|
Segunda-feira, 26/1/2004 O projeto da Amauta Marcelo Barbão Só quem entrou numa livraria procurando um livro de seu escritor preferido e saiu frustrado ao ouvir um "está esgotado há muito tempo", ou "esse livro nunca foi publicado em português" ou ainda um "quem?", pode entender a criação da Amauta Editorial. E, convenhamos, não há nenhuma pessoa que goste de literatura que já não tenha passado por isso. Ainda mais quando falamos em escritores da América Latina ou Hispânica. Assim, é preciso recorrer aos amigos em viagem, às ridículas taxas de entrega ou a milagres escondidos em velhas estantes empoeiradas. Era assim que eu me virava até ter nas mãos um pequeno livro negro (não tem nada a ver com magia) chamado Farabeuf. Tudo começou numa tarde cinzenta. Na Internet, eu procurava sites sobre história da literatura. E vi, entre os principais livros publicados no continente, um comentário instigante sobre essa obra e seu autor, o mexicano Salvador Elizondo. O texto dizia o seguinte: "Farabeuf é a verdadeira anti-novela latino-americana". Provocador, no mínimo. E, por um incrível golpe de sorte, o livro estava à venda numa livraria. Uma pequena edição de bolso espanhola com uma capa preta. Não posso esquecer que demorei dois dias para conseguir o livro. O vendedor olhava no computador e afirmava com toda a convicção: "Eu tenho esse livro", mas as prateleiras não confirmavam essa certeza. Depois de desistir, frustrado, recebi um telefonema do vendedor com apenas uma palavra: "Achei". A leitura desse livro foi bastante importante para mim. Mudou minha vida, diria eu, se essa frase não fosse batida. E foi o que detonou os eventos que levaram à criação de uma nova editora especializada (em princípio) na publicação de escritores latino-americanos. Qualquer pessoa que fizer uma pesquisa descobrirá que publicar um livro é bastante barato nos dias de hoje e, com os contatos certos, também dá para distribuir o livro pelas principais cidades do país. E, com algum conhecimento, também é possível fazer uma boa divulgação do seu produto. E foi o que fizemos, na verdade. Só gastando, quer dizer, investindo, dinheiro nos direitos autorais. Assim nasce a Amauta com o lançamento do nosso primeiro livro, Crimes Exemplares, do espanhol-mexicano Max Aub. Que será seguido pela publicação do próprio Farabeuf (previsão de lançamento para março). A Amauta surgiu da necessidade de publicar coisas que interessavam aos seus cinco sócios. Não é uma forma de ficar rico. Por isso, os preços estão abaixo do "mercado" e nossa idéia, desde o começo, foi ser um aglutinador dos novos produtores de cultura de São Paulo (falar em país ou continente latino-americano ainda é irreal) porque só assim é possível abrir caminho para novas idéias e experimentos. E a idéia da Amauta veio se encaixar perfeitamente no momento atual pela excelente receptividade que estamos encontrando e pela boa quantidade de projetos culturais diferentes que estão se associando à iniciativa. É claro que nenhum dos cinco sócios saiu do seu emprego, nem isso seria possível. E nem sabemos se o dinheiro investido irá retornar. Só sabemos de uma coisa: estamos muito felizes e aproveitando ao máximo. E existe algo melhor que isso? Marcelo Barbão |
|
|