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Segunda-feira, 12/2/2001 It's all about rats Marcelo Brisac Quando o amigo Julio me convidou para escrever essa coluna, fui obrigado a recusar. Honestamente, não me considerava capaz de contribuir em nada para o Digestivo Cultural. Estou desatualizado em música, política, artes e quaisquer outras obras do espírito humano. Após longas deliberações, fui atacado com a seguinte pergunta: - "Cara, será que depois de um ano morando em Nova Iorque você não tem nada para contar?" Na verdade, não. Tudo o que eu vi de legal por aqui veio diretamente da coluna da Kátia Zero. De volta à estaca zero, estava pronto a me dar por vencido e declinar o convite quando me lembrei dos ratos. É claro que nos trilhos do metrô, é comum avistar roedores. Todo mundo que já pegou o metrô aqui viu pelo menos um ou dois ratos passeando pelos trilhos. Ou até mesmo na plataforma, nas horas de menos movimento. Não é disso que eu estou falando. Um dia estava passando por uma farmácia, olhando vitrines quando vi uma coisa se mexendo. Um rato. Dentro de uma farmácia. Junto aos medicamentos. Isso aqui não é o primeiro mundo? Pois é, Nova Iorque / Deli, sofre de um sério problema de proliferação de roedores. Em 1997 a prefeitura decidiu iniciar um programa intenso de combate aos ratos. Um estudo identificou 72 áreas de 15 quarteirões consideradas severamente infestadas. Isso dá um total de 1080 quarteirões. Desde então, medidas enérgicas tem sido tomadas mas os resultados são duvidosos. Três anos depois, jornalistas reclamam que a sala de imprensa da prefeitura está infestada de ratos. Ratos também foram avistados na Gracie Mansion, residência oficial do prefeito. Não existe nenhuma estatística sobre o número exato de roedores na cidade. Em 1920 falava- se em dois ratos por habitante. Em 1940, com o fim dos estábulos o número deve ter caído para um por habitante. A despeito do crescimento populacional, esse ainda é o quociente amplamente aceito. Alarmistas chegaram a mencionar 7 ratos por habitante em 1997, mas nunca foram levados à sério. É uma guerra perdida. Todas as cidades antigas sofrem com essa praga. Em Palermo, os ratos moram nos telhados das casas. A CNN divulgou uma matéria dizendo que os ratos estão tão gordos por lá que eles não conseguem mais pular de um telhado para o outro e morrem espatifados no chão. Não me lembro de ter visto tantos ratos na minha vida em São Paulo quanto em um ano em Nova Iorque. Sei que eles devem existir, nas favelas e cortiços, mas não nas áreas devidamentes urbanizadas da cidade. Claro que São Paulo é uma cidade mais nova. Além disso, temos uma demografia menos favorável à proliferação de pragas. Por fim, as enchentes e os vira-latas soltos nas ruas mantém a população de roedores sob controle. Além do episódio da farmácia, estava caminhando pelo central park quando ouvi uma menininha gritando, em português mesmo: - "Olha mamãe, um esquilinho lá perto da árvore". -"Que será que ele tá fazendo? AAAAIIII, filha, não é esquilo, é um rato! Corre!". Inocência perdida. Se você está planejando férias em Nova Iorque, não esqueça de tirar uma foto ao lado de um ratão. As baratas podem reclamar à vontade, but this city is all about rats. Marcelo Brisac |
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