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Terça-feira,
8/3/2022
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Sobre a literatura de Evando Nascimento
>>> “Amo o improviso, sobretudo do jazz. Todavia, justamente nessa arte, improvisar nada tem de amadorístico, pois, para bem realizá-lo, o músico precisa dominar perfeitamente a técnica, e o faz geralmente a partir de uma linha melódica pré-definida. O verdadeiro improviso equivale a poder andar de olhos fechados por um vasto território, depois de tê-lo palmilhado atentamente de olhos bem abertos, durante anos, décadas.”
por Jardel Dias Cavalcanti
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Velha amiga, ainda tão menina em minha cabeça...
>>> Examino-me. A reflexão é muito breve para a extensão dos anos, que, aliás, teimam em agora passar mais rápido que de costume. E se ela, velha amiga, se lembra de mim em sua cabeça, hoje me lembro do ar frio das colinas outonais, em que só se ouve um crepitar de folhas e gente ausente. Lembro-me; lembro como quem quer afastar logo o pensamento para outras zonas mais imediatas e menos turvas...
por Elisa Andrade Buzzo
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G.A.L.A. no coquetel molotov de Gerald Thomas
>>> A absoluta radicalidade e contemporaneidade do teatro de Gerald Thomas está no fato de que ele quebra a todo momento o pacto apaziguador entre artista e público. Gerald Thomas retorna ao teatro com uma mensagem dentro do coquetel molotov: “Agora é Talibã!”. G.A.L.A. é uma peça polifônica, aberta ao infinito da composição e recomposição do texto, onde o dramaturgo coloca sua personagem num barco partido e afundando.
por Jardel Dias Cavalcanti
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O último estudante-soldado na rota Lisboa-Cabul
>>> O último soldado norte-americano a abandonar o Afeganistão: Christopher Donahue é fotografado no aeroporto de Cabul, em agosto de 2021, após vinte anos de presença militar dos Estados Unidos no Afeganistão. Um último estudante a sair de uma biblioteca, num início de uma noite qualquer em 2021, depois de cerca de cinco anos de trabalhos pós-graduados. Mas algo fez o estudante relacionar a já histórica foto esverdeada, tirada com visão noturna, com a sua trivial situação momentânea.
por Elisa Andrade Buzzo
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Eu, o insular Napumoceno
>>> "Existe o mundo. No mundo, tem a África. Na África existe um arquipélago, um país, chamado Cabo Verde. São dez ilhas. A mais distante do continente chama-se São Vicente. Na ilha de São Vicente tem a cidade de Mindelo. Em Mindelo tem um bairro afastado chamado Boa Vista. Em Boa Vista existia um tal de senhor Napumoceno da Silva Araújo, criação de um tal de Germano Almeida."
por Renato Alessandro dos Santos
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Risca Faca, poemas de Ademir Assunção
>>> "um poema duro/ como diamante// breve/ como flor da noite// explosivo/ como dinamite// fatal/ como haraquiri// certeiro/ como um cruzado// de muhamad ali". Risca Faca é um livro admirável por sua construção, que busca a síntese nervosa entre os tumultos da existência, no seu jogo de pulsões e vazio, no seu niilismo e transcendência espiritual.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Uma alucinação chamada dezembro
>>> Nada é mais insano do que a decoração natalina. Ao menos no Brasil, fim de mundo de onde disparo essas palavras. Podem até ser bonitas as luzinhas piscando, os pinheiros enfeitados e os presépios. Mas, em pleno verão tropical, entre temperaturas abrasivas e temporais, é um tanto insano a gente ficar contemplando trenós e globos de neve. É, literalmente, ter saudades daquilo que nunca vivemos.
por Luís Fernando Amâncio
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Retrato arredio de cavalo
>>> Partes de um cavalo formam um perfil tardio de cavalo ou de homem. Um animal cubista, espalhado, abstrato, passível de ser montado ou de montar? Rostos que se perdem, patas que correm, um rosto antigo que se vê no rosto presente, e esse rosto é uma ilusória realidade. Não se sabe se se acredita ou se descredita em faces bifrontes. Um rosto que sorriu um sorriso já sorrido; e, no entanto, agora sorri como se fosse pela primeira vez.
por Elisa Andrade Buzzo
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Um conto-resenha anacrônico
>>> Pesquisando na biblioteca do professor Frederico Assmann, encontrei um livro que me chamou a atenção, num primeiro momento, pelo título, já que o tempo é um dos temas que venho analisando nas críticas e ficções do meu velho mestre. Trata-se de Cavalos de Cronos, de um escritor gaúcho, José Francisco Botelho, publicado em 2018 por uma editora de Porto Alegre em atividade até hoje, chamada Zouk.
por Cassionei Niches Petry
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Aonde foi parar a voz da nossa geração?
>>> Almeida Garret, em 1825, cantou as ruínas romanas no romantismo e, depois, em 1836, Gonçalves de Magalhães fez a mesma coisa. É a mesma “coisa”? É e não é, né? Porque é tudo romantismo, mas, não é, também, porque o “grito no meio da tempestade” de nosso poeta árcade-romântico já havia sido dado por Garrett, e olha que, antes do bardo lusitano, quem havia gritado mais alto foram Coleridge & Wordsworth.
por Renato Alessandro dos Santos
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Fechado para balanço, a poesia de André Luiz Pinto
>>> O livro é dividido em 13 seções. Sugestivo o número 13 nesse caso de uma reavaliação ou balanço de sua trajetória. A carta 13 do tarô é a carta da morte, mas no sentido positivo do fim de um ciclo, portanto, de uma mudança. Como uma espécie de autopsicanálise poética, passa-se a limpo questões muito diretamente ligadas ao EU existencial e social do poeta (o título da primeira série se chama “Pessoa”, não por acaso).
por Jardel Dias Cavalcanti
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A pós-esquerda identitária e grupalista
>>> Sim, há a crença de que se está lutando contra um “novo fascismo” (muitas vezes com métodos que emulam o próprio fascismo, como a censura e o controle ideológicos do vocabulário, dos temas, dos pontos de vista etc.; mesmo se verdadeiro, esse fato não justificaria reduzir a arte a mera serviçal de uma causa), enquanto o poder econômico, o verdadeiro poder, está onde sempre esteve – e onde há de ficar, a depender da pós-esquerda culturalista.
por Luis Dolhnikoff
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Olavo de Carvalho (1947-2022)
>>> Conheci Olavo de Carvalho décadas antes de ele ser ideológo do governo Bolsonaro. E, mesmo passado todo esse tempo, não consigo chegar a uma conclusão a seu respeito. Quando o descobri, em meados dos anos 90, achava válida a sua crítica à imprensa, que ele considerava majoritariamente de esquerda. Não só por “achismo”, mas porque Olavo havia feito parte dela, como jornalista - e, tendo sido militante comunista na juventude, conhecia todos os truques.
por Julio Daio Borges
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Maradona, a série
>>> Acho que foi no Valor Econômico que eu vi a dica da série do Maradona, no Prime Video. O ícone já havia aparecido para mim, mas não me atraiu pela estética de videogame. E por um certo “bode”, que eu tinha, em relação ao Maradona - suas aparições midiáticas e seus escândalos. Mas, como disse, o Valor me levou a assistir. E passei a semana, entre Natal e Ano Novo, “maratonando”. Recomendo - e vou tentar explicar por quê.
por Julio Daio Borges
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Eleições na quinta série
>>> Diante do poder que o processo democrático nos dava, seguíamos, basicamente, dois critérios para eleger nossos líderes: podíamos levar a eleição a sério e votar no estudante mais aplicado nos estudos – por algum motivo, pensávamos que boas notas ajudariam a buscar as carteirinhas; ou votávamos no colega mais desordeiro da turma, como uma espécie de voto de protesto. Uma “trollagem”, como dizem os jovens atualmente.
por Luís Fernando Amâncio
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Julio Daio Borges
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