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Quinta-feira, 11/5/2006
A nova literatura
Gian Danton

Se você quiser conhecer os melhores escritores da atualidade, não tenha dúvidas: procure na internet. É aqui que estão os escritores jovens e inovadores, que têm explorado a telinha do computador como suporte para as histórias. A revolução que se opera agora, com a internet, é equivalente àquelas que ocorreram quando surgiram a escrita e quando foi criada a imprensa.

Na internet, você poderá encontrar escritores do porte de Josiel Vieira, ABS Moraes, Márcio Massula, Jéferson Nunes, Nemo Nox e Bruce Campbell.

Pode escrever: todos os grandes escritores da próxima geração vão ter surgido na internet, pois é ela que permite que pessoas pouco conhecidas revelem seu talento. É um fenômeno mais do que conhecido o fato de que os editores dificilmente investem em novos talentos. Em seu afã de retorno imediato, eles preferem escritores já estabelecidos no mercado, ou, o que é melhor, mortos, pois mortos não cobram direitos autorais.

Assim, a maioria dos novos e bons escritores volta-se para a internet na esperança de conseguirem público e tornarem-se conhecidos.

Mas esse fenômeno é acompanhado de um outro, no sentido oposto: os editores desconhecem completamente a internet. A maioria dos sites das editoras é de uma pobreza franciscana: só um texto explicando o que é a editora e o endereço de e-mail. Os melhores trazem o catálogo da editora e alguns permitem que se compre livros on-line. Não há nenhum atrativo complementar que incentive a pessoa a entrar constantemente no site.

As editoras não oferecem artigos, crônicas ou passagens dos livros como forma de incentivar o leitor a voltar ao site.

Certa vez, conversando com o dono de uma editora, disse que um de meus livros, disponibilizado na internet, havia sido lido por mais de 25 mil pessoas, ao que ele retrucou: "E daí?". E daí que no Brasil um livro que alcança uma tiragem de 15 mil exemplares é considerado um best-seller... Mas, para um editor, se um livro foi lido por 25 mil internautas, isso não é nada demais. Na visão tacanha dos editores, o público de internet não compra livros.

Se é verdade que os melhores escritores da nova geração está na internet, também é verdade que as grandes editoras não estão nem aí para eles.

E eles que se preparem: uma mudança muito maior vem por aí. À medida em que a nova geração de leitores se acostumar com os escritores da internet, vai haver sérias mudanças de comportamento. O conceito de direito autoral, por exemplo, sofrerá fortes transformações. Hoje ter direito autoral sobre uma obra é ter o direito de receber dinheiro por ela. No futuro, provavelmente, terá um significado bem diferente. Numa sociedade que cada vez mais valoriza a democratização da informação, o direito autoral talvez no futuro se reduza a um direito de autoria.

Outra mudança provável se dará na forma da literatura. Toda uma geração está se acostumando com os parágrafos curtos, capítulos pequenos e hipertextualidade dos textos cibernéticos. Os parágrafos curtos são uma exigência da mídia, já que a pessoa só consegue ler o que visualiza globalmente, no caso, a tela do computador. Os capítulos curtos se devem ao fato de que fica difícil parar de ler um livro virtual e marcar a página. E hipertextualidade, se por um lado dispersa, por outro apresenta uma leitura própria. O leitor - como naquela previsão de McLuhan, faz seu próprio texto - através da leitura de diversos trechos (McLuhan fez essa previsão em vistas do surgimento do xérox, imagine o que ele não pensaria da internet!).

Nesse sentido, o mais famoso livro virtual, Subindo na Bala, de Stephen King, não é um livro virtual. Escrito todo em um único capítulo, com parágrafos imensos e nenhuma hipertextualidade, ele só despertou a atenção pelo nome do autor, mas é um péssimo exemplo da nova literatura que está surgindo. É um texto que não se adequava à nova mídia.

Abaixo uma relação de sites interessantes em que é possível conferir o talento dos novos escritores. Agradeço a ajuda de Josiel Vieira, que me indicou alguns endereços e ajudou com alguns comentários:

* O Dialético - Editado por um rapaz de 23 anos, de Cuiabá, autodidata em filosofia. Ele faz um trabalho na raça, reunindo uma biblioteca virtual que engloba livros eletrônicos de filosofia e literatura, de autores clássicos, modernos e iniciantes. A biblioteca dele prima pelo virtuosismo, e assim, sem pretensões está se tornando uma referência. Por exemplo, a maioria das versões eletrônicas dos textos sobre Platão que correm na web vieram do Dialético...

* Ebookcult - Também cheio de livros nos formatos palm/pocket pc/ e-book reader.

* Pijama Selvagem - Publicava crônicas de autores nacionais e estrangeiros. Todos eles conhecidos apenas na internet. O visual divertido e o nome do site davam a tônica: quem gostava de humor, adorava. Infelizmente foi fechado e atualmente no endereço existem apenas informações sobre o que era o site e como foi sua repercussão. O editor, Nemo Vox, atualmente edita o Burburinho.

* Nona Arte - É um site especializado em quadrinhos, mas que publica também pulp fiction. Os pulp fiction eram revistas de baixo custo publicadas nos EUA, principalmente na década de 30. Fizeram muito sucesso e tornaram mundialmente conhecidos personagens como O Sombra, Doc Savage e Tarzan. O Nona Arte publica "A Casa do Terror", com pequenos contos de horror e "Mundo Perdido", com histórias de aventura e personagens fixos. A interessante é ver esses novos escritores, a maioria deles totalmente intelectualizados, produzindo de maneira totalmente descompromissada, preocupados apenas com a diversão..

* Virtual Books - Traz livros virtuais para baixar gratuitamente. Há desde livros técnicos à literatura infantil. É provavelmente a melhor livraria virtual do Brasil. Destaque para os livros de Josiel Viera, um autor que começou na internet e é inédito na literatura impressa. Isso vai parecer egocentrismo, mas também merece destaque a minha série infantil Mundo Dragão, que já foi lida por mais de 500 mil pessoas e, mesmo assim, nunca interessou a nenhum editor...

* Mundo Cultural - Publica artigos, crônicas, livros e informações sobre cultura. De autoria de Fanzan, um bancário que se diverte nas horas vagas produzindo e divulgando literatura.

Gian Danton
Macapá, 11/5/2006

 

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