outros dois,
voltados aos jovens e à Educação:
- programa "Primeiro Emprego", no qual jovens receberiam R$ 200,00 do
Governo em troca do trabalho em empresas do DF; as empresas pagariam apenas
os encargos trabalhistas, da ordem também de R$ 200,00; com isso, os jovens
trabalhadores não deixariam de garantir seus direitos trabalhistas;
- programa "Bolsa Universitária", no qual estudantes (jovens,
preferencialmente) receberiam R$ 400,00 por mês para pagar cursos em
universidades particulares, com a obrigação de contribuir, no futuro, depois
da formação, com trabalhos para a comunidade dentro da área em que se
formou.
Os programas de Roriz são tachados de "paternalistas" pelo PT local e outras
personalidades. Mas, os programas já em vigor no Governo FHC, e este "Fome
Zero", de Lula, porventura também não o são?
Não há necessidade de Lula inventar a roda. Há muitos programas de combate à
fome já implementados em nossa sociedade, tanto por parte do Governo, como
de Igrejas, ONGs e inúmeras outras instituições. O que falta é aperfeiçoar
esses programas, de modo a eliminar a corrupção que sempre existe em
programas semelhantes, para maximizar o resultado final, que é levar comida
ao maior número possível de famintos.
Em primeiro lugar, é importante eliminar todas as formas de desperdício e de
corrupção que programas assistenciais milionários trazem consigo. Todos
sabem, p. ex., o maná que é a merenda escolar para os corruptos. Se o
problema é "fome", deve-se levar "comida" ao faminto. Essa premissa pode ser
verdadeira, mas nem sempre funciona a contento. Um programa de distribuição
de alimentos envolve uma logística complexa, desde a compra, o transporte e
a entrega dos alimentos ao destinatário final. Nesse longo processo, o que
mais existe é desperdício e corrupção, especialmente através de preços
superfaturados e desvio de produtos.
Assim, parece ser ponto pacífico entre os estudiosos do assunto que os
pobres recebam, mensalmente, um certo valor em dinheiro ou um
vale-alimentação. Além de evitar a corrupção que existe em todo processo de
compra, transporte e entrega de cestas básicas de alimentos - que
normalmente consome 1/3 da verba do programa -, com a maximização do
programa assistencial haverá um maior número de beneficiados. As cidades e
os vilarejos em todo o País, onde o programa de combate à fome for
implantado, serão imediatamente beneficiados, com o aumento tanto das
transações comerciais locais quanto da arrecadação de impostos. Com o
vale-alimentação numa das mãos e a identidade na outra, o cidadão carente
teria direito a produtos especificados no vale, e somente esses produtos
poderiam ser adquiridos nos mercados locais. Me parece que essa é a melhor
forma de se evitar que haja desvio de dinheiro para outra finalidade, que
não seja a compra de comida. Se o cidadão carente receber o dinheiro
depositado no banco, em sua conta-corrente, há uma excepcional vantagem,
porém uma desvantagem também grande. Com o dinheiro na mão, por menor que
seja seu valor, o carente se sentirá como uma pessoa que melhor está
exercendo sua cidadania, pois estará incluído no processo econômico-social
de sua comunidade - essa a vantagem. O ponto negativo fica por conta de que
esse cidadão pegue o dinheiro no caixa e vá direto à bodega para comprar
cachaça.
Quem, afinal, além do Governo, pode cooperar com o programa "Fome Zero" de
Lula? Ora, todos nós.
Inicialmente, os gordinhos do Brasil estão convidados a dar sua parcela de
ajuda. Além dos milhões de gordinhos anônimos, poderiam doar seu almoço aos
pobres (quem sabe, o jantar também!) personalidades como Faustão, Jô Soares,
João Gordo, Fafá de Belém (lembra do programa de Fafá, "Dieta Já!", no
início dos anos 80?), incluindo nesta lista a maioria dos rechonchudos
bispos da CNB do B. Pelo menos até os(as) gordinhos(as) conseguirem uma
silhueta parecida com a de Lucinha Lins. Nesse grupo, pessoas com barrigas
já um tanto proeminentes - a começar pelo próprio Lula - poderiam doar pelo
menos o almoço. Afinal, se até bandidos na prisão estão doando uma de suas
quatro alimentações diárias - o jantar -, por que não imitá-los? A longo
prazo, essa prática teria dois importantes impactos positivos na sociedade:
além de matar a fome de milhões, ajudaria a manter a saúde dos
"ex-gordinhos", que, sem colesterol, teriam uma vida mais longa e de melhor
qualidade. O único senão é que, com a longevidade, os "ex-gordinhos"
viveriam alguns anos a mais, onerando ainda mais a Previdência...
O que não quer dizer que você, magricela como eu, não tem o dever de
contribuir para a eliminação da fome no Brasil, continuando a comer como um
porco, sem mostrar nenhum tipo de remorso. Algum alimento em casa sempre
poderá ser doado à organizações de caridade, como 1 kg de arroz, de feijão,
de fubá ou açúcar. Com certeza, não lhe irá fazer falta alguma. Aquele pão
velho, não jogue fora, junto com o lixo. Separe em uma sacola para doar a
quem necessita - o porteiro, o menino de rua que dorme sob a marquise aí no
lado do seu prédio, que você finge que não existe, o mendigo que pede
comida.
Mas, o mais importante num programa desse tipo é ensinar aos pobres como
eles podem também combater a fome. Porque, com essa política paternalista de
dar tudo de graça, sem exigir nada em troca, não se elimina o problema. Pelo
contrário, só faz aumentar a malandragem. Tem muito sujeito aí que é pobre
porque é malandro, não gosta de trabalhar. Para esses, a doação de cestas
básicas é um maná que cai do céu todo mês, não é preciso mais procurar
trabalho. Com a rede esticada na varanda ou dentro do barraco, com o bucho
cheio, a única coisa que tem em mente esse Jeca Tatu criado pelos programas
assistenciais é agarrar a comadre e fabricar mais um bacurizinho. Tem já uma
escada de 15 barrigudinhos, andando pelo terreiro, com a bunda de fora, um a
mais não vai fazer diferença.
Esse o erro essencial de todo programa paternalista, que nada exige do
protegido. Quem recebe uma ajuda precisa dar uma parcela de seu trabalho em
troca. Nem que seja pintando o meio-fio das ruas, combatendo incêndios
florestais, recolhendo lixo, capinando jardins públicos, participando de uma
frente de trabalho, como a construção de açudes. Dar tudo de graça a uma
pessoa, mesmo que seja comida, não educa. Pelo contrário. Quem se sujeita a
um esquema desses, só querendo ajuda, sem nada dar em troca, tem pouco
respeito por si mesmo. Só o trabalho dignifica a pessoa humana.
E como o pobre pode combater sua própria fome? Nem todos os pobres têm
condições de plantar, pois não dispõem de terras. Nas favelas e nos prédios
residenciais populares não há lugar para se fazer uma plantação. Nem é
possível plantar onde não chove, como ocorre no Polígono das Secas. Porém,
há muito pobre que não planta porque é vagabundo. No Rio de Janeiro e na
Baixada Fluminense, p. ex., há muitas residências que possuem um terreno
baldio na frente da casa, muitas vezes atrás também. Na frente poderia haver
um jardim, atrás uma horta. Mas, não há nada. No máximo, há um pé-de-goiaba
na frente da casa, plantado pelas aves do céu, ou um pé-de-cana atrás,
nascido não se sabe como. Vê-se um bando de marmanjões correndo atrás de uma
bola, levantando uma pipa com linha de cerol, fazendo uma batucada. Mas
plantar um pé de milho, isso nunca. Passa-se necessidade, mas a preguiça é
mais forte. Pé-de-alface, para essa gente, nasce dentro do Carrefour, e o
culpado pela fome é o dono do supermercado, esse sujeito ganancioso.
Em Brasília, no Riacho Fundo, eu conheci uma família de descendentes de
japoneses que tinham arrendado um terreno para a plantação de um pomar e de
hortas. De um lado do riacho, viam-se várias casas de japoneses, feitas em
alvenaria, com grande espaço, todas rodeadas de exuberante vegetação. Na
garagem da pessoa que visitei, havia um carro de passeio, uma picape e uma
moto. As plantações estendiam-se a perder de vista, até a encosta do morro.
Havia "parreiras" de chuchu, plantações de alface e repolho, e um pomar
carregado de tangerinas maduras, no ponto de colheita. Do outro lado do
riacho, a cena era desoladora. Uma casa caindo aos pedaços, nenhuma
plantação em volta, uma turma de barrigudinhos - alguns de bunda de fora -
correndo pelo terreiro. Com certeza, lá não vivia uma família japonesa.
Questão de cultura. E de sem-vergonhice.
O programa "Fome Zero", é lógico, vai ser implantado para matar a fome de
famintos, não necessariamente para criar empregos. Porém, nenhum programa
assistencial desse tipo triunfará se não forem exigidos dos beneficiados
pelos menos duas ações concretas:
- todo beneficiado deverá contribuir com alguma forma de trabalho para a
sociedade que o está auxiliando;
- todo beneficiado deverá ser incluído no projeto de controle de natalidade
governamental, para que não tenha mais filhos (desde que já tenha uns três).
Não dando a população carente essa contrapartida à sociedade, o programa
"Fome Zero" de Lula será como todos os outros já foram até aqui: um antro de
corrupção, um cabide de empregos para os compadres, um palanque para a
politicagem petista, além de sobrar uma enorme massa de manobra, que tanto
poderá ser utilizada como "voto de cabresto" nas eleições futuras, como
poderá ser aliciada a participar de movimentos contestatórios, tão ao agrado
do Partido dos Trabalhadores, de modo a aumentar ainda mais o exército
"falangista" que tem seu núcleo no MST - o "braço armado" do PT. E, sem um
programa sério de controle de natalidade, de nada valerá esse novo esforço
governamental, pois o problema se estenderá ad aeternum nessa terra de Jeca
Tatu, com a agravante de mais e mais crianças famintas serem jogadas no
mundo, sem amparo, devido à paternidade irresponsável que tanto desgraça
nosso País. Ou seja, além de comida, anticoncepcional também.
Caro Felix: Concordo com as sua bem fundamentada argumentação. O trabalho dignifica o homem, e muitos dos que estão aí - nem todos, é lógico -, passando necessidade, estão neste estado muito mais pela falta de vontade de algo fazer por si mesmo. São vagabundos que além de não gostarem de trabalhar para que assim possam almejar uma vida melhor - gostam apenas de sombra e água fresca sendo atraidos apenas pelas coisas banais como futebol, mulheres e samba que como todos nós sabemos não enche a barriga de ninguém - odeiam estudar, para assim tentarem ampliar vossas mentes. Só o trabalho e o estudo levantará este país. Na primeira hipótese para todos, na segunda apenas para os que realmente querem, para os que realmente sentem o chamado interior para as coisas ligadas ao espírito. Estudo para todos, mas para todos que se interessam e gostam de tal atividade. PS- Não entendo por que grande maioria das pessoas pensam apenas em ficarem famosos - modelos, jogadores de futebol, Casa dos Artistas, dançarinas de axé. Por que não o trabalho árduo e o estudo dedicado?
Concordo com você, Félix, em muitos aspectos. Só acho um pouco de exagero essa estória de 15 barrigudinhos. No Brasil a taxa de natalidade diminuiu muito nos últimos anos. Deve estar em 3,5 filhos por família.
Nós temos no Brasil, em se tratando de pobreza ,acredito, uma boa parcela de miseráveis e uma boa parcela de pobres(nestes estão a classe média baixa e média).Então, de fato, a questão da educação é urgente.Se deixar o pessoal
fica só recebendo a cesta básica.
Agora, é preciso que se diga, que esse pessoal,de que estou falando, não tem tanta culpa disso, simplesmente porque não tiveram acesso à educação básica ou
fundamental , digamos 7,8 anos de estudo regular (nem talvez seus ascendentes- o que é pior -). Os miseráveis ,talvez, nem 1 ano de escolaridade. Bem ou mal,com professores se aprende. Para quem não tem ambiente cultural em casa, a transmissão feita pelos professores e a discussão que ela gera com os alunos não é desprezível, você sabe.
Se o atual Presidente - em quem votei -
resolver combater a fome com critério,firmeza e competência, para mim será bom, pois atualmente gasto de Cr$4,00 a Cr$5,00 por mês, dando alimentos para pessoas que, individualmente, passam pedindo na porta da minha casa , ou de maneira mais organizada (igrejas e outras organizações).
O pobre precisa ser educado para não se tornar um explorador. Quem mora em bairro pobre como eu sabe como é. Se se dá um remedinho para um, logo vem outros pedindo. Se se empresta uma ferramenta vários descobrem e vêm também pedir.
Não esqueço meu pai, falecido aos 81 anos de idade, que,apesar de ganhar salário mínimo,tinha seus remedinhos em casa, bem como suas ferramentas.
Arrumar dinheiro para cerveja, passeios, praias, roupas o pessoal dá um jeito, podes crer.