As trevas modernas de Arcand | Marília Almeida | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 15/1/2008
As trevas modernas de Arcand
Marília Almeida
+ de 7300 Acessos

Após mais de vinte anos, finalmente o diretor quebequiano Denys Arcand termina sua trilogia sobre a depressão e os conflitos causados pela modernidade com A época da inocência (L'Age des Ténèbres, 2007), inspirado pelo sucesso dos filmes anteriores. O encerramento, definitivamente, não é feito com chave de ouro após o ótimo Invasões Bárbaras (Les Invasions Barbares, 2003), que recebeu os prêmios de melhor atriz e melhor roteiro no Festival de Cannes e concorreu a Palma de Ouro no mesmo ano de seu lançamento; e o engajado O declínio do Império Americano (Declin de L' Empire Americain, 1986), ambas seqüências que contam duas etapas diferentes da vida do socialista boêmio e apaixonado pela vida, Remy, passando por temas como a americanização da cultura, a sociedade do consumo, a poligamia, a família fragmentada e até a eutanásia.

O filme começa mecânico, sem surpresas e demora a engrenar. Logo percebemos que o ordinário funcionário Jean-Marc, interpretado pelo popular ator cômico de TV do país, Marc Labrèche, se esconde atrás de delírios eróticos para fugir da dura realidade colocada à sua frente: um emprego banal, uma chefe autoritária, uma mulher empresária e duas filhas adolescentes que o ignoram. Seus sonhos são compostos basicamente por duas mulheres opostas: a princesa medieval e mulher perfeita, no papel de Diane Kruger, e a figura moderna de mulher superficial e carnal, uma jornalista que adora fazer sexo com as celebridades que entrevista, no caso, Jean-Marc transformado em um escritor célebre, na pele de Emma de Caunes. Ambas parecem exercer a mesma força na mente de Jean-Marc, que parece sempre dividido entre o amor e o sucesso, entre cair de cabeça no novo mundo que se apresenta diante dele, com todo seu egoísmo e jogo de interesses; ou conservar os valores antigos de outrora, como a compreensão e o companheirismo.

Um jogo linear e tedioso entre sonho e realidade cede, enfim, a uma lenta subida até o ápice desse estado sufocante, cuja passagem mais notável é um original jogo de final de semana em um castelo, ao estilo dos atuais RPGs e que encontra paralelo no virtual Second Life. É nessas cenas que se concentra o maior humor do filme e Jean-Marc percebe, finalmente, que não está sozinho em sua fuga. Uma vida sem grandes feitos parece desesperar cada vez mais o protagonista, que se vê rodeado somente por estereótipos e caricaturas de pessoas, e não o contrário. Não há alguém que seja real e espontâneo. Todos parecem usar máscaras e atuar em um mundo de aparências. É clara a ausência do engajamento político e aberto do primeiro filme. Aqui, ele é muito mais um existencialismo mórbido e pessimista: um reflexo dos tempos modernos? Ele exaspera e faz com que o protagonista, finalmente, comece a agir e o filme a efetuar sua descida rumo a um pouco de esperança.

A primeira impressão é que o filme retrata um homem na andropausa, a menopausa masculina. Afinal, ele passa pelo peso de ver sua mulher ser mais bem sucedida que ele próprio, suas filhas começarem a fazer sexo, além de sentir falta do amor de uma mulher bela e jovem. Mas, para quem conhece os dois outros filmes do diretor, sabe que o filme vai além. Afinal, não é somente o sucesso, mas o seu preço, no caso, o abrir mão da própria família por prêmios artificiais; e não é o sexo, mas os valores que ele destrói, sugados pela tecnologia que fragmenta relações. Uma cena caricata e realista é quando Jean-Marc diz a suas filhas que irá se separar e recebe em troca uma exclamação sem surpresas ― todos o fazem, não seria diferente com eles - ou quando o filme mostra um passeio de família no campo, nem por isso salvo de todo tipo de tecnologia, que parece onipresente e principal instrumento desse cenário desolador.

A época da inocência não pode, enfim, ser classificado apenas como comédia satírica. Na verdade, há menos humor do que drama. Tudo é cru diante dos olhos do espectador. O emprego de Jean-Marc, como agente de informação na comissão de proteção dos direitos do cidadão, na província de Quebec, não poderia ser mais ilustrativo para percebermos com mais força a decadência da humanidade através da corrupção política e de leis burocráticas. Ele é também um instrumento para que o filme mostre o espírito da época com ironia mordaz. Como não poderia deixar de ser, o filme passa pela fila que nunca termina, o "nos preocupamos com você, te escutamos e daremos uma resposta quando chegar a sua vez" e até as sessões de psicologia quase espirituais para motivar funcionários insatisfeitos.

Sentimos falta, no final da trilogia, do personagem carismático de Remy e seus amigos inseparáveis. Agora, não há qualquer relação com esses personagens a não ser o mesmo sentimento e equipe técnica do filme anterior. Lá estão o mesmo cenário urbano e pesado em contraste com o calor e calma do campo, os planos fechados e intimistas e caracterização impecável de personagens, tipos bem realistas, apesar de caricatos. Arcand, transportando as invasões e declínios de antigos impérios para hoje, parece dizer que tudo ruma para a Idade das Trevas, quando a história nos diz que ela já acabou. Mas, comparando-a com fatos atuais, o filme parece dizer para revermos esse conceito.


Marília Almeida
São Paulo, 15/1/2008

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