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Terça-feira, 8/4/2003 Entre o copo, a vitrola, a fumaça e o boicote Waldemar Pavan Na última coluna que escrevi para o Digestivo Cultural, comentei e reproduzi o texto institucional para os relançamentos das duas coleções da EMI: "Odeon 100 Anos" e "10 Polegadas Odeon". Apesar de não conhecer todos os títulos, confesso que vários que eu tivera antes, no formato vinil, me agradavam sobremaneira. Ainda na semana passada, parte desses títulos chegou às lojas com um minusculo e quase imperceptível comunicado de capa, no canto esquerdo: "COPY CONTROLLED, veja os detalhes no verso" E, no verso, a seguinte inscrição: "Este disco contém tecnologia que controla cópias, foi desenvolvido para ser compátivel com reprodutores de CD Audio, reprodutores de DVD e computadores pessoais que tenham sistema operacional igual ou superior ao PC, MS Windows 95, Pentium 2 / 233 Mhz com 64 Mb de memória RAM ou superior, MAC OS 8.6 ou 9 com extensão Carbonlib e Mac - os X E impedem o consumidor de fazer cópia digital". Como o aviso de contracapa afirma primeiramente que se trata de uma "tecnologia controla cópias", julguei erronêamente que a antiga gravadora (e atual recicladora), EMI, estivesse lançando um disco com tecnologia que reconhecesse e liberasse os equipamentos de cópias caseiras como o que tenho: um gravador de CD da marca Philips. O texto acima induz o consumidor a julgar que somente os que têm tecnologia X E MAC (seja lá o que isso significa) estivessem impedidos de realizar cópias para uso próprio. Ledo engano: adquiri vários volumes das séries relançadas e, no primeiro teste a verificação, não eram permitidas cópias no gravador de CD caseiro. A partir dessa constatação, separei todos os volumes que adquirira em um único pacote e minha primeira atitude no dia seguinte foi dirigir-me a loja e devolvê-los todos. Explico: não compro CDs piratas, não faço cópia para venda, e me recuso a ser tratado como bandido enquanto sou só um consumidor pra lá de bem intencionado. Sou eu quem, também, através da compra, financio e divulgo gratuitamente os produtos da indústria do disco. Não ganho discos para comentar e não recebo salário e agradecimentos por isso, escrevo na condição de consumidor. A partir de agora, esta coluna não mais publicará comentários sobre discos protegidos. Peço desculpas a todos os leitores que adquiriram discos destas séries e sentiram-se também atingidos. Abaixo você encontrará detalhes sobre o boicoite a CDs com sistema de proteção anti-cópia, em uma campanha de repressão pioneira da Agenda Samba-Choro, onde é citado inclusive o Código de Defesa do Consumidor para assegurar seu direito de comprador. Mas vamos ao que realmente interessa... Infinitamente menos nociva que a febre de relançamentos de cacarécos musicais defeituosos é a moda de se lançar CDs recheados de participações amigas e tributos a compositores. Na categoria CDs com participações estreladas, um é pérola e outro é meia-boca. Mas, na categoria tributo, eis uma gema de raro valor. Primeiro, então, a pérola: Dori Caymmi - Contemporâneos Aqui, os arranjos são diferentes de todos os que você ouviu para estas canções já consagradas pela graça popular. Vou primeiro nas participações. Dori Caymmi divide vocais e arranjos com Caetano Veloso (na inspirada "Januária"), Chico Buarque (em "Sampa"), Edu Lobo (em "Choro Bandido"), Nana Caymmi (em "Lembra de Mim", que, na minha arrogante opinião, é a música mais bacana de Ivan Lins; aqui, o arranjo e a interpretação são absolutos), e Renato Braz (em "Flor das Estradas"). Nas faixas onde Dori Caymmi toca o barco sozinho, vai meu desdém particular apenas para "Viola Enluarada" e "Ponta de Areia", dignas de figurar apenas nestes discos de "Som de Barzinho". Penso que poucos ainda têm paciência para essas músicas datadas e localizadas no repertório de boteco classe média, trilha sonora das mais chorosas, ideal para aqueles bares sem graça que abundam em Moema. Isso não quer dizer que o disco é ruim: de 12 faixas, eu particularmente não gostei de apenas duas (citadas); as outras, clássicas do repertório brasileiro (como "Coisas do Mundo", "Minha Nega", "Essa Mulher', "Procissão" e "Bala com Bala"), receberam tratamento, arranjos diferenciados e interpretação positivamente bela de Dori Caymmi. De acabar com todos os estoques de sais, é o arranjo e a interpretação para "Cão Sem Dono" ("É nas noites em que eu passo sem sono, entre o copo, a vitrola e a fumaça..."), uma das mais belas canções brasileiras (Suely Costa / Paulo Cesar Pinheiro). Discaço. Pego daqui para falar do tributo a Suely Costa, a referida gema: Canção Brasileiroa - Lucinha Lins interpreta Suely Costa Suely Costa é uma das maiores e melhores compositoras brasileiras. Todo brasileiro com mais de 30 conhece, pelo menos, uma música de Suely Costa. Parceira de gente como Paulo Cesar Pinheiro, Abel Silva, Vitor Martins, Capinam e Cacaso, entre outros, Suely foi desde sempre uma compositora que colheu seus melhores frutos quando investiu na revelação das aflições d'alma. Suely Costa teve seu repertório sempre cobiçado por cantoras e cantores famosos, entre eles: Elis Regina, Fafá de Belém, Dori Caymmi e Simone. Em um acerto formidável, a Biscoito Fino lança este disco, tributo à Suely Costa - por Lucinha Lins, com 17 canções, todas belissimas, todas irretocáveis. Finalmente você, que, como eu, tem paura das gravações de Simone, vai poder ouvir "Medo de Amar 2" e "Face a Face" numa interpretação mais adequada, sem aquele jeitão travesseiro de "tô acordando agora". A ligação ao comentário anterior vem através de "Cão Sem Dono', também incluída nesse tributo. Outras belezuras são "Dentro de Mim Mora Um Anjo", "Alma", "20 Anos Blue".... Por último, o meia-boca: Bolero - Lucho Gatica e convidados Convidados brasileiros estreladíssimos dividem a interpretração de bolerões com Lucho Gatica: Leny Andrade, Emilio Santiago, João Bosco, José Luiz Mazzioti, Nana Caymmi, Cauby Peixoto, Silvio Cesar, Maria Creusa, Pery Ribeiro, Os Cariocas, Danilo Caymmi, Fagner e... Osvaldo Montenegro (penso que ele deveria investir na carreira de cantor de Bolero; pela primeira vez, consigo achar uma interpretação desse moço super bacana). Repertório do disco? Os bolerões de sempre: "Contigo Aprendi", "El Dia Que Me Quieras", "Solamente Una Vez" e outras bem manjadas. Esse é um disco meia boca. Explico por quê: lançado pela Albatroz, de Roberto Menescal, contém arranjos lindos para algumas canções ("Historia de Un Amor", "La Mentira", "Quizas, Quizas, Quizas", "Monalisa", "Eclipse", "La Puerta" e "Una Mujer"). São, portanto, sete ótimos arranjos, e outros sete totalmente escandolosos pela melosidade e pela intensidade do comparecimento dos violinos (caso pense em adquirir, pense também na relação custo-beneficio). Em tempo: todos estes CDs hoje comentados não contêm proteção anti-cópia. Saiba tudo sobre o CD com proteção anti-cópia visitando o link abaixo: http://www.samba-choro.com.br/debates Waldemar Pavan |
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