COLUNAS
Quarta-feira,
19/3/2003
O Sarrafo
Rennata Airoldi
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Na penúltima segunda-feira, aconteceu um evento envolvendo grande parte da classe teatral da cidade de São Paulo. Tudo porque seis importantes grupos de teatro se uniram em prol de uma nobre causa: colocar a boca no trombone! Uma expressão não tão erudita tem tudo a ver com o lançamento do jornal O Sarrafo. Essa, que pretende ser uma publicação mensal, tem como objetivo discutir política, cultura, estética, e, porque não, a ética que envolve o fazer teatral.
Eis os seis grupos: Ágora (Centro para Desenvolvimento Teatral), Companhia do Latão, Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes, Companhia Folias D'Arte, Teatro da Vertigem e Parlapatões. Com exceção do último, todos os outros foram beneficiados pela Lei de Fomento ao Teatro, desenvolvida pela Secretaria da Cultura do Município de São Paulo. Isso possibilitou, segundo um dos colaboradores, uma certa "folga" no orçamento dos grupos, que, hoje, revertem o incentivo para a própria população através dessa publicação que terá distribuição gratuita. Serão 10 mil exemplares de informação, conhecimento e debate.
No primeiro número do jornal destaco o editorial, as sábias colocações do glorioso Gianni Ratto, e a entrevista central que juntou num só debate Celso Frateschi, secretário da Cultura do Município de São Paulo, Cláudia Costin, secretária da Cultura do Estado, e Sérgio Mamberti, Secretário de Artes Cênicas do Governo Federal. A trupe de entrevistadores representando O Sarrafo não poupou esforços para colocar os três na berlinda, no bom sentido. Claro que não é com uma entrevista que as coisas se resolvem, mas o pensar e o fazer dependem de ação e não de inércia. Questionar e discutir é o primeiro passo.
Sem dúvida que essa iniciativa pode trazer grande avanço para a Arte em nossa cidade. Não só para o Teatro pois trata-se de um manifesto a favor da cultura e mais: da cultura como um bem social, acessível à todos. Não podemos nos calar com receio de não sermos entendidos. A necessidade atual é de mudança em todos os níveis da nossa sociedade. A própria eleição presidencial trouxe ao País este clima de otimismo e renovação.
Como disse o mestre Gianni Rato na noite de lançamento do jornal, O Sarrafo pretende ser "pau pra toda obra" no que diz respeito ao Teatro da cidade. E o importante é que essa iniciativa perdure e abra caminho para outras que possam surgir. O jornal é dividido em partes iguais para que cada grupo escreva reportagens, matérias, ensaios, além das páginas coletivas. Não pretende se tornar uma publicação com o cunho puramente jornalístico e sim um fórum para que artistas pensem e repensem sua arte e seu ofício. Portanto, não há regras no quesito colunistas, colaboradores, editoriais. A dança será conforme a música que tocar!
Espero, porém, que essa iniciativa possa realmente atingir não apenas o circuito restrito dos teatros. Ou seja: que O Sarrafo circule entre outras mãos, que não sejam somente as dos atores e diretores; que seja questionado por outras bocas; e que atue num sentido prático e não se restrinja ao plano das idéias. Que este jornal seja realmente lido e não vire um mero embrulho de feira. Não que eu tenha nada contra feiras-livres, mas é que a população, de maneira geral, tem uma tendência a menosprezar publicações gratuitas. É assim que muitas vezes há grande desperdício, não só o papel (a matéria concreta), mas também de idéias, ideais, trabalho e conteúdo. Portanto, caro leitor, leia O Sarrafo, questione e passe adiante! E, se você perdeu o exemplar de março, não se assuste, o sucesso da "noite da estréia" foi grande. Mas, abril está aí e uma nova edição estará circulando.
Rennata Airoldi
São Paulo,
19/3/2003
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