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Segunda-feira, 11/7/2005
Como escrever bem – parte 3
Marcelo Maroldi

Nos textos anteriores abordei alguns assuntos gerais relativos a escrita: a importância de ler, de ler bem, de treinar a escrita, por exemplo. Depois, passei rapidamente por alguns estilos, como blog e jornal (impresso). Agora, chegou a parte mais complicada.

* Poesia - Escrever poesia não é fácil, definitivamente. Eu diria que escrever boas poesias é uma das atividades intelectuais/artísticas mais custosas que eu conheço. O pior de tudo, entretanto, é que não parece tão complicado assim. Pense aí um pouco, leitor: não é tão difícil, hein? Um pouco de treino e a famosa "inspiração" e temos uns poemas sensacionais! Bom, queria acreditar nisso às vezes... Por que não fazemos um teste? Sente-se agora e escreva uma poesia (depois me mande um e-mail para que eu saiba quais carências teve e o resultado final do teste). Não posso precisar números, mas diria, sem hesitar, que poucos - pouquíssimos - conseguiram terminar. Deve ser por isso que os poetas são tão admirados, que difícil arte dominam! Não vou me alongar neste assunto. Tratarei de dizer o que penso que pode fazer a diferença na confecção de uma poesia. Primeiro passo, para escrever poesia é necessário ler poesia. Você precisa saber como os grandes fizeram e pode aprender um pouco com eles. Se você é um bom poeta e jamais leu poesias durante sua vida, certamente você é uma exceção. Próximo passo, precisa ter vocabulário suficiente. Mais que para outros tipos de literatura, aliás. Encontrar as palavras certas (que se conhece) já não é simples, imagine se você não tem um bom conjunto dessas palavras gravadas na sua mente? Há, também, algumas palavras comumente usadas e é preciso conhecê-las e tê-las à disposição no repertório (alguns poetas e movimentos gostam muito de determinadas palavras!). E a inspiração? Sobre isso nada posso dizer, acredito. Inspiração parece ser aquele sentimento que invade os artistas (poetas, no nosso caso) e os obriga a irem imediatamente para a folha de papel e começarem a escrever. Pode ser uma alegria súbita, uma dor que invadiu o peito, pode ser qualquer coisa que nos estimule a escrever. Uns têm mais e outros menos... Já ouvi poetas dizerem que isso não faz diferença, que escrever poesia é um processo lógico de combinação de palavras e não depende de emoção. Pode ser. E pode não ser... Jamais escrevi algo que tenha valor estando "tranqüilo". Alguns poetas sentam-se para escrever quando já têm a poesia completa em suas mentes. Outros brigam com as palavras que vão surgindo. Encontre seu próprio caminho. Outra dica, não se apegue a padrões, escreva do seu jeito. Se não quiser rimar, não rime, e se não quiser versejar, não o faça. Trabalhe como se sentir mais à vontade, em especial se você é um poeta amador que escreve sem pretensões literárias. Não sufoque seu talento e sua emoção somente para atender requisitos técnicos. Escreva poesias para você (e para seu marido/mulher/filhos/etc.). Por fim, refaça tudo se não gostar. Comece de novo, se precisar. Treine muito, muito, muito! Não desista, "e se foras Poeta, poetizaras" (Boca do Inferno) .

* Livros - Hoje em dia qualquer um escreve um livro, é verdade. Portanto, não é necessário muito talento para fazê-lo, certo? Bem, infelizmente está certo. Qualquer um pode sentar no seu laptop e começar a escrever um livro (mesmo que não tenha nada a dizer). Pessoas sem preparo algum podem escrever. Depois, pagam para alguém revisar e corrigir, e publicam (e até vendem, sabem?). Para quê talento? Para que ler 1000 livros antes de escrever o seu próprio? Para que escrever e reescrever um mesmo romance durante anos? Para que se preocupar com os adjetivos que vai usar, com os diálogos, com a construção dos personagens? É uma boa pergunta e eu realmente não sei a resposta (embora pensasse que sabia até uns tempos atrás). De certa forma, há uma espécie de estratificação social global que separa pessoas "não ignorantes" das "ignorantes". Os "ignorantes" não querem escrever como Saramago e os "não ignorantes" não querem escrever como Paulo Coelho. Se você, portanto, não quer escrever como Paulo Coelho, já sabe que precisa ler muito. Sabe, também, que precisa conhecer muitas (muitas mesmo) palavras do idioma (português, no caso), sabe que precisa de enredos bem elaborados (e não fantasias míticas camufladas de histórias), sabe que precisa de frases bem construídas (e não apenas frases para crianças entenderem), sabe que precisa de bons personagens. Se fez isso, já tem um livro. Mas, o que diferencia um texto do outro? Todos podem pegar um bom enredo, personagens fortes e domínio do idioma e terão um bom livro? Não terão... É preciso saber como encaixar isso dentro do livro, quando descrever um personagem, quando (e como) narrar a história, quando colocar diálogo, quando começar e encerrar capítulos, como direcionar o leitor. Tudo isso é difícil, depende de experiência e de capacidade pessoal. É o estilo do autor e penso que não posso dar alguma dica...

* Contos e crônicas - Muitos dizem que escrever contos parece ser um ensaio para escrever livros. Parece, mas não é. Escrever contos e crônicas é mais difícil, afinal, você não tem tempo para esclarecimentos (o que pode exigir linguagem concisa), não tem tempo para mudar de rumo (e, portanto, não confundir o leitor), não tem tempo para se recuperar (um livro pode valer a pena nas últimas 20 páginas, por exemplo). A dificuldade é maior, há mais regras a serem seguidas. Por outro lado, tudo é mais facilmente controlado, há menos perigo de um personagem se contradizer, por exemplo. A grande vantagem que eu vejo em escrever contos e crônicas é treinar sem medo. Imagine que você passou 2 anos escrevendo um livro e quando mostrou para seu editor ele disse que era horrível. Que frustração, não? Um conto se escreve muito mais rapidamente, se não ficar bom você pode refazê-lo sem grande stress, ou mesmo jogar fora. Não é necessário escrever 300 páginas para ver o resultado final. Sendo assim, embora potencialmente mais complexo que livros, os contos podem auxiliar no processo de formação do escritor.

Por fim, saiba a hora de encerrar o seu texto (não importa o tipo). Nem antes e nem depois. Diga o que tem a dizer, e acabe. Ponto final.

Mulheres em Fúria (Cathi Hanuer) - Sexo, trabalho, solidão, maternidade e casamento. Elas resolveram abrir o jogo!

Homens em Fúria (Daniel Jones) - Amor, perda, paternidade e liberdade. Eles resolveram dar o troco!

A editora Landscape lançou uma caixa com os dois livros acima. Daniel Jones é marido de Cathi Hanuer e resolveu dar a versão masculina em contra-resposta ao livro de sua esposa.

Em Mulheres em fúria (306 páginas, 26 depoimentos), ouvimos as queixas (e elas não são poucas) das mulheres para seus maridos, namorados e amantes. São contos autobiográficos que tratam quase sempre de 3 aspectos na vida de casais: sexo, filhos e dinheiro. Como todas são mulheres bem sucedidas profissionalmente (escritoras, editoras, professoras universitárias, etc) é muito presente o assunto entre casais modernos: quem trabalha para sustentar a casa? Incrível como as mulheres xingam os maridos que ficam em casa cuidando dos filhos enquanto elas saem para trabalhar! Os Homens em fúria (256 páginas, 27 depoimentos), por sua vez, reclamam que as mulheres só pensam em suas carreiras e descuidam dos filhos. E esquecem do sexo, evidentemente.

Embora pareça livros de auto-ajuda para casais, não é isso que temos. Estamos mais próximos daquelas reportagens sobre casais de revistas femininas, geralmente tendenciosas. São histórias pessoas, algumas (poucas) interessantes. A maioria, entretanto, repetitivas e comuns.

Para ir além








Marcelo Maroldi
São Carlos, 11/7/2005

 

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