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Segunda-feira, 23/8/2004 Lana Lane surpreende com clássicos do rock Debora Batello A talentosa cantora californiana Lana Lane mais uma vez emprestou sua voz para releituras de clássicos do rock. O álbum Covers Collection, pela Hellion Records, traz onze faixas apanhadas entre os anos 70 e 90 - décadas áureas do rock. Apesar da vastidão de opções que poderia ter feito deste disco um balaio-de-gatos, Lane conseguiu realizar um trabalho bastante homogêneo em todos os aspectos, em grande parte graças à supervisão de seu produtor, músico, arranjador, guru e marido Erik Norlander. As músicas do álbum estão longe de serem meros covers. A cantora impregnou as faixas com sua leitura única, deu sutileza feminina a todas as canções que originalmente foram gravadas por vocais masculinos. Esse fator não seria suficiente para sustentar o disco, se a cantora não tivesse escalado um dream-team de músicos para capturar o espírito rock'n'roll, que soa muito vigoroso e verdadeiro. Nomes conhecidos dos estúdios americanos, como o baterista Gregg Bissonette, o baixista Tony Franklin, o guitarrista Arjen Lucassen, brilham nos créditos do álbum. O CD abre com "The Wall", originalmente gravada pela banda de rock progressivo Kansas. Logo na introdução da música, a guitarra - tocada por Mark McCrite - cheia de camadas e vozes avisa que o álbum não peca por falta de elaboração. Lana Lane explora bem os vocais melódicos que a música exige. Em seguida entra um dos grandes clássicos do rock, "Kashmir", do Led Zeppelin, aqui interpretada com toda agressão da bateria de Gregg Bissonette - que não fica devendo para o grande John Bonham - somada à sensualidade de Lane. Uma das diferenças da performance original é que a cantora possui uma pronuncia muito clara das palavras, e Robert Plant conduz a letra de forma levemente ininteligível. Destaque também para a "Don't try so hard", do Queen, que inclui o solo original da música com o órgão Hammond - isso mesmo, Erik Norlander usou um célebre Hammond, porque nos anos 70 ninguém usava tecladinhos digitais. Esse detalhe se repete em outras faixas, como a mesma"The Wall", "I'll See you in my dreams", "Hold your head up" e "Weep in Silence". O disco é muito bem equilibrado, e além das bandas tarimbadas, ele traz canções que são pouco conhecidas, mas verdadeiras pérolas, como é o caso de "Soaring", do grupo Aviary, uma grata surpresa. A balada "Innocence", do Enuff Z'Nuff, e o hard rock de"Hold your head up", do Argent, fazem parte da seleção. Como se sabe, o melhor fica para o final. É agora que Lana Lane começa a soltar a voz nas faixas que tendem para o heavy metal melódico. Este talvez seja o momento do álbum que a cantora se sente mais confortável em suas interpretações - e melhor dizendo, as faixas soam como se tivessem sido escritas para Lane. "Northern Lights", do TNT, fica marcado pelo contraste dos versos dramáticos com o peso do arranjo. "Still Loving You", do Scorpions, tem uma interpretação emocionante e pode ser considerado o grande trunfo do disco. A versão devastadora de "Stargazer", do Rainbow de Ronnie James Dio, dá a dimensão do poder da voz de Lane e fecha este álbum muito bem sucedido. Lana Lane, que começou sua carreira em 1995, tem uma das melhores vozes do rock progressivo, e sua banda faz um excelente trabalho ao combinar as texturas dos vários segmentos do rock, fazendo um som bastante saboroso até para quem não é fã do gênero. Apesar disso, a cantora corre o risco de ficar marcada pelos covers que vem fazendo, como dois outros álbuns que já homenagearam The Beatles, Elton John, Marillion, Supertramp (em Ballad Collection I e II). Ainda assim, Covers Collection torna-se muito interessante por sua uniformidade e suas interpretações autorais. Para ir além Debora Batello |
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