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Segunda-feira, 12/9/2005
Falar mais o que sobre a crise do PT?
Marcelo Miranda

Não sou a pessoa ideal para falar de política. Não que eu não entenda, até tenho boas noções e acompanho assiduamente o noticiário. Mas é que não é a minha especialidade, não tenho aquela visão ampla e longínqua dos analistas que sabem cada passo dos deputados, senadores e ministros, às vezes prevendo ações exatas ou mesmo sabendo o que fulano comeu no café da manhã de ontem. Digamos que eu seja aquele típico cidadão comum, discutindo com os amigos idéias e conceitos não muito corretos sobre o assunto, mas sempre antenado e querendo saber o desenrolar dos acontecimentos.

Frente a essa crise terrível pela qual o Partido dos Trabalhadores passa no momento, sem dúvida a maior de toda a sua história - com direito a lavagem de dinheiro, propina, suborno, extorsão, sonegação e desvio de verba -, é quase impossível ficar calado ou impassível. Quem ainda não se manifestou sobre o assunto? Qual brasileiro ainda não comentou sobre esse lamaçal de coisas a cada dia mais profundo? A situação tomou uma proporção gigantesca e tornou-se lugar-comum falar sobre o problema. É a nova moda. É cool.

E este é o risco que corremos: o de superexpor de forma tão avassaladora a crise de forma a torná-la simplesmente inócua. Senão, vejamos: lá se vão três ou quatro meses desde o começo dessas CPIs aí em voga. O que aconteceu desde então? Sim, descobrimos segredos até então abafados, descobrimos nomes, valores, empresas comprometidas. Mas alguém foi preso? Alguém foi punido? Alguém foi cassado? No máximo, os petistas poderosos caíram todos (José Dirceu, Silvio Pereira, Delúbio Soares), mais por atitude isolada deles do que por outra coisa. E Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, renunciou ao mandato de deputado. Que eu saiba, é só. Não é pouco, mas está longe do ideal ou do significativo.

Análises e ensaios pipocam pela mídia a todo instante. Qualquer aventureiro se acha no direito de escrever da crise política, todo mundo dá o pitaco. A cada Dora Kramer, Clóvis Rossi ou Franklin Martins que aparece, surgem discípulos de Diogo Mainardi atirando onde não devem. Nesse meio-tempo, as CPIs correm soltas, sem muito critério e ainda brigando entre si pelo controle das câmeras da TV Senado - ganha quem aparecer mais. Até quando? Em que dia veremos um deputado sair de cabeça baixa, cassado por culpa provada? Porque provas, convenhamos, já existem várias, não adianta os presidentes de CPI dizerem que estão esperando confirmações ou "novos documentos chegarem", como parece praxe. Já há nomes, assinaturas, carimbos, notas e o diabo, material suficiente para fazer a limpa no Congresso. Por que isso não acontece? Em meio a tanta gente tão ou mais enrolada na confusão, estão se preparando para tirar o Roberto Jefferson. Palmas para eles. Mas só ele? Expulsa-lo é muito fácil, todo mundo tem rusgas com o cara e morre de medo dele soltar mais podres de gente ali. Ele merece a cassação e vai tê-la, mas não deveria ser o único.

Arrisco um palpite muito exagerado, mas como tudo atualmente anda exagerado, fica valendo: não há atitudes objetivas nas comissões porque isso poderia minar o foco da mídia depois que a poeira abaixasse. Ora, se começam a ser afastados os culpados, quem vai liderar o carnaval que são as CPIs? Se caem os envolvidos, o que vai ser da CPI depois? Vai caçar bichos no cerrado? Matar mosquitos? O que talvez prenda suas ações é exatamente essa superexposição à qual elas estão expostas. No governo Lula isso ainda não tinha acontecido de forma tão intensa. Esses políticos parecem estar maravilhados com tantas imagens suas e dos colegas trabalhando. Se as comissões fizerem o que têm a fazer, vai acabar o serviço, os integrantes voltarão à chatíssima rotina diária do parlamento (serviço três vezes por semana, votações intermináveis, discursos modorrentos) e a mídia perde o interesse.

Sim, leitor, é uma especulação gratuita da minha parte. Como eu disse, não sou ideal para falar de política. Mas no fundo, eu queria entender o que faz esses processos se arrastarem tanto. Alguém tem esperança de que vai tudo acabar bem? Existe algum brasileiro que acredite que essa gente mesquinha sairá do poder definitivamente? Eu queria acreditar nisso. O Zuenir Ventura parece acreditar, e ele é uma pessoa de respeito e opinião muito mais embasada que a minha. Só que a minha crença vai por água abaixo ao pensar em nomes como Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho ou José Sarney. No fundo, nós estamos criando seus sucessores para se perpetuarem lá no topo da cadeia política.

Marcelo Miranda
Juiz de Fora, 12/9/2005

 

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