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Sábado,
9/9/1950
Apresentação, na falta de melhor termo
Urariano Mota
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Nasci Urariano, na falta de outro nome. A culpa total dessa originalidade, não bastasse a parcial culpa do meu nascimento, é do meu pai. Ou melhor, de 3 qualidades do meu pai: ele era, e assim continuará a ser se houver vida póstuma, desequilibrado, espírita e alcoólatra. Junte o leitor essas 3 coisas e consiga dormir. Pois meu pai juntou, e sonhou, quando eu estava perto de nascer.
O sonho que ele teve foi tão mirabolante, tão sem pé e sem cabeça, que um resto de pudor me faz um impedimento. Por cima, eu direi apenas que no sonho afloravam letras da terra, do chão, para ensiná-lo a escrever o meu nome, o meu e o da minha irmã, que se chama Urariana, nascida 5 anos depois. O fato, dizendo melhor, o outro fato, pois todo sonho é real, um dos fatos é que nasci, e me criei no Recife, aí por volta de 29 do 9 de 1950. Dizendo melhor, nasci e me criei em Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Na época, os bairros eram mais distantes do centro e realizavam quase todas as nossas necessidades. Dizíamos então, "vou à cidade", quando queríamos dizer que íamos ao centro do Recife. E o centro do Recife era imenso, era outra cidade.
Mais tarde, iniciei um curso de Direito, e, para não me alongar muito, dele me vi obrigado a desistir. Iniciei então um de matemática, e fizeram-me, a estupidez e a estreiteza de alguns mestres, dele desistir. Aí, para ter alguma graduação universitária, fiz jornalismo, um dos piores cursos que um ser humano pode fazer. Falo, claro, de minha experiência, que não deve ser tão diferente assim da de outras cidades. Vi que jornalismo era um curso tão estreito e estúpido quanto o de matemática, com a diferença que, em jornalismo, a estupidez e a estreiteza são o próprio curso, enquanto no de matemática essas qualidades ficam para alguns mestres. A título de ressalva, esclareço que tenho amigos professores de jornalismo, que, inteligentes e éticos, devem concordar comigo. Eles me compreenderão, assim como os compreendo: a gente deve sobreviver de alguma maneira.
Tenho 3 livros: 2 publicados e um inédito. Um romance, Os Corações Futuristas, publicado aqui no Recife. Uma novela, Japaranduba, 49, no site www.livrorapido.com.br, onde, para consegui-lo, os candidatos a leitor-vítima devem acessar o nome deste virtual que lhes fala. Feitas as contas, romance publicado no Recife, outro em site, e mais outro que ainda não viu a luz do dia, feitas as contas, fica este saldo: quem publica na província continua inédito.
O que me redime, o que fica, honra e consola é a internet. Eu, que sempre resisti a esse avanço inegável da comunicação, que me deixava ficar em condição semelhante à de alguém que gritasse contra a eletricidade (imaginem um animal barbudo bradando essa pérola), para não morrer cheio de tristeza e raiva em Olinda, vim a publicar sistematicamente capítulos de Os Corações Futuristas, como se contos fossem, no site espanhol www.lainsignia.org. Desconfio que não foi por bondade do site, desconfio, mas confirmem por favor.
Escrevo em português, sempre. Ora com raiva, ora com indignação, ora com ironia, ora com um coração sentimental, frouxo, que me deixa os olhos rasos dágua. Isto quase sempre acontece quando me lembro das pessoas a quem amei, cuja infelicidade eu não pude sufocar.
No mais, é isso. Ou quase isso. O livro inédito é "O caso Dom Vital", novela policial à procura de editor.
Urariano Mota
Olinda,
9/9/1950
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