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Sexta-feira, 29/10/2004 Jeff Scott Soto recicla o hard rock em novo álbum Debora Batello Na entrada do século XXI, o hard rock já soava tão démodé quanto a palavra démodé para a maior parte dos jovens. O estilo, que foi a grande força criativa do rock dos anos 80, precisou de diversas mutações para conseguir sobreviver seus 20 anos. Em sua época mais visual, quando brilhavam nos palcos os glam rockers, muitos músicos, especialmente os vocalistas, fizeram a festa no que se consiste a mise-en-scènes. O performático David Bowie, caras e bocas de David Lee Roth do Van Halen, cabeleiras de Paul Stanley do Kiss, só para citar alguns, hoje parecem dinossauros estacionados naquele tempo. Mesmo que a indústria fonográfica dos dias de hoje tenha se afastado desses ícones, alguns dos filhotes do hard rock ainda têm muito fôlego para conquistar fãs ao redor do planeta. Este é o caso de um dos maiores vocalistas do rock'n' roll, Jeff Scott Soto, que começou sua carreira em 1984, como a voz do grupo Rising Force, e dividia os créditos com um guitarrista iniciante, Yngwie Malmsteen. Nos anos seguintes, Malmsteen se destacaria como um verdadeiro "fritador" das guitarras - no bom sentido, claro. Uma referência de virtuose em seu instrumento. Entre as idas e vindas de Scott Soto na banda de Malmsteen, o vocalista adquiriu um extenso currículo de participações especiais em álbuns de Jeff Young (ex-Megadeth), Alex Rudi Pell, Zakk Wilde (ex-guitarrista de Ozzy Osbourne), Vinnie Vincent (ex-Kiss). Foi backing vocal em discos de Lita Ford e do guitarrista Paul Gilbert. Participou também de diversas trilhas sonoras de filmes como Rock Star e George of the Jungle. Além disso, Jeff foi o fundador das bandas Eyes, Takara e Talisman, sendo esta última a que alcançou maior sucesso. Jeff Scott Soto agarrou com força sua carreira solo nos últimos anos, e conseguiu demonstrar todo seu vigor e evolução musical. Do álbum morno Prism, que lançou em 2002, seguiu-se o empolgante disco JSS Live At The Gods, gravado ao vivo na Inglaterra. Neste CD, Soto conseguiu se sentir confortável frente a uma banda entrosada, que - pasmem - começou a ensaiar junto nas vésperas da gravação. Soto disse em uma entrevista que concedeu por ocasião do lançamento de JSS Live At The Gods, que o guitarrista Howie Simon não conhecia o baterista Alex Papa nem o baixista Gary Schutt na semana que antecedia este show. Se disseram que o improviso beirava o fiasco, esse álbum mostrou um resultado bem diferente do que foi imaginado. A alta dose de espontaneidade deu um tempero diferente para cada uma das 15 faixas, que percorrem a carreira de Soto e dão um panorama de algumas de suas influências. O álbum abre com "2 Your heart", uma canção apresentada a capella. O belo arranjo vocal é logo depois atropelado pela força da música "Let me entertain you", um cover do Queen que já faz parte do repertório de Soto desde os tempos de Talisman. O show segue com as faixas "Break your chains" e "Love Parede" mostram um hard rock revigorado, sem todas aquelas habituais programações eletrônicas difundidas pelo rock dos anos 80. A sonoridade ficou mais limpa, a não ser pelos efeitos e distorções na guitarra de Howie Simon, que preencheu seu canal com solos longos e muito bem trabalhados, lembrando o estilo de Eddie Van Halen. Falando em Van Halen, o álbum também traz a música "Stand Up", composta por Sammy Hagar para a trilha sonora do filme Rock Star. A faixa foi originalmente gravada no ano 2000 por Jeff Scott Soto, Zakk Wylde, Jeff Pilson e Jason Bonham. A banda se mostrou versátil logo nas primeiras músicas, fato que deixou Soto muito à vontade para explorar seu carisma e seu potencial como cantor. Nesse clima ele apresentou algumas músicas inéditas ao público, como "How Long" e "Eyes of love", lançadas depois em seu álbum Prism. O show contou com a participação especial do guitarrista Pontus Norgren, que acompanhou Jeff Scott Soto no Humanimal, se juntou a banda para apresentar a faixa "Again 2 be found", extraída do único disco lançado desse projeto. Além de guitarras dobradas, acontece um pequeno duelo entre Simon e Norgren no final da música, que garante a alegria dos fãs das seis cordas. A faixa que encerra a primeira parte do show é um clássico do Talisman, "I'll be waiting" faz o público cantar o refrão mais alto que Soto. No fim da música, fraseados desconexos saem da guitarra, como se Simon estivesse demonstrando suas habilidades. Logo é a vez dos outros músicos se unirem ao guitarrista para uma demonstração acústica bastante suingada, que abre uma seqüência dois medleys para encerrar o disco-show. O primeiro medley é composto de baladas como "Mysterious", do Talisman, "Crazy", do Seal, "4 U", escrita por Soto. As canções ficaram lindas nas versões desplugadas. O último medley do álbum revive os tempos que Jeff Scott Soto era vocalista do grupo de Yngwie Malmsteen. "Don't let it end", "On the run again", "I'm a viking" e "I'll see the light tonight" exigem dos vocais de Soto uns bons falsetes e berros típicos dos vocalistas de metal melódico. A banda mostra perfeita sintonia neste momento, guitarra e bateria fazem um show à parte. O CD ainda contém uma faixa bônus, a balada "Good love", gravada em estúdio. O lançamento JSS Live At The Gods também está disponível na versão em DVD, que além das imagens do show, ainda traz uma longa entrevista com Jeff Scott Soto, clipes das músicas "Holding On" e "Eyes of Love", além de cenas fora do palco que flagram o cantor em momentos engraçados e descontraídos. O destaque mesmo é poder conferir a presença de Soto em palco em um dos melhores momentos de sua carreira, uma figura carismática, capaz de seduzir o público com sua performance, como todos os grandes líderes do glam rock devem ser. Para ir além Debora Batello |
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