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Sexta-feira, 8/4/2005
A fantástica volta (blogueira) ao mundo
Marcelo Maroldi

Assisti parcialmente a série "A fantástica volta ao mundo", exibida pelo Fantástico e apresentada pelo jornalista Zeca Camargo. Gostava. Com o término da viagem, tive certeza de que surgiria um livro, o que se concretizou: A fantástica volta ao mundo: registros e bastidores de viagem por Zeca Camargo, Zeca Camargo, Editora Globo (2004). Zeca Camargo é uma pessoa bastante simpática, admito, e bem informada. Um das primeiras entrevistas que vi sobre o livro foi no programa Vitrine (TV Cultura) feita pelo Marcelo Tas. Ali, Zeca já deixava bem claro que aquele era um livro de relato pessoal de viagem, nada mais. Não é um guia de viagem, não é um guia das cidades, nem nada disso (e, assim, esse é um dos motivos que me levam a perguntar por que então está entre os mais vendidos? É uma narrativa pessoal e de algo que já foi exibido! Marketing? Prestígio do jornalista? Uma boa história? Tudo isso, talvez).

Antes de começar a ler, fiquei impressionado com a qualidade estética do livro. É realmente boa, com muitas fotos, diagramação não convencional, criatividade, etc. Iniciando sua leitura, comecei a cansar rapidamente. A história parece que não sai do lugar... No próximo país, nada muda, e nem no seguinte, e no seguinte ao seguinte... Evidente que há novos acontecimentos, mas, mesmo assim, parece que nada mudou e o Zeca continua lá, contando suas aventuras e dando suas opiniões pessoais, dizendo os seus gostos e as suas impressões. Em um determinado momento, pensei: isso não é um livro, isso é um blog! Acertei na mosca! Logo depois, o autor diz que manteve um blog enquanto viajava e que este foi sua principal fonte ao escrever o livro. Não tem nada de errado em transformar o blog em livro (está até na moda!) mas, ler 400 páginas repetitivas de um blog pode ser bastante cansativo...

Mas, ainda assim, sua leitura pode ser interessante, em especial, se não for levada muito a sério e jamais como guia de viagem ou algo similar. Uma leitura sem compromisso, relaxante, e às vezes divertida. Um blog de viagem, portanto. Desses que seus primos fazem quando viajam por aí...

Os brasileiros e o topo do mundo
É sempre igual. Termina o ano, outro começa, e é sempre tudo igual. É só esperar, pois logo vai acontecer... Época de Oscar: filme brasileiro tem tudo para ser escolhido e levar o prêmio (ainda que seja um filme fraquíssimo como Olga). Não leva... que injustiça! Prêmio Nobel se aproximando: presidente Lula tem tudo para ser indicado ao Nobel da Paz. Mas não o é... claro, é um ex-torneiro mecânico! Morre o papa João Paulo II: brasileiro é o nome mais forte para ser seu sucessor... Não acontece! (desculpem-me, leitores, mas já me adiantei ao resultado). Por que, neste país, sentimos tanta falta desse tipo de projeção mundial? Por que precisamos tanto que os outros reconheçam nosso valor? Por que os brasileiros sentem tanta necessidade de serem o número 1? Por que, todos os dias, a mídia nacional apresenta reportagens como essa? E, então, por que quase nunca somos os vencedores nesse tipo de coisa? Por que só somos os melhores em coisas menores? A modelo mais bonita, o maior piloto de fórmula 1, o maior estádio de futebol do mundo? Aliás, somos tão arrogantes que nem aceitamos comparar Pelé e Maradona (quem entende de futebol sabe que Pelé é realmente superior, mas, os hermanos não têm direito de quererem ser o número 1? Só nós temos?).

Não pretendo de modo algum escrever sobre a baixa auto-estima do brasileiro, não tenho competência para fazê-lo. Queria investigar brevemente, apenas, por que 500 anos de exploração e vergonha nos transformaram no que somos: um grupo de pessoas que querem ser o número 1, o número 1 que nunca chega, aliás. Há 20 anos que bradamos ao mundo que seremos o país do futuro. Há 20 anos que o mundo se pergunta quando é esse futuro. Calma, é logo ali... seremos o motor do mundo - we are te champions!. É comum aparecerem na televisão pessoas místicas (numerólogos, tarólogos, astrólogos e outros "ólogos") que afirmam que o Brasil tem um papel decisivo na história do mundo. Fundamental! Até no terceiro milagre de Fátima ousaram dizer que se tratava do Brasil, chefe do mundo. Por que isso? Não sei dizer se acontece em todos os outros países, mas aqui a intensidade é gigantesca. Por que não podemos ser simplesmente um país valoroso, que respeita e é respeitado, por que temos que ser a potência desse século, como diz nosso presidente (aliás, sempre que ouço Lula discursando, lembro daquele ditado popular: quem fala demais dá bom-dia a cavalo)? Quem semeou na mente brasileira que temos que ser o número 1? Isso não é nada novo... Querer vencer é outra coisa. Isso me parece equívoco mesmo.

E a mídia, o que faz? Que tipo de serviço pensa que está prestando às pessoas? Não está prestando nenhum! Um mundo tão interessante como este e ficamos correndo atrás de notícias desse tipo... Tanta coisa acontecendo e falamos o tempo inteiro de assuntos em que o brasileiro supostamente é o número 1. Diabo! Por que não fazemos nossa lição de casa e então talvez um dia sejamos bons - tanto quanto os demais - em alguma coisa? No momento, não conseguimos nem ter o melhor cinema da América do Sul, como podemos falar de filmes brasileiros injustiçados! Somos tão carentes que perseguimos sempre o primeiro lugar, queremos sempre o topo do mundo, e muita gente pega carona no assunto.

Pouca pessoas gostam mais deste país do que eu, e, ainda que eu acredite que construiremos uma nação melhor, cansa ouvir sempre a mesma ladainha. Está na hora dos brasileiros pararem de anunciar que está chegando o grande dia e trabalharem para que ele um dia chegue, de fato. Eu não quero ter a melhor seleção de futebol do mundo! Quero ter uma renda per capita que permita aos meus que comam todos os dias 3 vezes. Não quero que um ator brasileiro faça uma ponta (sem falas) em uma superprodução (As Panteras, Rodrigo Santoro) de Hollywood! Quero um cinema brasileiro forte, onde atores de outros países façam testes para aparecerem 5 segundos nas nossas cenas. E prefiro um prêmio Nobel em física ou química, a um Nobel da Paz, pois isso vai significar que temos investimentos em educação e tecnologia, enquanto que o Nobel da Paz é muito mais mérito pessoal do ganhador. Não quero ser o número 1... quero um país de alfabetizados, vestidos e alimentados buscando e construindo um país de verdade, igual à busca de todos os demais países.

Para ir além





Marcelo Maroldi
São Carlos, 8/4/2005

 

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