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Quinta-feira, 25/5/2006 Novos escritores? Onde? Marcelo Maroldi Falar sobre os novos escritores é uma das ocupações prediletas de muitos jornalistas e críticos de literatura. É um assunto "quente". Eu, particularmente, não acredito que tenha algo de muito significativo para dizer a vocês, leitores, mesmo porque entendo que essa é uma das discussões mais tolas em que eu possa eventualmente me meter. Tolas, sim!, primeiro, porque é necessário tomar partido entre as duas opções possíveis (apóia-los ou rejeitá-los) e, também, porque segundo meu humilde e singelo ponto de vista interiorano, escritores novos são lendas urbanas, assim como saci-pererê, ET de Varginha e harmonia em algum funk carioca. Alguns desocupados é que insistem neste assunto... Apoiar novos escritores significa dizer que é necessário admitir que existam novas pessoas que escrevem bem no cenário literário a ser considerado. Então, se existem, onde estão? Cadê as editoras que os publica? Cadê seus textos nos jornais, nas revistas. Não existem. Cadê seus nomes nas bocas dos bibliotecários? Sei não. Se algum novo escritor publica, podem acreditar, provavelmente ele já é do "meio" editorial, conhece algum escritor, tem algum parente lá, namora alguma editora, trabalha com alguém que conhece alguém lá, enfim, essas relações oligárquicas. Ok, não deixam de ser "novos" escritores, afinal, são debutantes, mas, todavia, não se constituem na nova literatura... Os novos escritores, que eu imagino, não chegam as livrarias, nem são recebidos nos corredores editoriais, e, portanto, infelizmente não os considero escritores. É triste isso, mas é verdade. Se o sujeito escreve divinamente no seu blog, ele é um blogueiro, jamais um escritor. Escritor implica, até o presente momento, em ter um papel impresso com seu nome na capa. Blogueiro não tem isso. É possível que em 10 anos esse cenário se altere e tal conceito se torne ultrapassado, porém, hoje é assim que tudo funciona. Escrever em um blog qualquer pessoa com acesso a internet pode fazê-lo, de modo que ter um blog não caracteriza nenhuma habilidade literária ou intelectual. Isso, geralmente, descaracteriza o escritor. O escritor modelo, o tradicional, aquele que se imagina, é um sujeito que escreve melhor do que as demais pessoas, e, por isso, as editoras fazem propostas para que ele publique seus livros. Conheço pessoas descobertas nos seus blogs, mas estes são muito raros. Escritores de web, infelizmente, ainda não são escritores. E, como é lá que estão os novos confeccionadores de textos, não temos, então, novos escritores. Temos novos bloqueiros. Bons blogueiros, é verdade, mas só isso.
Rejeitar novos escritores significa dizer que os clássicos e consagrados são tão bons e tão superiores que os novos escritores devem ser negligenciados em favor daqueles. Muita gente - muita mesmo - pensa assim. Pessoas cultas, sábias, grandes intelectuais, formadores de opinião, etc., não é qualquer tonto por aí que diz isso. Parece-me, ainda assim, uma visão tão boba que eu acredito até que não tenha entendido direito o conceito. Em qualquer modalidade de trabalho intelectual humano, incluindo as artes, a todo momento surgem novas pessoas talentosas. É claro, existem os gênios, que escreveram há centenas de anos e ainda são sensações, mas, se não viesse nada de bom depois deles, é como dizer que o ser humano estagnou, que não pode mais se superar, produzir nada, que o que fizemos já foi o nosso melhor, o que, evidentemente, não é a realidade. Sempre haverá novos bons escritores surgindo (sempre haverá novos "tudo" surgindo). É possível, até, que grandes escritores que marcarão época estejam nesse exato momento começando a escrever, e ignora-los é uma tolice sem tamanho. Com sorte, um dia eles publicarão... Dentre os que publicam - aqueles que conhecem alguém nas editoras - temos uma safra interessante também. E estes também têm uma característica interessante, são grandes escritores superficiais. Apontem-me, por gentileza, um único escritor novo que vai fundo na alma, que cutuca a ferida, que machuca, que conhece o coração e a mente humana. Nunca vi nenhum. Os novos escritores impressos só se preocupam em escrever sobre sexo, em usar palavras da internet, em incorporar modernismos nos seus textos, em serem atuais. Os novos escritores são tão atuais que esquecem de mergulhar nos problemas humanos. Limitam-se a serem bons escritores de histórias de passatempo, não aquelas que vão te perseguir por muitos anos. Limitam-se a escrever sobre o mundo fútil e sobre as relações humanas fúteis que os dias atuais produzem? Cadê um novo escritor que vai me fazer chorar ao invés de escrever sobre sexo virtual? Mas, como não gosto nem de paparicar e nem de descer o cacete nos novos escritores, eu não tenho nada de útil a acrescentar a este assunto. Além do mais, como eu leio livros, primeiramente, por puro prazer, não me importa se o autor é novo, velho ou indefinido. O que me interessa é o que ele tem pra me contar. Quando, concluindo, quero ler algo mais ousado do ponto de vista literário, quando quero me sentir mais vivo, sentir que tem mais gente insana nesse mundo, visito blogs. Quando quero um pouco da literatura "feijão com arroz" (mas sem tempero), que é a nossa literatura atual, compro os novos editados. E, antes que eu consiga esquecer os nomes desses novos escritores sensacionais, alguém aparece com esse assunto, pra encher lingüiça, claro, e impressionar os menos avisados. Já acabei, mas, só uma pergunta: novos escritores podem ser pessoas falecidas 200 anos atrás mas que só agora foram descobertos? Ou "os novos" é somente a nova geração? Mas 200 anos atrás não existiam blogs... Puxa, que diabo são "novos escritores", hein? Eu percebi que não tenho a mínima idéia do que eu estou falando... Marcelo Maroldi |
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