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Terça-feira,
19/1/2021
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Isto é para quando você vier
>>> Deixa eu ver se entendi. Foi com esse comentário que, de madrugada, me ocupei sem mais nem menos. Vinha do meu cérebro, de uma das sinapses mais impacientes e histéricas. A discussão havia começado já fazia um certo tempo. A coisa ia longe. Mas, para a alegria delas, a campainha tocou: era o entregador do iFood, com as pizzas no portão, o que as apaziguou um pouco, embora o circo ainda pegasse fogo. Tudo por causa de Bernardo Carvalho.
por Renato Alessandro dos Santos
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2021, o ano da inveja
>>> É importante fechar ciclos, renovar as esperanças e recomeçar o ano com a sensação de estar diante de página em branco. Sobretudo quando o ano anterior se chama 2020. Sejamos claros: não foi fácil. Exceto para a Amazon, que cresceu como nunca nessa pandemia. Mas, para pessoas normais, foi um desafio viver com o avanço de uma doença desconhecida e seus inevitáveis impactos econômicos.
por Luís Fernando Amâncio
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Pobre rua do Vale Formoso
>>> Rente ao rio, numa manhã opaca de outono e sol, um grande terreno se traceja em formas de construções ainda desconhecidas, cujas fundações imaginárias sulcam a terra. O azul brilhante e pastel do Tejo envolve, como cabeceira, esse novo leito por tantos anos abandonado, onde cintila solitário em castanhos. Terra é revolvida, a silhueta preta e distante de dois homens acompanha os trabalhos, um caminhão passa resfolegando rastros de poeira em sua carcaça, uma mão de ferro gigante revolve mais terra contaminada.
por Elisa Andrade Buzzo
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O que fazer com este corpo?
>>> Temos falado tanto em morte neste último ano e já ouvi, mais de uma vez, alguém dizer que tem medo de morrer sem ar, justamente uma das possibilidades assustadoras da covid-19. Quando me lembro dos meus avós, me vem a ideia de que uns morreram "bem", outros, nem tanto. Uns ficaram morrendo por anos e anos... outros levaram horas, minutos e nem souberam a causa. Que felicidade, penso.
por Ana Elisa Ribeiro
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Jogando com Cortázar
>>> Ler Julio Cortázar é um ato único, mesmo quando o relemos. Há sempre algo que nos escapou nas leituras anteriores, há sempre novos significados nos seus textos, há sempre um mistério que não foi e nem será desvendado. Ler Julio Cortázar é um jogo entre escritor e leitor, em que ambos ganham. O escritor, por ludibriar o leitor. Este, justamente por ser ludibriado.
por Cassionei Niches Petry
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Os defeitos meus
>>> Das três recomendações que a mãe de Drummond deixou a ele - não guardes ódio de ninguém; compadece-te sempre dos pobres; cala os defeitos dos outros -, é essa última que não sai da cabeça. É um conselho inesquecível, que deveria ser grifado por todas as gerações que vêm pela frente. Você não acha? Mas há um problema: e nossos defeitos, o que vamos fazer com eles? Pense bem nisto: quem vai nos alertar sobre eles?
por Renato Alessandro dos Santos
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Confissões pandêmicas
>>> Sou meio hipocondríaco, eu admito. Quando a Aids apareceu, no final dos anos 80, assisti a um Globo Repórter e já imaginei que estava contaminado. Impossível; já que eu era um pré-adolescente imberbe, não era hemofílico e o mais perto que passei de uma transfusão de sague foi, aos dezoito anos, quando, dispensado do serviço militar, fui obrigado a doar.
por Julio Daio Borges
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Na translucidez à nossa frente
>>> Há uma curiosa sorte que acomete a um pensamento pandêmico. Nada começa, nada termina, em última instância. Existe uma continuidade de situações e ações consistindo em um início sem pedidos de licença, e términos de ações esmorecidas. Ou seja, são situações sem situacionamento e ações inativas. No entanto, tais coisas têm um pico e é exatamente este momento de altura que dá a marca da realidade preponderante.
por Elisa Andrade Buzzo
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A Velhice
>>> A velhice me angustiava quando era criança. Imaginava que os velhos vivessem em agonia, apenas esperando a morte. Mais do que a degeneração da idade, me amargurava pensar que os velhos tinham um futuro curto pela frente e sabiam disso! Pois sofri à toa, como acontece quando se sofre antecipadamente. Não é assim! Nossa perspectiva também muda à medida que vamos envelhecendo.
por Marilia Mota Silva
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Casa, poemas de Mário Alex Rosa
>>> A casa é habitada por objetos, seres e as próprias sensações do morador-poeta. Tudo isso liquidificado em substâncias poéticas: do voo rasante de um pernilongo ao passeio de uma formiguinha num grão de açúcar ou a sensação da água e do sabão no momento de se lavar as mãos. Além dos objetos, há o espaço e há também o tempo, transformados em imagem, sejam as horas do dia ou as horas da noite, seja o efeito da luz ou dos sons, ou as estações do ano transformadas em espera do tempo futuro.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Doutor Eugênio (1949-2020)
>>> “A morte é o único ato perfeito”, já dizia Gustav Mahler. “Porque não precisa ser refeito; não precisa ser remendado...”. Quem me falava isso era o Doutor Eugênio, no meio do enterro da minha avó, em meados da década passada. Mais adiante, começou a discorrer sobre estruturalismo - “porque somos todos estruturas”, completou. “Era uma cabeça”, foi minha conclusão para o Fê - quando ele me contou da morte do Doutor Eugênio, que, parece, foi em Julho deste ano.
por Julio Daio Borges
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Coisa mais bonita é São Paulo...
>>> Segundo turno de eleições municipais em São Paulo. As más línguas chamam um candidato de radical, o outro de elitista... Como ambos são de minha geração, é interessante acompanhar essa renovação na política. De um deles, eu poderia ter sido colega de turma, se eu tivesse ido para o Bandeirantes (ou ele ido para o Etapa, colégios concorrentes e próximos na Vila Mariana); com o outro, posso ter cruzado nos corredores da FFLCHUSP ou dividido uma mesa no bandejão central.
por Elisa Andrade Buzzo
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Cuba E O Direito de Amar (2)
>>> Por toda a cidade, vimos cartazes, outdoors já gastos, homenageando Cienfuegos, um homem jovem, bonito, carismático. No Museu de Revolucion aprendi quem era ele: Comandante Camilo Cienfuegos, amigo de Fidel e de Guevara, um dos líderes da revolução, que morreu em um acidente aéreo, pouco tempo depois da vitória. E Che, como sabemos, foi sozinho levar a revolução para o resto da América Latina e acabou morto na Bolivia.
por Marilia Mota Silva
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Cuba e O Direito de Amar (1)
>>> Sem sair de casa por causa da pandemia, comecei a reler velhos cadernos de viagem. Um deles trazia notas de uma semana em Cuba, no século passado, quando não havia celular, nem e-mail, nem Google. O muro de Berlim e a União Soviética ainda estavam em pé: 1989, pré-história. O Banco Nacional de Cuba (BNC) faria um seminário sobre câmbio; o país começava a incentivar o turismo, a se abrir para o estrangeiro, e precisava aprender sobre operações cambiais. Fomos para esse seminário.
por Marilia Mota Silva
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Aos nossos olhos (e aos de Ernesto)
>>> Aos olhos de Ernesto é um filme brasileiro lançado em 2019, dirigido por Ana Luíza Azevedo, também autora do roteiro em parceria com Jorge Furtado, protagonizado pelo ator uruguaio Jorge Bolani. Contracenam com ele Júlio Andrade, Gabriela Poester, Áurea Baptista e Jorge D'Elia. A vida comum de um idoso estrangeiro radicado no sul do Brasil tem sua graça iluminada justamente por elementos relacionados aos afetos e às limitações que se impõem conforme a idade avança.
por Ana Elisa Ribeiro
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Julio Daio Borges
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