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Terça-feira, 2/8/2005
Ed Motta ao vivo
Fabio Silvestre Cardoso

Há pouco mais de uma semana, Ed Motta esteve no 8º Visa Búzios Jazz e Blues, onde apresentou o repertório do seu novo álbum Aystelium, junto com o Septeto Euphonico Moderno. Os leitores interessados na apresentação podem ler mais a respeito aqui. Naquela ocasião, até por se tratar de um festival de Jazz, o show estava mais de acordo com um espetáculo instrumental, envolvendo uma maior participação das linhas de improviso e dos músicos nos solos, por exemplo. Um formato bem diferente, portanto, do Ed Motta em DVD, lançado recentemente pela Trama. Nele, logo de início, o telespectador nota um Ed Motta mais adepto às canções, mas que não esquece a importância da música instrumental. É o que se vê na introdução "Dwitza ouverture", na qual apenas a banda atua. Guitarra, contra-baixo, teclado e bateria envolvem o palco com o estilo "poptical" do cantor carioca.

Nessa versão mais cantante, Ed Motta faz mais concessões pop, absorvendo um ritmo dançante das versões de suas músicas. Nos sucessos "Tem espaço na Van" e "Fora-da-lei", por exemplo, há uma clara levada mais funk e soul, tanto por parte dos instrumentos como pelo seu canto mais cadenciado. De sua parte, o cantor parece estar bem à vontade, ora fazendo as vezes de um teclado, ora improvisando novos sons. O ambiente é composto, ainda, por um cenário pensado não somente na iluminação, mas, sobretudo, na indumentária dos músicos, quase todos portando boinas, no melhor estilo vintage. Ainda no que se refere ao conjunto, percebe-se a formação fora dos padrões, com a bateria ficando no lado direito - fato que explica certa equivalência sonora dos instrumentos - para que todos se ouçam.

Embora seja uma apresentação ao vivo, a participação do público só é perceptível graças aos aplausos e aos assovios. Não fosse por isso o telespectador teria a impressão que se trata de uma gravação em estúdio. As tomadas da câmera, nesse sentido, concentram-se muito mais em Ed Motta e na sua banda, não deixando escapar nenhuma expressão facial mais curiosa dos músicos, por exemplo. Tais reações acabam por chamar mais a atenção quando captam o momento de passagem de uma música para outra, como ocorre de "Manuel" (outro hit) para "Vamos dançar" (destaque, aqui, para o virtuoso solo de contrabaixo de Alberto Continentino).

Detalhes à parte, na medida em que o show avança, o telespectador visualiza uma melhor combinação dos músicos de acordo com o repertório, como se eles ficassem à vontade aos poucos, para alcançar um ponto-chave em determinado período da apresentação. Essa etapa chega, propositalmente ou não, na faixa "Falso milagre de amor", que traz um andamento moroso e cadenciado. Seria uma temeridade não perceber que essa canção é fruto de um ciclo que se inicia com "My rules", passando por "Baixo rio" e "Drive me crazy". Em todas elas, Ed Motta sabe explorar sua voz na aposta de contrate com a participação dos instrumentos, principalmente o teclado que, nessas faixas, utiliza a sonoridade de um piano.

Do ponto de vista técnico, Ed Motta em DVD traz nos "extras" (variável chamativa dessa plataforma) dois videoclipes ("Colombina" e "Tem espaço na Van"), além de um mini-documentário sobre os bastidores de em estúdio do álbum Poptical. Dentro do show, os recursos tecnológicos, como outras tomadas de câmera, poderiam ter sido utilizados com mais propriedade a fim de que o DVD ficasse mais "rico" em variedades no seu conteúdo, uma vez que assim refletiria o que há de mais relevante no estilo de Ed Motta.

Biscoito Fino: Bibi canta Piaf

Sobre a música francesa, pairam alguns mitos, que vão desde a fama de ser excessivamente sentimental até o fato de possuir uma longa tradição de cantores populares, como Charles Aznavour e Henri Salvador. Talvez a figura que mais se encaixe nessa perspectiva seja Edith Piaf, cantora-símbolo, ícone, representante máxima de um gênero de canção francesa. A rigor, Piaf, ela mesma, se confunde com a canção francesa de uma época, assim como ocorre com Orlando Silva e o Brasil, embora este não pertença necessariamente ao mesmo estilo. A comparação pode soar um pouco vaga hoje, mais de meio século após a morte desses intérpretes. É nesse contexto que se justifica a importância do lançamento de Bibi canta Piaf, que ora é lançado pela Biscoito Fino. Em 16 faixas, o ouvinte descobre e pode até mesmo sentir a potência - e, por vezes, o excesso - de Bibi Ferreira ao interpretar a cantora francesa. A obra merece uma análise mais aprofundada.

"Eu sou uma cantora barata. Só preciso de um refletor e um acordeom". A frase é da própria Bibi Ferreira, na música que abre o espetáculo. No princípio, há uma preocupação em apresentar Edith Piaf para o público. Pelo que se ouve, não se trata apenas de uma introdução musical ao vivo. Há, sim, toda uma feição teatral com o intuito de envolver o espetáculo. Outro detalhe que marca o disco também está presente em "La Foule", a primeira faixa. Bibi mescla a versão em português com o original, em francês.

De um modo geral, Bibi traz um panorama bem fiel à musicalidade de Piaf, tanto no que se refere ao instrumental como no tocante à interpretação em si. No primeiro caso, os violinos e o já citado acordeom resgatam um pouco da maneira como eram construídas as canções - melodias lamuriosas e com ênfase dominante no trágico. Por outro lado, Bibi parece, mesmo quando canta em francês, imprimir o significado de cada canção, pronunciando cada palavra. É assim com "L'accordeoniste", na qual canta o a trajetória de uma jovem apaixonada: "La vie de joie est seule/ Et tant pis s'elle crève/ Son homme ne reviendra plus/ Adieu touts les beaux rêves/ Sa vie, elle est foutue." A dramaticidade é exposta com os picos de agudo que a voz alcança.

Em "Padam, Padam", é a potência da voz que se sobressai. Num primeiro momento, a música começa tranqüila, com o acompanhamento quase imperceptível, e Bibi à meia voz. Aos poucos, à medida que os versos passam, a canção toma corpo e o crescente dos instrumentos seguem a intérprete com a mesma segurança e contrapartida instrumental. Nesta seleção da Biscoito Fino, as únicas versões que deixam a desejar são duas canções-clichê: "La vie en rose", na qual a cantora opta por uma versão lenta em que os instrumentos assumem uma importância sem necessidade, e "Non, Je ne regrette rien", faixa em que ela não canta e deixa o ouvinte com a lembrança da versão equivocada de Cássia Eller para o Acústico MTV. Ainda assim, no ano em que o Brasil é homenageado pela França, a canção francesa recebe uma grande interpretação de Bibi "Piaf" Ferreira. Sorte dos brasileiros.

Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 2/8/2005

 

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